26 de junho de 2014

Professores, uma comunidade (in)satisfeita... as usual.

Não tardará muito para ter manifestação na Avenida.
Depois da notícia de ontem, que dá conta do fecho de mais trezentas escolinhas da aldeia, e porque o Governo é a causa do decréscimo demográfico do interior, que patrocina a desertificação e que desemprega todos os anos quatro mil professores, é mais que certo que os bastidores sindicalistas já se agitam na feitura dos catrapázios.
Agora eu pergunto:
Tu achas mesmo que há uma cabala gizada pelo Governo, para que os casais só tenham um (ou nenhum) filho e que por isso não há alunos suficientes para a imensa comunidade (que se agiganta há demasiado tempo) de professores em Portugal?
Tu achas que qualquer papoila saltitante que sai da faculdade de letras, na área da filosofia, ou da geografia, com média de 11 valores, é capaz de ser professor de alguém? Tu gostavas que esta papoiola saltitante fosse professora do teu filho?
Fecharam 300 escolas. Um horror. Concordo. Mas...
Tu gostavas de dar aulas numa escola, com 7 crianças, todas na mesma sala, duas na 1ª classe, uma na 3ª e quatro na 4ª? A tremer de frio, sem colegas professores com que possas conversar e trocar ideias, durante um ano letivo completo, às vezes 20 anos letivos?
Não era bem melhor dares aulas numa escola cheia de vida, miúdas, miúdos, condições, normalidade? Não crês tu que crianças pequenas ganham mais em levantar-se cedo, ou percorrer a pé um caminho (às vezes lixado), mas que no longo prazo os preparará melhor para a vida e os fará ver que há vida para além dos montes e do curral do porcos lá da quinta?
Tu achas que o Governo tem capacidade para pagar o fundo de desemprego aos mais de quatro mil professores que todos os anos ficam sem colocação? Todos os anos e às vezes vários anos de seguida?
 
Às vezes acho que os professores não querem mesmo é largar mão dos direitos antigos (impossíveis agora de concretizar) e não são capazes de entender, que por mais que queiram ser professores, o país já não tem, nem nunca mais vai ter, condições para transformar num professor, todos aqueles que por motivos vários, não conseguiram encaminhar a sua carreira profissional para aquilo que realmente estudaram.

Não há putos pá!
Querem ir dar aulas a quem?
 

9 comentários:

  1. Num mundo ideal toda a gente teria um lugar no mercado laboral mal acabasse o curso. Num mundo ideal não existirião supranumerários.
    Não vivemos num mundo ideal

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    1. Alguns professores (talvez muitos) viveram num mundo ideal anos sem fim. Só que agora isso acabou.

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  2. Bolas ainda bem que alguém teve a coragem de dizer a verdade. De facto o discurso dos sindicatos tem mais de 30 anos e não faz sentido no cenário actual e como em tantas outras coisas é preciso perceber que o mundo mudou e que direitos e privilégios adquiridos estão a cair. Claro que não há crianças para tantos professores, mas se calhar o que há é professores a mais. As pessoas têm de se capacitar que não podem ser todos professores, porque há 20 anos que não há trabalho (eu entrei na faculdade há 20 anos e já na altura se falava do desemprego para os professores)

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    1. Há professores a mais porque só agora é que o Estado começou a vedar a entrada no ensino de licenciados sem via de ensino. Antes qq licenciado podia ser professor, mas agora não. Mas como em tudo em Portugal chega tarde e a más horas, muitos são "professores" desempregados, e toda a gente não colocada recebe o respetivo subsídio de 'não colocação'.

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  3. Ninguém que saia da faculdade de letras licenciado em Filosofia,Geografia... Tem acesso a um lugar numa escola pública. Portanto, não há perigo em ter os seus filhos entregues a estes professores! Pode ficar descansada, quanto a essa matéria! Contudo, poderá ter como professores dos seus filhos, gente com um antigo bacharelato ou até com um 7ano do antigo liceu... Será o mais certo!

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    1. Olá mmm´s.
      Agora já não acontece isso, mas é efetivamente uma coisa bastante recente. Agora é preciso estudar mais um pouco para ser professor e seguir a via de ensino, ter mestrado etc. Obviamente que existem professores com bacharelato e 7º ano do antigo liceu (ainda) a dar aulas, mas esses são os mais antigos e os que o Ministério 'salvou' do despedimento. Muitos anos de casa, muita experiência, e uma grande indeminização, if you know what i mean. Mas a tónica do texto é sobretudo no facto dos professores exigirem escolas e alunos suficientes para os ter todos a trabalhar, mas isso de alunos é uma coisa que escasseia cada vez mais, e o Estado não pode abarcar tanta gente, nem nas escolas, nem pendurados no desemprego, aliás está fácil de ver que não. A classe dos professores estava muitíssimo mal habituada. Mas é só uma opinião, que não invalida que haja bons professores, que os há.

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  4. *alguém que saia com média de onze valores.

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  5. Isto é tudo muito bonito visto de fora e muito fácil opinar. A verdade é que ha alunos, o que tem acontecido é o aumento do número de alunos por turma. E para quê? Nao é para melhorar o ensino das crianças, é para poderem despedir mais Professores.
    E podia continuar a enumerar os graves problemas da educação mas nao vale a pena....
    É triste que passado tantos anos dessas regalias, as pessoas ainda as continuem a usar como motivo para dizer mal dos professores. Isso ja passou à história ha mtos anos, agora o problema é a Educação! E a educação diz respeito a todos, pais inclusive.
    É muito triste que nao se apercebam disso e lutem ao lado dos professores, pq eles nao estão so a lutar por eles.
    Quem é que no seu perfeito juízo quer ter um filho numa turma de 27 alunos, onde por vezes nem tem cadeira para se sentar, com um professor exausto por ter umas 18 turmas, 500 alunos??? Acham que isto nao é motivo para desmotivacao?

    Se havia professores a mais nao o deviam ter permitido e ter cortado os cursos de ensino logo no inicio.

    E, ja agora, nao entendi pq professor está entre aspas.

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    1. Olá anónimo/a. Começo pelo final. Coloquei professores entre aspas, para identificar licenciados que acabavam os cursos para serem historiadores, sociólogos e psicólogos, mas que não tendo colocação na sua área foram para professores, ou seja, a formação não foi objetivamente para a via de ensino. São professores da matéria dada. Não sabem sequer como encarar uma turma de 3 alunos quanto mais de 27. A minha formação foi maioritariamente dada por este tipo de profissionais. Tenho 37 anos, e nunca me sentei numa turma com menos de 27/28 alunos. E sou de Lisboa. Ñão vejo de fora. Já dei aulas. Exeptuando o meu marido que trabalha na área de formação, todos os colegas da turama são professores. Conheço o meio. O meu patrão foi professor 35 anos. Falamos sobre o tema. Eu lutarei sempre pela justiça social e pela educação. Reconheço o drama dos professores, a indisciplina dos alunos a arruinar o desenvolvimento das turmas em aula, as más condições, o medo. Entendo a desmotivação dos professores? Não entendo. Toda a vida trabalhei uma média de 12h/dia. Tenho 22 dias de férias. Os professores quando escolheram ser professores sabiam que dar aulas é extenuante. Tem por isso períodos de férias extensos, onde o foco do ditúrbio não está presente, os alunos. Lutam constantemente contra os alunos, ora porque se portam mal, ora porque são muitos, ora por que são poucos. Tenho imenso respeito por alguns professores, outros são lixo como professores, como há lixo nos médicos, nos psicólogos, advogados. Considero a classe dos professores muito mimada. O que é mesmo triste já o disse ali em cima a Mirone. Todos deveriam trabalhar com grado e não deveriam haver supranumerários, mas professores, não há alunos e nem há dinheiro.
      Há professores a mais que não deveriam ter sido permitidos, mas também sou contra essa afirmação. O Estado não me pode impedir de tirar a formação que eu quero só baseado na falta de emprego na área que escolhi para me formar (era só o que mais faltava), acontece que eu tenho de ir com a consciência que talvez não consiga ser aquilo, não é depois, quanto tirar um curso cego de saída profissional (como é a educação via de ensino), andar a manifestar-me porque não tenho alunos para dar aulas, ou não há escolas lá na minha aldeia.
      Gostava ainda de lhe agradecer a intervenção.

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