3 de julho de 2014

Áhhhhh a minha infância...

Para quem não sabe, e é bem possível que ninguém saiba, pelo menos ninguém me tem perguntado nada, é que eu tenho histórias muito interessantes para contar sobre a minha infância, e se não desistirem já, que eu bem sei da vossa preguiça para ler posts com mais de 5 linhas, sem bonecos, vão poder testemunhar com os vosso próprios olhos, pois haveria de ser com os olhos de quem, se os meus não vêm quase nada, a dura vida de uma criança, do subúrbio lisboeta.
Então é assim:
Eu, na minha doce infância coabitava com ratazanas.
É. Mas tenham lá calma.
Elas coabitavam comigo, mas tínhamos territórios distintos.
Eu não comia os pombos que elas devoravam à noitinha nos assaltos que faziam ao pombal da minha avó, e elas não comiam os bichos de contas que eu devorava logo que os apanhasse enroladinhos num buraquinho qualquer do quintal.
A familia de ratazanas, uma trupe da pior espécie, tinham mais força que um cavalo, e apesar dos sacrifícios para lhes impedir a saída pelo ralo, (situado no quintal da minha avó, logo ao lado do meu), e onde vinham a desaparecer coisas tão distintas como berlindes, abafadores, alianças de casamento, pedaços do meu pequeno almoço, folhas do caderno de matemática, pedaços do meu almoço, cabeças de bonecas carecas, olhos de peluches e pedaços do meu jantar - creio até, que foi isso que as alimentou anos sem fim - conseguiam levantar a tampa de ferro redonda, e sair para apanhar ar, para comer os pombos, os pneus da minha bicicleta, os cabos das vassouras e alguns pássaros que por ali debicavam as pontas de cigarros que os vizinhos insistiam em oferecer.
Acontece que o quintal da minha avó, e o ralo, começaram a ser pequenos demais para toda uma família de roedores gigantes. Isto sou eu a pensar.
Vai daí, numa certa noite de verão, repastava-se a minha família com uma salada de tomate com atum e tiras de bacalhau salgado, coisa fina naquele tempo, e de grande valor nutricional, uma rata magana sem vergonha, vendo a porta do meu quintal entreaberta, decidiu verificar se a casinha de duas assoalhadas com alcatifa (e televisão a duas cores), era mais confortável do que o ralo da minha avó ou talvez porque lhe apetecesse mudar a ementa, não sei, que disso da alimentação das ratas fiquei um pouco confusa, ou então, e parecendo que não, os pombos acabam por ter um sabor desenxabido....
A minha mãe míope, entretida que estava na risota, nada viu (como sempre) e o meu pai, que só a via a ela, a risada dela e os respetivos fundos de garrafa dela, nada percebeu, e eu, que adorava bacalhau salgado mas naquele dia não tinha lá muita fome, encontrava-me sentada no pial do fogão, a roer as unhas dos pés, como era meu apanágio na minha doce infância, quando dei conta da rata magana a tentar esfocinhar a porta com aquele focinho adorável cheio de bigodes pretos, que me pareciam eletrificados, ou então era dos meus olhos, já nessa altura a carecer de cuidados médicos.
Mãaaeee? Está ali a ratazana da avó!!
Taaaruzz!!
Eu não te disse já, para não chamares ratazana à tua avó?  

É.
Na minha doce infância eu coabitava com ratazanas, e sinceramente não sei de onde é que a minha mãe foi tirar aquela ideia...



* Familia de ratazanas do suburbio lisboeta.
Quem as visse, não as levava presas...

6 comentários:

  1. Achas que exagerei? Oras, tive na verdade uma infância muito feliz.

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  2. gostei :)
    uma boa descrição da infância e muito divertida de ler :)
    adorei o blog *

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    1. Olá Inês :-) Bem vinda ao blog e obrigada. Espero vê-la por cá mais vezes. Um grande abraço!

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  3. Respostas
    1. Ó pah. Almocei tanta, mas tanta vez. A minhã era (e é) miúpe, mas para me acertar tinha dois olhinhos... credo. Biolência.

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