1 de julho de 2014

Até onde nos levará a liberdade de expressão?

Ontem, cumprindo os rituais de segunda feira, que incluíram chegar cansada do trabalho, como se fosse meio da semana,  (absolutamente convencida que alguém, por qualquer sinistra distração, me tinha colocado dentro de uma máquina de lavar, juntamente com a roupa branca),  abri a porta de casa, já a gata que trazia pelo rabo vinha caminhando sozinha, e atirei-me para cima de uma cadeira da cozinha, ainda com a mala a tiracolo.
Deveria, ao invés de ficar com os olhos presos numa luz fosforescente, com pena de mim própria, deitar-me na cama e dormir.
Mas não.
Fui-me pespegar em frente ao computador, como se não tivesse lá estado já o dia inteiro.
Abri em primeiro lugar, e fiz mal, o Público.
Como é óbvio, eu também sei que o André Bessa, filho da jornalista Judite de Sousa, faleceu, e que a mãe sofre, desmesuradamente e infinitamente, a morte daquele filho.
Também sou mãe. Também sou filha.
Mas o que eu não achei óbvio, nem sequer aceitável, nos colegas de profissão da mãe enlutada, que lá do fundo buraco negro onde se encontra, ainda teve a capacidade de lhes dirigir um pedido de recato para os tempos do futuro, logo às primeiras horas da morte do seu único filho, (elevando-os assim ao máximo da importância, no atualíssimo drama nacional), foi a atitude indecente e de brutal aproveitamento, desses que se dizem jornalistas, colegas. 
Mas os jornalistas, pertencem já a uma 5ª dimensão, e com a mão no peito e punho fechado, calcando sem pejo a dor dos que sofrem, tinindo de soberba agora que se acha findo o monopólio da opinião, cumprem o pesado dever de divulgar e dar a conhecer no seu jornal online, o filme do velório do rapaz.
Enterrei-me na cadeira do escritório.
A minha cabeça rodopiou na força da corda.
Os jornalistas estão virados do avesso com os olhos de fora, esganados, digo-vos eu, escrutinando a dor, a morte, o acidente, o drama, a infelicidade, como hienas que se riem enquanto comem o sangue putrefacto dos animais 'seus amigos'.
Numa frase absurda, pude ler que tudo não passa de aproveitamento da própria mãe para fazer subir as audiências do canal, agora que o Mundial acabou (para nós) e descem as audiências.
Onde estão com a cabeça?
Onde os levará a liberdade de expressão?
Onde querem chegar?
 
Ontem, cumprindo os rituais de segunda feira, que incluíram chegar cansada do trabalho, como se fosse meio da semana, fiquei absolutamente convencida que alguém, por qualquer sinistra distração, me tinha colocado dentro de uma máquina de lavar a roupa, juntamente com qualquer roupa negra.
Como a noite.
 
 

4 comentários:

  1. "(...)Numa frase absurda, pude ler que tudo não passa de aproveitamento da própria mãe para fazer subir as audiências do canal, agora que o Mundial acabou (para nós) e descem as audiências.(...)"

    Não sei como qualificar isto...
    A sério.

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    1. E não é só a frase que é absurda, é todo um desenrolar das notícias. Juro-te que deixei descair o queixo...

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  2. é um universo putrefacto; estão qual hienas à procura da presa com os dentes bem arreganhados. não há contemplações, o negócio acima de tudo!

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