16 de outubro de 2014

És o ser vivo, mais vivo que já conheci.

Olá pequena!
Um abraço, pois vá lá, que eu sei como tu gostas.
Mas sabes, encurvas-me as costas,
por seres tão pequenina,
e eu sinto-me desajeitada nos teus braços, mas tu sabes tudo dos meus precalços,
tu sabes que sou fria.
Pois claro, a seguir é o beijo, dá-me lá um beijo, se é isso que queres,
mas só um, que eu bem sei que tu és como as mulheres que se cansam por dar dois beijos,
especialmente aos cabeçudos que não vivem no jardim,
andam antes por aí, a bater com as cabeças.
Anda lá se é isso que queres, mas agora não me aborreças,
sabes que não gosto dessas tretas, de tias esticadas e enfermiças, sempre agarradas às missas.
Mostra lá. Faz lá a tua voltinha, pousa aí no canto os sacos,
e mostra-me lá os sapatos, e as travessas que já não usas.
É melhor fechares a porta, talvez sair do corredor,
anda lá, vem cá comigo, hoje não está o sôutor.
E essa saia tão curta, onde a foste encontrar?
Ah, já percebi, foste comprá-la de atacado, aos chineses do mercado.
Mas não te fazem alergia?
Queres lá saber de comichões, se estás nessa alegria.
Que relógio trazes tu? Bem bonito sim senhora, e vai bem com as Melissas,
e as cobiças, que não te largam.
Larga as velhas da igreja, senta-te aqui ao pé de mim, conta-me tudo, que tu sabes,
aqui não moram invejas.
E que disse o Presidente? Achas que é boa gente? E sempre gostou da obra?
Tem cuidado minha pequena, voltinhas só aqui, ou escondida no jardim,
não lhe ponhas a cabeça à roda,
que os teus beijos são rosas, para plantares noutro jardim.
És tão viva e tão pequena, pareces uma princesa morena, que veio dar à minha costa.
Falas tanto e tão depressa, mas não te percas na novena, que este mundo já não gosta.
És uma artista desta vida, não te quero aí perdida, não te quero ver tão torta.
Respira fundo e pensa assim:
sou uma rosa do jardim, e agora que estou viva,
viva estarei enfim.
Sou o ser vivo, mais vivo que já conheci. 

Para X.
Com amizade.

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