5 de novembro de 2014

Estamos todos cheios de dedos para tocar no assunto, mas: há licenciados a mais em Portugal?

É para mim uma questão magna, a que coloco como pergunta de partida.
Tenha absoluta certeza, e seria mesmo capaz de escrever uma tese sobre o tema, com amostra qualificada de três grupos sociais totalmente diferentes entre si, que uma grande fatia dos portugueses, nomeadamente os que se viram traídos pela expectativa licenciatura = emprego, ou os que pagaram para ver a falácia filhos formados = filhos empregados, ou ainda os que não tiveram a oportunidade (ou o querer) de se formarem superiormente, que a resposta é um grande e redondo sim.
Oiço, praticamente todos os dias, conversas nesse sentido, de que há doutores a mais, que deviam eram ser calceteiros, eletricistas e essas profissões técnicas que fazem avançar o mundo, ao invés de andarem nas faculdades, a gastar o dinheiro dos pais, a divertirem-se com as praxes e a perderem tempo de vida com coisas sem interesse absolutamente nenhum, além de para eles próprios naquele espaço de tempo.
Mas na verdade, as pessoas que dizem estas coisas, desarmadas que foram pela vida, não conseguem perceber, como não conseguiram perceber quando votaram no Salazar para melhor português de sempre, que sem formação, sem literacia e sem informação, não chegamos efetivamente a lado algum, e se não formos suficientemente evoluídos na nossa formação, seremos ultrapassados por outros países que nos tornarão, como quer a Merkel, sulbalternos-pobres-dependentes.

O grande erro destes portugueses, erro crasso, é pensarem na formação superior - ou mesmo secundária - como sendo dispensável ou como tendo uma única finalidade: a empregabilidade. 
Não conseguem perceber que uma licenciatura não serve apenas para arranjar emprego, que também serve, mas serve outros propósitos, mais altos e mais prazeirosos do que o trabalho.
Serve o prazer de ser culto, de saber comunicar, de saber contestar, de saber votar, de não se deixar enganar, de saber o que se passa no mundo, para através dessa sabedoria e desse conhecimento, conseguir posicionar-se num mundo cada dia mais competitivo onde o saber é o único que ocupa lugar.
Saber viver. 
Um povo burro e sem formação, é um povo sem futuro.
E dos fracos (de espírito) não reza a história.

Bons estudos.

10 comentários:

  1. Quem diz isso não conhece isto: http://www.jornaldenegocios.pt/economia/educacao/detalhe/ocde_portugal_ainda_tem_de_investir_na_qualificacao_da_populacao.html

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    1. Olá Carla, e obrigada pelo link.
      Estou a dizer-te que as pessoas (a maioria) nem sequer sabe o que é a OCDE, quanto mais ler jornais com coisas sérias...
      Mas depois as vacinas e as operações e a sida e o cancro, quem trata são os que andaram a estudar e a perder tempo nas faculdades.
      Duas pesos, duas medidas.
      Pois...

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    2. É aquela espécie de recalcamento que atesta o nível de frustração - ou, como diria a outra, frustracional - das pessoas que no fundo também queriam e, por uma série de razões nem sempre alheia às próprias, não conseguiram.

      Posso dizer-te até que um dos motivos por que terminei uma vez um namoro foi exactamente por isto, por eu ter duas licenciaturas e ele não ter nenhuma. Não é que eu ande a enfiar os canudos pelas vistas das pessoas a dentro, mas também não posso viver como se não os tivesse. A certa altura, manifestar a minha opinião era «um vício de profissão», pensar era «mania de professora» e por aí fora... E dizia ele que gostava de mim.

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    3. 'enfiar os canudos pelas vistas das pessoas a dentro' é mil vezes melhor do que ter alguém a atirar-nos areia para os olhos e nós sem perceber nada.
      Totalmente de acordo.
      Há uma inveja encapotada, miúda, mas inveja, nesse tipo de pessoas.
      Eu se pudesse voltaria a estudar. A minha sede é de aprender. Gostava de saber tudo.

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  2. Uva, o que há é gente a mais DE FORA a opinar sobre os nossos assuntos internos. E governantes, internos, a deixar sair pessoas qualificadas que mais ano, menos ano, serão necessários cá. Mas nessa altura já não quererão voltar. Aliás, é o que se passa com quem se vê obrigado a sair. Enfim...faz parte da nossa condição de Europeus de segunda.

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    1. Eles opinão porque se acham superiores, e ai de nós que tentemos ser um pouco melhor com os estudos e com a formação, que v~em logo dizer para baixar-mos a bolinha que o guarda redes é anão. Querem subjugar-nos, ter-nos na rédea curta para depois nos usarem a seu bel-prazer. Esse alemães são uma nódoa.
      Mas portugal sempre foi assim, este lambe botas da Europa. E veja-se que bom que é ser lambe botas: ainda ontem se condecorava o pior deles todos. O nosso amantíssimo Cherne-nobil.

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  3. o "self-made-man" é uma imagem muito querida a partir dos anos 50 do século 20. As duas guerras, não permitiram aquando do intervalo entre si, um grande boom da espécie, embora, existam desde sempre. São os tais empreendedores. Depois, foi vê-los crescer e a serem acarinhados. O pós guerra permitiu, "lá fora " que acontecesse esta explosão, não deixando, no entanto, de se terem preocupações quanto à formação superior. Até aqui nada de mal. Por cá, a massificação ao nível do superior dá-se depois do 25 de abril. Por cá continuou a pensar-se que esta cultura do "faz-te a ti próprio" bastava para fazer crescer uma sociedade no caminho do desenvolvimento e prosperidade. Com o 25 de abril, dá.se a massificação da entrada no ensino superior, e com muitos erros à mistura: Só um exemplo prático: a universidade e os politécnicos andaram, e andam ,na maioria dos casos, de costas viradas com as empresas, e as pessoas continuam a não valorizar o saber, mesmo que, apenas queiram ser canalizadores. O que se investe num curso tem de ter retorno; material, cultural, se puderem ser os dois, melhor ainda. É uma questão muito complexa que não se esgota nos argumentos da sra. Merkel, nem na contra argumentação do ministro Crato. Isto que aqui escrevo não acrescenta nenhuma mais valia à discussão, é só mesmo um desabafo, e como se diz muito agora "vale o que vale"!

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    1. Vale e muito. Como dizia a Pseudo ali em cima, o problema é que esse retorno que tu falas não existe. Formam-se cá, gastam cá o dinheiro destinado a formar para o futuro, e depois o retorno é inexistente porque vão trabalhar para fora com a formação que receberam cá dentro.
      Por isso somos um país cada vez mais pobre e dependente dos outros para tudo.
      E qualquer dia a massificação da escola vai acabar porque só as classe mais ricas terão dinnheiro para estudar.
      Depois aparece um Salazar qualquer e pronto.

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  4. Os ignorantes são mais fáceis de manipular! E a Sra. Merkel vive num país onde as criancinhas sofrem triagem bem cedo, sendo empurradas para cursos profissionais quando não atingem determinados objectivos. Como se aos doze ou treze anos fosse possível determinar que aluno se vai ser! Quem não se lembra dos que eram alunos excelentes até ao final do ensino básico e depois não foram capazes de se aguentar no secundário. Enfim!! Ainda por cima, agora temos que ser todos empreendedores e patrões! Gostava de saber quem vai trabalhar para tanto patrão, já agora! Por falar nisso, onde andará aquele sr. de Braga que mandava "bater punho"?

    Beijinhos Marianos, Uvinha! :)

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    1. Há tantas coisas mal que ninguém quer tocar. Estamos cheios de dedos para coisas demais Maria, coisas demais.
      Já estava com saudades tuas.
      Como estás tu miúda?

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