Welcome to the jungle!

Levanto-me da cama quase sempre às 7.30h.

Enquanto não me curo - coisa que parece suscitar a toda a classe médica uma esquizofrénica e insondável estranheza - o meu primeiro pensamento, ao acordar, é quase sempre seguido de um arrepio de frio. 

E, é só nesta situação muito particular, que me convenço que o frio pode ser psicológico. 

Podereis pensar que me deito nua, ou que travo longas e desordeiras batalhas noturnas com as mantas que me cobrem a silhueta, destapando-me, mas asseguro-vos que se há pessoa que se mantém imóvel e se acasalha até à testa, mesmo que no quarto se verifique uma canícula insuportável, essa pessoa sou eu, a Uva.

Mas como ia dizendo, que o post é sobre a sociedade atual, e não querendo afastar-me muito do tema, senão já se sabe, não tarda estou a falar sobre minhocas, eu até que gostaria de vos presentear com um post inteirinho sobre o meu acordar, numa dessas cozinhas tão brancas e luminosas que chegam a cegar uma pessoa, onde vos descrevesse uma Uva muito prazerosa, numa camisa de linho impecavelmente gomado, como se dormisse de pé, aquecendo as manitas e a alma num copinho de leite muito quente, que lhe soubesse pela vida.... só que não.

Há muito que me proibiram o leite e que o meu acordar é frio e desconsolado. Como um arrepio.

Engolir num copo odioso, meio litro de água fria, lá com um nível de PH que os médicos dizem ser mágico, e tragar oito ou vinte comprimidos, sei lá eu quantos são, do tamanho de caracoletas, é o mesmo que me prantar na varanda, descalça, acabadinha de sair do vale-dos-lençóis-polares para apanhar a orvalhada fedorenta do subúrbio.

E hoje.... hoje o arrepio foi mais intenso. 

Além de me encontrar gelada no espírito, e na garganta, e depois de engolido um mar de água (que por pouco não era salgada), secou-se-me a boca.

Na televisão, a imagem de um canil. 

A câmara, que filmava uma senhora respondendo a perguntas, focava ocasionalmente os olhos enormes e derrubados de um cão, suponho que abandonado.

- Sim, recebemos muitos animais abandonados. Mas o pior nem é isso. Veja que há uns meses atrás tivemos aqui uma senhora que nos adotou um cão. Voltou com o animal pela trela. Veio devolvê-lo. 

- Devolvê-lo?

- Devolvê-lo não é a palavra certa. O que me disse foi: desculpe, adoptei este animal aqui, mas como cresceu muito, vinha perguntar se podia trocá-lo por outro mais pequeno!

Levanto-me quase sempre às 7.30h.

Mas enquanto não me curo destes ANIMAIS, o melhor é ficar na cama.

Reflitamos.