7 de janeiro de 2015

A Renúncia

A sensação de experimentar pela primeira vez, de fazer a coisa nova, de criar de novo, traz sempre uma aura onde se plasma o domínio do positivo sobre o negativo. 
É como se o que fazemos de novo, e pela primeiríssima vez, viesse com uma etiqueta de Deus a dizer simples palavras: boa-nova.
Na verdade, ou antes, na realidade, a coisa que se faz nova nem sempre se envolve no manto da bonomia, do sentimento prazeroso, ou acolhedor, que sempre acompanha a novidade, alegre.
Se eu matar pela primeira vez, ou se ferir pela primeira vez, é certo que o contentamento vem tisnado de mágoa, de arrependimento, mesmo que se tenha experimentado uma grande ansiedade de acabar com tudo.
Depois, e sei-o profundamente, não se matam sentimentos, muito menos os maus sentimentos, os ódios, que de todos, são os que mantém a ligação mais duradoura.
Devemos acabar com tudo, aceitando, que o mal só acaba se vier por bem.
Hoje foi o dia. 
Hoje deu-se a estreia; hoje entrei no plateau e disse adeus. 
Foi a primeira vez que o fiz.
Renunciei.
Tinha um direito que era um dever, tinha um direito que era poder, poder fazer, poder delegar, poder decidir, negar, assumir, capitalizar, acabar, recomeçar, aparecer, opinar. Ser, ser maior.
Tinha o poder todo, e todo o poder não me bastou, porque estranhamente todo o poder era demasiado para mim, todo o poder detido era maior do que eu, soçobrava, era quente demais, pesado demais. 
Renunciei e fi-lo pela primeira vez.
Deixei no meu rasto a ferida aberta, a inércia, a garganta sedenta, a fome imensa.
Há efetivamente uma primeira vez para tudo.
Fui falha.
Tenho de assumir.
Fui falha, sobretudo por saber que se voltasse a fazer, falharia de novo.

Recomeçar.
Sim.
Agora do lado certo.



4 comentários:

  1. Foste foi corajosa.
    Para fazer pela primeira vez, é preciso coragem. Para falhar e assumir a falha, é preciso coragem. Para recomeçar, mesmo que de outro ângulo, com menos probabilidades de falhar, é preciso coragem.

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    1. Já pedi desculpa, mas isso não me liberta da falha de ser falha.
      É uma falha na verdade.
      Renunciar a um direito é coisa pouco vista.
      Ando sempre do lado do avesso.
      Raios!

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  2. Estou como a Linda Porca, é preciso ter coragem, não só para tomar a atitude, mas também para o vai vir depois. Mas já está! Não estas ao mesmo tempo aliviada?

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    1. Não nego que o fardo era pesado, mas se o assumi supostamente deveria levá-lo a bom porto.
      O problema maior foi o de falhar ao próprio poder, que me foi transmitido por unanimidade e sem reservas. Apostaram o jogo em mim, e eu, no memento do penalti, pimbas. Ao lado.
      Sabes aquela coisa, que toda a gente lá no intimo já pensou um dia, de ' se fosse eu a mandar' assim e assado?
      Nem assim nem assado. Isto de mandar tem muito que se lhe diga.
      É de arrancar os cabelos.

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