8 de janeiro de 2015

Alhos com bugalhos

O que realmente me incomoda, e o que realmente depreendo de tudo o que li sobre o ataque de ontem, e foi muito, é que as pessoas que escreveram sobre o assunto, resolveram (quase todas) achar que é pró-terrorista, pró-fanatismo, e pró-extremismo (ou a favor dos que ontem ceifaram a vida a 12 pessoas) os que acham que a liberdade de expressão tem os seus limites.

Porquê? 

Vou mergulhar no assunto e já cá volto.

15 comentários:

  1. Acho isso precisamente. Do meu ponto de vista existem dois temas, sendo que é absurdo dizer que se pondero limites à liberdade de expressão (alhos) então é porque sou a favor da violência(bugalhos)... NÃO!

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    1. Eu sei que me vão crucificar e que vão dizer que frequento as aulas do Gustavo Santos, mas também eu pondero (e dito desta forma até dói menos) limites à liberdade (de expressão, artística ou outra) dos outros e da minha própria. Ultrapassar os limites da liberdade não implica e não justifica o ato de violência, mas é no mínimo hipócrita dizer que estamos todos de acordo com a liberdade de expressão selvagem, que prolifera, desde que ninguém sofra as consequências. As consequências é que são limitadas.
      Ando às voltas com isto, não sei como hei-de explicar, mas talvez assim: sou a favor da não violência da expressão. Expressem-se todos e muito, sobre tudo, mas sem agressão, sem violação das liberdades e garantias dos outros.
      Se estavam a pedi-las, os cartonistas? Não.. não sei... julgo que não, não... mas que testavam esse limite todos os dias sim.
      Tenho toda a liberdade para meter a mão na boca do cão, atiçar o cão, estrafegar o cão, as vezes que eu quiser, mas ao cão, que embora me queira morder, que quer, (e se conseguir vai morder), deve ser limitada a liberdade de morder. Estranho ver assim, mas se calhar o melhor é eu não meter lá a mão.
      Mas há quem diga que não, que eu posso e DEVO atiçar o cão de todas as maneiras, e a isso chamam liberdade de expressão.
      A prova infelissíssima é que não somos livres, seja que tipo de liberdade for.
      Tenho de pensar melhor sobre isto... talvez esta não seja a minha última conclusão. Isto requer pensamento e ponderação.
      É que por outro lado sem liberdade de expresão não há democracia, e isso não posso admitir.

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    2. Uva, mas eu não vou por aí. Usando o teu exemplo, o que me parece digno de ponderação é se eu tenho ou não direito a maltratar o cão, ou seja, devo-lhe ou não esse respeito? Decidir se o maltrato ou não em função das consequências, ou seja, temendo que ele possa atacar-me, é que não! Percebe-se a diferença? Só considero legítimo que a minha decisão seja respeitar o cão enquanto o respeito for um fim em si mesmo.

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    3. Percebo perfeitamente que a liberdade de expressão não pode ser limitada pelo medo. É isso que queres dizer?

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    4. Sim, é isso. Não pode ser esse o critério.

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  2. Mais: se admitir que a liberdade de expressão possa ter os seus limites (a liberdade só existe enquanto limitada, não existe liberdade absoluta, isso é outra coisa!), e friso SE ADMITIR, isso não coloca necessariamente a questão da censura (do tipo pidesco), como querem também fazer-nos crer. Se existem leis que me condenam se eu matar, devo então dizer que não sou livre para matar quem eu quiser? que estão a censurar-me?... Trata-se de uma parvoíce, certo? A tragédia de ontem levantou uma lebre, mas esta podia ser escalpelizada em qualquer outro momento e sob qualquer outro pretexto, aliás, o tema não é novo e tem sido debatido. Mas daqui não resulta que, CASO eu considere que a liberdade de expressão deve obedecer a certos limites, então aprovo que a punição a aplicar a quem os excede é o tal balázio nos cornos. A tragédia de ontem, atrevo-me a dizer,não tem nada a ver com a liberdade de expressão!

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  3. Eu entendo que a liberdade de expressaõ tem limites e repudio os homicídios de onte e o que quer que seja que os tenha motivado (fanatismo, desejo de vingança, falta do que fazer, desequilíbrio, ajuste de contas, tomada de posição, ...). A questão que se põe é saber o que é que deve limitar a liberdade de expressão. O bom senso, o medo, a ética, a moral, a sensibilidade de cada um, etc.? Para isso é que tenho dificuldade em encontrar uma resposta cabal. Haverá sempre uma excepção e uma excepção à excepção, depois outra, e os limites uma vez definidos tenderão a ser ultrapassados ou reequacionados.

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    1. A LEI Mirone. Só a LEI pode limitar a liberdade de expressão. É a minha conclusão.

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    2. Sendo que a lei não é um cogumelo (mas algumas são verdadeiros fungos) alguém terá de a fazer. E em que se baseará? Na sensibilidade, na ética, na moral, ...?

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    3. Vai basear-se por um lado na Constituição, e depois pelo crivo das várias comissões, submetida à sanção ou veto de quem está eleito para tal.
      As leis são feitas pelos homens, é um facto, mas partimos do princípio que são na generalidade justas. Se a liberdade de expressão não tivesse os limites da lei, as execeções, então a liberdade seria a anarquia, porquanto cada um se podia expressar livremente (até no ódio e na violência) sem atentar as liberdades dos outros.
      Fazer um cartoon com uma sátira a Maomé não é crime, logo a liberdade de expressão não é aqui chamada ao barulho.
      Liberdade de expressão sim, mas com as devidas execeções protegidas pela lei.
      É a minha última conclusão ao tema.

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  4. Tenho outra teoria:

    A LIBERDADE DE EXPRESSÃO NÃO TEM LIMITES, NÃO PODE TER LIMITES.
    MAS TEM EXCEÇÕES!
    E as exeções são o que é inequivocamente limitado pela lei, como sendo crime.

    Não há nada absoluto.
    O direito á vida é absoluto?
    Não.
    Se eu agir em legítima defesa, o meu direito à vida sobrepõe-se ao direito do outro, logo o direito dele à vida não é absoluto.
    O mesmo com a liberdade de expressão.

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  5. o que eu vejo é uma desproporcionalidade grotesca entre fazer-se um caricatura ou sátira e responder com fuzilamento. e é isso que acho inaceitável de quem usa argumentos "a la Gustavo" ou quem acha que "they had it coming" ou em português "quem anda à chuva molha-se". sentiram-se ofendidos? respondessem com caricaturas ou sátiras próprias. contratassem uma equipa de advogados e metessem a redação em tribunal. fizessem uma manifestação à porta da redação. Mas fuzilamento? Estamos a brincar ou quê? Não há aqui qualquer apologia. Nem há volta a dar. É tão desproporcional a resposta dessas bestas fanáticas que nem há discussão possível sobre "excesso de liberdade de expressão".

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    1. Sim é grotesco Pés.
      A verdade é que anda toda a gente a falar sobre liberdade de expressão quando isto é assassinato puro e duro.
      É inaceitável.
      No entanto o Gustavo tem inúmeros seguidores, justamente os que consideram fundamental os limites à tal liberdade de expressão. Não quer dizer que aceitem o terrorismo, simplesmente uma coisa não implica outra.
      Um abraço Pés, de bom ano!

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    2. Abraço Uva, e um bom ano para ti. 😊

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