1 de janeiro de 2015

Em chegando ao fim...

"O que faço, em chegando ao fim, é cerrar os olhos e evocar todas as coisas que não achei nele." dizia Machado de Assis sobre os livros.

Todos sabemos que o sofrimento, o drama e a tragédia vertidas num livro, é o que faz dele Literatura. As boas memórias, o pardacento dos dias, os amores perfeitos, as estações sossegadas onde nada acontece senão o cair da folha, são uma náusea, um enfado e uma bela perda de tempo para os espíritos tumultuosos e ávidos de ação, que somos Nós.
A vida não é um romance de cordel, a vida não é essa literatice que vemos passar nas novelas, com ar complacente e distraído, enquanto, e por outro lado, e por todos os lados, nos atiramos com tudo o que temos, sangue, suor e lágrimas, para aquilo que é falho, para aquilo que almejamos e não alcançamos, para o difícil (e impossível) que é sobreviver à vida. 
A vida é na verdade Literatura, e é aqui que começo, e é deste exemplo que parto. 
O meu desejo para o novo começo é uma antítese, é um não-desejo.
Quando peço, de olhos cerrados, crente, com a fé metida em mim, comprimida em mim, dependente de mim, naquele que é o mais alegre e festivo fim, não é algo duvidoso, imaterial, etéreo. Isso seria relapsar e deixar fugir as poucas forças que conservo no final, para algum sítio que não sei onde é.
E não me quero perdida.
De que me serve o pedido de saúde, se não sei ainda viver saudavelmente. 
De que me serve o pedido de paz, se o que faço é lutar todos os dias.
De que me serve o pedido de amor, se acolho, como acolhe a Literatura, o drama, a luta, o rancor, a depressão, a desilusão, o inóspito.
O que o bom escritor faz para chegar ao final da sua obra-prima, não é acrescentar parágrafos e frases inúteis, pedidos, termos, citações e enganos.
Toda a gente sabe que as resoluções fingidas são as letras miudinhas que ninguém lê.
O bom escritor sabe, e sabem também os bons leitores, que a urgência é cortar, emendar, apagar, se preciso páginas inteiras, capítulos inteiros, histórias inteiras, talvez aventar mesmo alguns personagens, cortar com protagonistas; o bom escritor sabe que o desapego às coisa materiais, que é como quem diz, às suas letras, vírgulas e pontos finais, e à troika literatice chamada felicidade-paz-e-amor, deve ser questionada, porque a vida não é esse génio da lâmpada que nos concede os 3 desejos...
Mas então... e a esperança?
Não espero nada da esperança, já o disse,  mas imagino que naqueles instantes mais sombrios, a Vida, que é um génio em si mesmo, um génio com várias lâmpadas ao invés de desejos, me ilumine o caminho.

A luz para o caminho.
É essa a minha luta.
O resto encontra-se, na justa medida das nossas forças.
E na comédia, que é tal como na Literatura, o descanso do grande guerreiro.

4 comentários:

  1. Nas nossas mãos, o caminho para o futuro e o futuro é agora. Muita luz para o teu caminho, Uvinha, tu mereces!

    Beijo.

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    1. Nas nossas mãos, o caminho...
      Está tudo dito.
      A luz está dentro de nós. Não vale a pena pedidos alheios.
      Que do nosso lado caminhem os melhores, e se não puder ser, que sejam então os piores a levar a pesada candeia.
      Merece(mos)!

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  2. Novo ciclo a começar. qQe nos apanhe com coragem suficiente para levar a caminhada a bom termo.
    Janeiro já cá está. 2015 já chegou. Vamos lá ter em conta que isto tem de ser um dia de cada vez. :))

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