Tu desapareces.
Parece uma coisa um bocadinho mórbida, aquela que eu acabei de escrever, aliás, é absolutamente escandaloso que uma blogger com a minha notoriedade, lida e seguida por milhões de pessoas por esse mundo a fora, possa vir com tamanha leviandade, com total ausência de compaixão para com as mães que acabaram de parir, dizer uma coisa com este peso, com esta maldade, afirmando perante tão dedicada plateia, que tão logo lhes nasça o bebé, tão certo se eclipsa a mãe.
Atentai que este post demorou uns bons três segundos a ser gizado, não é uma porcaria qualquer, é uma coisa pensada, estudada, e sobre o qual há provas absolutamente irrefutáveis.
Vejamos o meu caso.
A Uva Passa teve o seu momento de glória, não durante a juventude - quando se passeava loira (verdadeira) e sem maquilhagem, com os seus 50 quilos mal pesados, na savana do recinto escolar - mas sim durante uns meses, em que redonda como uma lua, cheia de 'pano' e grossas coxas, rebentava pelas costuras, pelos bolsos e por tudo o que era roupa, conduzindo um carrinho-de-mão, onde depositava com fé, dois melões copa H.
O seu tempo de glória, onde chegou até, na loucura, a perder um dente, elevou-a a um nível nunca antes visto, nem mesmo ao nível bombástico verificado durante a festa do copo-de-água, quando se lembrou de fazer streaptease com a gravata do homem da banda, já depois de ter perdido os sapatos.
Nessa altura, a quem todos chamam 'esperanças', a Uva Passa era o centro da atenções. A sua barriga imensa, era uma cartão de visita onde quer que entrava.
Um rodopio de gente, um galanteio cerrado, uma atenção desmedida para com a gorda mamalhuda, de perna aberta, cu grávido e descaído, tão marreca quanto descabelada.
Aquele momentozinho delicioso que já não tinha desde os 10 anos de idade, quando chegava a casa, já o sol desaparecera há muito, toda cagada e cheia de lama até aos dentes, e mesmo assim era beijada e abraçada pela mãe-lapa, que me procurava desde as 10 da manhã, regressava como que por magia nessa época tão feliz, e ai que estás tão bonita, e ai que linda barriguinha, e ai dá cá um abracinho, e ai a mãe limpa, e ai a mãe faz, e ai a mãe trata.
Ai ai, dizem bem.
Ai, ai...que que logo que me rebentaram as águas, e põe um ai nisso, rebentaram comigo.
Eclipsei-me no exato momento em que expeli um ser careca, de nariz esborrachado, roxo, e que nem dentes tinha. Quando me foram visitar à maternidade julguei mesmo que tinha morrido, tal foi a sensação de ausência e de desprezo que aquelas pessoas, outrora minha família, a minha própria mãe, céus, me dedicaram. Eu ali toda escafiada, toda recosida, com umas mamas a rebentar, a precisar de fotografias tanto, mas tanto, e nada. Desapareci repentinamente no firmamento da mães parideiras, e nunca mais nada foi o mesmo.
Ainda hoje quando ligo para a minha mãe, a primeira coisa que ela pergunta é da neta; se entro em casa a primeira coisa que faz é agarrar-se à neta; à mesa serve primeiro a neta; beija sempre primeiro a neta; dá presentes (e dinheiro) à neta.
E eu? E nós?
Será preciso fazer um cartaz a dizer 'MÃE ESTOU AQUI', de cada vez que lá vou jantar a casa?
Querem acreditar que no primeiro álbum daquele ser careca, de nariz esborrachado, roxo, e que nem dentes tinha, a mãe, que sou eu, EU!, apareço SEMPRE de cabeça cortada, a servir de pedestal à menina?
Querem lá ver que tenho....
Ai, ai.
Ahahahahah! Verdade, verdadinha! E acrescenta ao ser mais um adjectivo: berrador!
ResponderEliminarBeijocas, Uvinha. :)
;))))))
EliminarAhahahahahah adorei :D (lá em cima, onde escreveste "é uma coisa pensada, estudada (...)", eu li "estufada". Não está fácil!)
ResponderEliminar;)))))
EliminarEstás boa miúda?
Cara Uva Passa,
ResponderEliminarEstá bom de ver que anda a tirar um phd em provocações.
Agora poderia debater a razoabilidade do saber popular expresso em "quem meus filhos beija minha boca adoça". Ou, a inevitabilidade de se ter tornado o centro do mundo do pai do careca-chorão, formando novo núcleo que preenche.
Boa noite,
Outro Ente.
É uma delícia vê-la no centro do meu mundo e no centro de todos os mundos.
EliminarMas é uma constatação, muito verdadeira, chamada 'o eclipse da mãe'.
O pai também sofre do mesmo problema. O eclipse da mãe também o atinge, porque a mãe também lhe desaparece...... uns anitos!
Hahahahahahahahaha
É um pouco isso mas nem sempre, acho que é só quando os bebés são aqueles seres perfeitos, enrugadinhos, roxos, de nariz amarrotado mas perfeitos. Porque quando eles são lindos, gordinhos mas só QUASE perfeitos e esse quase engloba um qualquer defeito genético ou dos cromossomas, a mãe não desaparece. A mãe tem sempre direito ao primeiro prato, ao primeiro abraço e a todas as análises psiquiátricas feitas atrás de portas por familiares e amigos, sendo que nenhum destes tem curso de medicina ou psicologia.
ResponderEliminarTudo isto a bem do ser enrugado pois se lhe falta a mãe, quem dará o corpo ao manifesto? Ai, ai quem me dera ser transparente, por vezes, que me agastam com tanto prato de sopa.
Percebo-te querida Be, percebo-te perfeitamente.
EliminarNão querias ter a pena dos outros, querias somente ser sentir-te normal, igual a todas as outras pessoas.
Mas foste escolhida, se isto se pode dizer assim, para travares essa batalha com o teu pequenino, e eu só te desejo muita sorte, e uma infinita paciência para perceberes os outros.
Um grande abraço.
lolololol delicioso texto! :D
ResponderEliminar;))))
EliminarUfa!
Bem, eu agora, graças a um livro que vai ser publicado, descobri que para ser boa mãe temos que viver em estdo de graça sempre, dar de mamar até aos 18 anos, meses digo, não podemos deixar o filho com ninguém, não podemos desejar livrar domiúdose das mamas para beber um pouquinho de álcool, estarmos super disponíveis e bens dispostas para o sexo, porque parir e amamentar um filho não nos altera em nada, e mais um monte de regras que eu ainda não decorei.
ResponderEliminarDito isto só tenho a fazer a negaça que eu qinq sou a menina lá de casa. É o que dá tanto eu como o meu irmão só termos pichas. Até suo a pensar se a minha nova cunhada tem um filho com o meu irmão e sai menina. Ah, espera aí, segundo as regras não posso pensar assim...
Isto está tudo mudado R. Vivemos tempos de muito radicalismo, muita estupidez, não há espaço para meio termo, para ironia, para huumor, para amor.
EliminarÉ tudo ou vai ou racha.
Apetece montar um outdoor ali no Marquês a dizer: relaxa que encaixa.
Bom dia R!
Absolutamente verdade! Somos completamente relegadas para 2º plano assim que os pestinhas saem de dentro de nós. A minha mãe é igualzinha, por vezes entra lá em casa e 10 minutos depois tenho que lhe perguntar "Olha lá, estás boazinha? Eu estou bem obrigado pela preocupação!" :-)
ResponderEliminarRelegadas é favor! Ainda ontem liguei para a minha mãe, que já não vejo há uma semana, e ela nem me deixou dizer bom dia, foi logo atropelando os meus problemas vários com perguntas sobre a neta.
Eliminar. Ahh tenho tantas saudades dela, quando é que a vais buscar?
- Mas eu estou aqui, precisas de ...
- Mas é diferente, eu tenho é saudades dela, coitadinha.
(O que sofre uma mãe de outra mãe que só pensa em ser avó.) Help!
;))))))
Sem ser mãe ainda, inevitavelmente estas experiências andam a afectar-me.
ResponderEliminarP.S. Comentei-te no meu último post.
Estás armada em peru é? Tu és muita nova miúda! Tens tempo de sobra para isso.
EliminarVai divertir-te, que tens tempo e depois também te divertes, só que de maneira diferente.
I love you Uva! ahah
EliminarConfere! :)
ResponderEliminarÓ ó se confere.
Eliminarolá Uva, bom dia!
ResponderEliminarPassaste a personagem secundária! Dramas da vida real!
Abraço! :))
Hahahahahaha.
EliminarHá 8 anos já que é este fandango!
;)
Chiça, vocês mães quando se lhes rebenta as águas passam de mulheres a mães. Não digas que não é verdade. Não te queixes, não te queixes...uva passa. Sabes tão bem quanto eu, que os maridinhos, os santos maridinhos passam de uva passa a mosto mal pisado. Primeiro estão esses seres "aberrantes" e berrantes. Nós, maridos eclipsamo-nos. Não existimos. Não te queixes, não te queixes.
ResponderEliminarBem feita!!!! É castigo!!!!!!!
Claro que existem. Ora não!
EliminarPara carregar com a tralha da criança, carrinhos, ovos e essas coisas todas. E que jeitaça nos dão.
;)))
Olá Tristan. Que nome tão bonito tens tu rapaz.
Olha, e o eclipse conjugal, que também o há? De princesa mimimimi a «achas que é assim que tens de dar de mamar?», até 400 mil outras implicações inumeráveis. Sim, que o meu ex de maridão fófinho passou a paizinho. Daqueles. Paizinho, sabes? E eu a funcionária incompetente. Dei por mim a pensar: «porra, este gajo não faz nada e ainda critica. mais vale está sozinha mesmo. sozinha por sozinha não me atazana o juízo». O eclipse da princesa também foi muito bonito.
ResponderEliminarEu sempre ouvi dizer que era impossível gostar-se de alguém mais do que se gosta de um filho, e que, depois de se ter netos, percebe-se que, afinal, é possível. A explicação para esse "fenómeno" reside no amor redobrado, espécie de amor ao quadrado, em dobro, multiplicado, pelo filho do filho, o filho-filho.
ResponderEliminarA minha mãe nunca me disse tal coisa, mas também tinha uma tara pelos netos quando eles eram pequenos.
Neste momento, dá-me a sensação que o mundo, para ela, se confina à minha irmã, a mim, e à memória (difusa?) do meu pai.
Ou seja, há uma fase em que voltas a ser tu-tu-tu.
Até lá, e pelo que tenho percebido da observação das coisas, o amor de avós é o mais ingrato e o mais desequilibrado que existe: gostam o dobro dos netos do que gostam dos filhos e eles, por sua vez, gostam dos avós metade do que gostam dos pais. Retribuem com 50 % o que recebem em 200 %. Mas também, é um amor tão desinteressado e tão autêntico que, mesmo percebendo isso, os avós não se importam nada.
Em última análise, deves ficar feliz: todo o amor que a tua filha receba é bem vindo. A cena do quem meus filhos beija :)
Eu cá acho que é uma segunda oportunidade para reparar os erros.Tudo de novo, um admirável mundo novo.
EliminarEu não me importo nada, adoro vê-los babados com a infante terrível.
Não gostei foi da cabeça cortada, de resto, tudo na paz.
;))
Exagerada :))) mas sim, há um momento em que nos sentimos assim, mas passada a deprê é todo um mundo de possibilidades e lá para os 18 anos... quer dizer, 28, 38 ou 48 talvez, damos a volta à questão :))
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