16 de abril de 2015

O teu caminho

Não sei se devia mostrar-te assim, tão despudoradamente, tão intimamente, a minha zona mais sensível.
Fiquei a pensar nisto, e nunca me tinha ocorrido, porque passei os olhos pelas fotografias de uma mãe fotógrafa, a Kate Parker, que afirmou, perante os meus olhos perplexos, que Strong Is The New Pretty.
É uma frase que faz pensar, sobretudo porque sugere a pergunta fácil não foi sempre assim? 
E pensava nisto porque sou uma mãe de amor - e sei que é isto que sou, muito acima de todas as coisas -, e de como é engraçado que uma simples frase me faça duvidar se é mesmo assim, se pode ser assim, ou se posso fazê-lo de outra maneira, isto é, com o mesmo amor, mas um amor mais maduro.
Estarei a proteger-te demais, encantada que estou com a tua beleza? Estarei eu a subestimar-te, ainda que sejas apenas uma criança? Ser bonito é um trunfo, ser criança é um trunfo, tu sabes, todos sabem, mas ainda assim, é suficiente?, chegará esta espécie de Um amor de mãe-cabana e um filho?
E fiquei a pensar, egoísta, que talvez fosse mais duro para ti, mais duro para mim, mas melhor para nós, que fosses bela mas rija, que fosses doce, mas forte, que fosses amor, sem medo.
Não sei se devia meter-me assim nos teus 'problemas pessoais', na tua aprendizagem, nos caminhos de pedras que encontras na tua passagem, e pegar-te ao colo, e dizer-te que sim, que estou aqui, e que a estrada não é sempre firme, mas eu sou uma rocha. Agarra-te a mim.
Mas, e a frase?
E se deixar que caminhes sozinha no caminho de volta a casa? Não será melhor ensinamento que trazer-te numa conchinha? É que eu sei que sou para ti um escudo gigante, de pernas compridas e voz altiva, quando se trata de lutar a teu favor.
É.
O coração da tua mãe é assim, e abre-se ao meio como uma sanduíche, e salta do peito para te apertar lá no meio, para te proteger das desilusões e das tristezas, para te proteger das pedras e dos buracos, neste longo caminho que é a vida.
Tu és pequenina, isso é certo, mas não será já tempo de me afastar um pouco para testar a tua resiliência, a tua personalidade, e ver como te sais dos momentos mais difíceis.
O que quero é partir tudo, partir muros e até, desculpa, partir uma cara, mas isso seria um mau exemplo. E no entanto, lavava a alma que está zangada.
A verdade é que não consigo ser os outros todos, não consigo ser o mundo inteiro, e tu vais ter de enfrentar. És tu que tens de escolher os amigos, o lugar, o tema, o caminho, e eu, apesar de estar nas margens, retirando algumas pedras que te possam magoar, não posso por ti fazer-me ao caminho.
Sê antes forte. Aprende a nadar.
Todos os mares têm encanto, mesmo que por momentos te vejas perdida na rebentação.

Fotografia das filhas de Kate Parker. Aqui.