11 de maio de 2015

A insustentável leveza do ser... radical

Sou, como são quase todos os seres humanos que tenho o privilégio de conhecer, uma acérrima defensora dos direitos dos animais. 
Não serei da facção mais extremista, porque obviamente não milito em nenhuma associação ou partido de animais, não faço voluntariado em campanhas de recolha de alimentos, não sou vegetariana, não alimento pombos e ratazanas nos jardins da cidade, e também não tenho pesadelos ou momentos catatónicos que me deixam insone semanas de seguida por saber que há canis de abate em Portugal com o único objetivo de exterminar todos os animais errantes, mesmo os que são saudáveis.
Mas tenho uma consciência ambiental bastante desenvolvida, sou extremamente preocupada com o ambiente, com a desflorestação, com o avanço da Humanidade sobre a natureza, e com a 'coisificação' dos animais de companhia, sobretudo quando se trata do comércio de animais para lutas, como sejam os cães, galos, ou toiros, ou como sejam os criadores de cães e gatos de raça, empenhados em ganhar tudo o que podem à conta do sofrimento das fêmeas, sobretudo no número de ninhadas, ou ainda a nova moda de tatuar gatos Sphynx e outros animais, ao estilo dominatrix da Idade Média. Também não ando em manifestações contra o corte das orelhas e da cauda de certos animais, mesmo que isso me sugira dor e sofrimento (o que me dizem estar ultrapassado com as anestesias) e não seja senão um motivo muito pouco plausível uma vez que é todo ele de base estética.
Tenho as minhas inquietações como qualquer ser humano, que assim se pode considerar, sobre as questões dos maus tratos e abandono de animais e tenho, em paralelo, uma posição muito bem definida na minha cabeça acerca das raças perigosas [de cães] e da forma como devem ser manietados certos animais de companhia.
O que não entendo é a forma de ser de certas pessoas, na minha opinião radicais, que defendem soluções extremas e revolucionárias, para os problemas da sociedade, que como o próprio nome indica, problemas sociais, de todos.
Fazem-me lembrar terroristas de opinião, formatados no congelador lá de casa, inaptos para calibrar e ajustar os seus ideais à restante sociedade civil, como se fossem Czares da Russia, Salazares de Portugal, e Papas Romanos, cuja última e única palavra lhe está a eles definitivamente reservada, e os outros que se lixem.

O caso é uma nova petição do PAN [Pessoas-Animais-Natureza], um partido político português determinado a dar voz aos animais, e de caminho, a tirar a voz às pessoas.
O mote [da petição] é de boa índole e a pessoa compreende a bonomia da atitude, mas quando lemos as letrinhas pequeninas (que não estão só nos contratos), descobrimos que esta gente não quer só dar voz aos animais, aliás, eu desconfio que esta gente quer mesmo é levar os animais ao poder.
E já vai com 27 mil assinaturas, bem lançado para a audiência parlamentar.
Em breves palavras, a petição que julgamos ser para acabar com os canis de abate, soma e segue arrasando tudo o que é comércio com animais. Acabar com as lojas de animais, acabar com os criadores, acabar com exposições, com tratadores, acabar com as raças?!. 
E quando digo raças, digo por exemplo o Rottweiler e o Puro Sangue Lusitano. Digo por exemplo o Persa Angorá e o Gato de Benguela. Digo o Porco Preto e o Pato Real.
O PAN é o pânico.
O PAN acredita que os animais devem ser todos livres e acasalar livremente; o PAN quer proibir trelas, correntes, açaimes e cordas em todas as espécies de animais, inclusive as perigosas, o PAN quer proibir espécies diferentes de aves na mesma gaiola, e se possível fazer desaparecer a gaiola, o PAN quer proibir a inseminação artificial em vacas; o PAN quer cadastrar as pessoas que alimentam o 'animal comunitário' para aferir se a alimentação é condigna.
O PAN quer, o PAN quer muito.
Eu cá não quero e não assino petições do PAN.

Eu acredito profundamente que o PAN é amigo dos animais, que o PAN age e pensa em prol do bem estar dos animais, mas disfarçar um projeto com 72 páginas, onde pretende acabar definitivamente com todos os negócios e entretenimento (incluindo corridas de cavalos, hipismo e etecetera) com uma petição criada para acabar supostamente com os canis de abate, é no mínimo risível e profundamente extremista, além de considerar que andamos aqui todos a dormir.
Se querem que as pessoas vos  apoiem, então digam exatamente ao que vêm, e nessa altura veremos se 27 mil assinaturas são todas em consciência.


Está tudo aqui para quem quiser ler em: http://www.fimdoscanisdeabate.com/ilc.pdf

14 comentários:

  1. Querida Uva Passa,
    O Pan dá vontade de recorrer à sátira no apelo a Pã.
    Gostei muito de ler a sua fundamentada opinião.
    (Anda tão séria...)
    Boa noite,
    Outro Ente.

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    1. Gosto que goste de ler.
      Ando séria porque preocupada.
      Um abraço.

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  2. PAN
    é o demónio
    é quase um
    PANDEMÓNIO

    (não se incomode com o PAN, são uns tipos esquisitos, mas inofensivos)

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  3. Ao ler isto fiquei a pensar se não deveríamos começar já uma petição contra esta petição do PAN :)

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    1. Já existe uma frente comum. A malta dos cavalos, dos toiros, criadores, expositores, etc, acabam com este Pandemónio num instante.
      Acabar com as raças? É assim um bocadinho estúpido.

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  4. Esse livro marcou-me profundamente, Uva. Foi dos melhores que li em toda a minha vida.

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  5. Se o objectivo do PAN é levar (os) animais ao poder, está feito ao "bife" com a concorrência! ahahahaha

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    1. Tem muita oposição. Já há inclusive uma frente comum para combater a petição no caso de conseguirem as assinaturas suficientes.

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  6. Uva, eu que gosto tanto de a ler, hoje fiquei um bocadinho decepcionada com a sua leitura da ILC do PAN. Não vou, nem quero, entrar em discussão, mas deixe-me só referir um dos pontos.
    A Uva escreve: "o PAN quer proibir trelas, correntes, açaimes e cordas em todas as espécies de animais, inclusive as perigosas", no entanto na ILC lê-se: "É proibido manter os animais presos por trelas, correntes, cordas, ou outros meios com o mesmo fim, que restrinjam excessivamente os seus movimentos, coloquem em causa o bem-estar do animal ou lhes provoquem danos corporais."
    Parece-me que o sentido é outro, tem ideia da quantidade de animais que vivem uma vida acorrentados e confinados a um espaço diminuto e cujas correntes nem lhes permitem deitar-se? E quantos são recolhidos com cortes no pescoço feitos por “trelas” de aço que os retalham? É isso que o PAN não quer que aconteça.
    E sim, eu sou uma das que já assinou :)

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    1. Reg, não fiques decepcionada. São apenas interpretações diferentes da mesma coisa.
      Tudo normal, portanto.
      :)
      O PAN quando escreve 'que restrinjam excessivamente os seus movimentos, coloquem em causa o bem-estar do animal ou lhes provoquem danos corporais' sabemos nós bem ao que se refere. Fazem a coisa no sentido lato para depois afunilar no açaime (e outras coisas) que no fundo restringe excessivamente os seus movimentos, e coloca em causa o bem-estar do animal. O açaime (e é só um exemplo) não permite que o animal 'respire com a língua para fora' o que é colocar em causa o seu bem estar.
      O sentido é sempre o mesmo. O radicalismo com que apresenta a sua proposta.
      Noutro sentido, sou muito céptica em relação a petições, e já o tinha aqui dito mais do que uma vez, por não serem totalmente claras nos seus intentos, pelo menos a grande maioria.

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  7. O PAN nunca devia ter sido aceite como um Partido. Ainda não se percebeu a diferença entre partido e movimentos cívicos, please??? Qual seria o programa de governo do PAN? Quais os planos para as Finanças, as escolas, a terceira idade? Encher tudo de cabrinhas e cãezinhos porque «quanto mais conhecemos as pessoas, mais gostamos dos animais?» Please.

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  8. Fico sempre com a sensação que os mais extremistas defensores dos direitos dos animais são pessoas que não têm animais de estimação.

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