26 de maio de 2015

Je Suis Ego


A vida é um duro dilema.
Na maior parte das vezes subentende-se que o dilema é antes de mais com os outros, os diferentes de nós, eles, os que para o mesmo estímulo se resolvem numa reação que não nos satisfaz, que éramos incapazes de assumir, que vai contra os nossos  princípios.
A expressão se fosse eu, é a primeira que nos aflora para justificar os atos que não suportamos nos outros, que não aprovamos, que não nos fazem qualquer sentido, e amiúde chegamos à conclusão que a nossa forma de reagir era efetivamente melhor. Perdemos no fundo a capacidade de entender os valores dos outros e aceitar que os nossos valores são tão únicos para nós como o são para eles.
O ego prevalece acima de todas as coisas e não há um único ser capaz de se reinventar recomeçando tudo sem ele, despojando-se da única coisa que realmente o ama, porque o ego é a única coisa que temos para nos suportar a nós próprios e aos outros, é a única réstia, despojo, esperança, de que somos realmente diferentes dos outros, únicos.
A nossa identidade é o nosso ego, o tal elemento que nos fornece o elogio tão difícil de receber dos outros. Se os outros não me entendem, que se danem, tenho o meu ego e com ele posso tudo. Seríamos, em última instância, incapazes de suportar os outros se a cada momento da nossa vida nos sujeitássemos à sua superioridade e aos seus valores. O ser humano precisa de atribuir um valor específico a cada coisa, e seria infinitamente infeliz se esse valor fosse subjugado por vontades terceiras.
Há quem diga que uma funesta crise de valores varre as sociedades. Eu não digo.
Funesta é a incapacidade de dar valor aos outros. Funesta é a desvalorização do ego de cada um, da individualidade de cada um.
O que é o valor numa sociedade onde predominam homens incapazes de transcender o próprio umbigo?
Como atribuir valor a uma obra de arte, a um indivíduo, à conduta humana, sem esmiuçar o seu ego, contrapo-lo ao nosso, subjugá-lo aos nosso valores?
Com muito esforço, porque implica subtrair o nosso próprio valor para dar valor aos outros, implica aceitar que naqueloutro o valor foi superior ao meu ego, implica aceitar que não faria daquela forma, mas que aquela forma também resulta bem.
Para viver e conviver, é preciso entender que cada um de nós dá o seu próprio valor a todas as coisas, e não vale pena a discussão estéril e ignorante que gostos não se discutem, porque afinal de contas é tudo uma questão de gosto, porque o valor que damos a tudo o que nos rodeia é sempre baseado em interesses pessoais, em gostos pessoais, e na dificuldade que temos de aceitar de forma mais ou menos adulta, mais ou menos serena, os gostos diferentes dos nossos, os valores atribuídos de forma tão diferente às mesmas coisas.

A vida é um duro dilema.
Há que entender isto antes de julgares os outros por aquilo que julgam de ti
É que os outros terão, em qualquer caso, alguma coisa a dizer sobre o tamanho do teu ego.
E que maravilha é podermos ser livres para o fazer.

9 comentários:

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    1. ;) Thanks.
      Inspiração matinal, ou falta de dormir em condições.
      Já não sei bem.

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  2. A vida não é um assim tão duro dilema, se ultrapassarmos a parte do ego, não precisamos ser únicos, precisamos de ser coerentes connosco, é preciso deixar de dar demasiado valor ao que os outros opinam e/ou deixar de opinar sobre os outros. Dizes tudo numa frase "...implica aceitar que não faria daquela forma, mas que aquela forma também resulta bem." e para tal, não implica subtrair o que quer que seja dos nossos valores.
    Em vendo bem, talvez não seja fácil mas não é um duro dilema.

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    1. E isto é que nos faz únicos, o sermos tão diferentes uns dos outros e de entendermos a vida de forma tão dispare.
      Tu dizes que é preciso deixar de opinar sobre os outros e eu digo, já de caras, que isso ainda é mais impossível do que perder o ego. ;)
      Podemos é opinar para dentro, talvez, para não pisar os outros, não ferir sentimentos, mas assim os outros nunca ficariam a saber o que pensamos deles, da vida, e de nós próprios.
      Para mim é efetivamente um duro dilema, porque cada vez percebo menos o ego dos outros e fico triste por isso, fico triste porque acho que estou a regredir.
      Não sei se me faço entender.
      Abraços Bézinha!

      .

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  3. Je suis alter.
    Tu est ego.
    Je suis bem melhor bom
    Et tu non.

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  4. O que mais vemos por aí é opiniões sobre o ego dos outros, as atitudes dos outros, os valores dos outros, sejam eles parecidos com os nossos ou ainda mais, se são diferentes dos nossos. Opinar é sinal de inteligência ou não, é um direito que temos, ou não, é sinal que temos valores, perceção relativamente a tudo, mas o melhor na maioria das situações e isto é o que a vida me tem ensinado, é mesmo saber opinar calado...

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    1. Gajinha minha querida gajinha. A vida é um grande dilema, é só o que te digo.

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