26 de junho de 2015

Desesperança

Hoje, o Serviço Social regressa de braços caídos, cambaleando, ferido, agonizando, talvez já morto, sobre os ombros de todos os profissionais que esperam há 18 anos o reconhecimento da sua classe profissional.
Não tenho palavras, não há palavras.
Passados 18 anos de discussão na classe, 12 anos na AR, 3 propostas de projecto-lei, 3 quadros legislativos, dezenas de audições e audiências parlamentares, 2 petições que reúnem mais de 9 000 cidadãos no seu conjunto, os Deputados pretendem ainda "aprofundar a matéria" evitando uma votação que clarificaria definitivamente as posições tantas vezes anunciadas pelos diversos grupos parlamentares.

A Ordem dos Assistentes Sociais foi novamente negada. E não pensem que foi assumidamente ou fundamentadamente, que nos disseram que não.
Foi covardemente, foi à traição. Para não votarem taxativamente (PSD) contra nós, incapazes de assumir a posição que já todos sabemos que têm sobre as ordens profissionais e todo e qualquer tipo de associação profissional,  estes vermes cobardolas neoliberais, que tomaram conta do país, protelaram a votação na generalidade e impediram, na prática, a sua aprovação nesta legislatura, atendendo a que a última sessão da AR será dia 23 de julho. Como nenhuma proposta transita para a nova legislatura, os Assistentes Sociais deverão iniciar tudo de novo, como se tudo o que já fizeram, todo o esforço, toda a esperança que quiseram sempre manter, nunca tivesse existido.

Daqui se depreende a massa de que são feitos os nossos Deputados.
É uma massa pegajosa que não dá para fazer nada, agarra-se aos dedos, desfaz-se aos bocados, sem consistência, salgada, esfarrapada.
Mete nojo.
Metem-me nojo.

Caros todos,
Se um se dia se encontrarem nos caminhos da necessidade, da falta e da pobreza, com um filósofo, historiador, pedagogo,  ou antropólogo, para vos resolver um problema familiar, social, de intervenção, de articulação e do qual necessitem de conhecimento profundo sobre as problemáticas da sociedade e as políticas sociais, os apoios, os subsídios, as licenças, os lares, as escolas que vos poderão salvar a vida familiar, social ou sénior, lembrem-se que não está lá um assistente social, profissional de excelência nas temáticas supracitadas, porque a Ordem Profissional lhes/nos é negada desde 2002, e porque qualquer licenciado em ciências sociais pode ser um técnico superior que presta serviços sociais à população aos olhos deste DESGOVERNO!

V-E-R-G-O-N-H-O-S-O.

13 comentários:

  1. Assim vai o Barco.
    Há umas semanas, na ordem, porque já nem me dou ao trabalho de ler o lixo que sai da AR, fiquei esclarecido que terei de fazer formação de 3 em 3 anos para manter uma das habilitações. A ordem é fraca, repleta de velhadas que só querem mais um título porque não chegaram a ministro, e o repectivo ministério escuta apenas o lobby da formação profissional.
    Será daquela formação ao estilo balburdia de esclarecimento de dúvidas, sem grande estrutura porque nada há de novo na técnica, mais várias dezenas de horas para o trabalho prático que pode ser um projecto qualquer já elaborado! Não se aborda avanços científicos porque os próprios formadores, por norma, sabem os manuais e pouco mais.
    Quase não há trabalho na construção e estes bandalhos vêm com estas ideias. Já com o aviso que será muito provavelmente aplicado às restantes habilitações.
    Já nem chega só a ser vergonha. É de irem tomar no cu, miseráveis vendidos, incapazes, mentirosos e descarados.
    Abraço cara Uva.

    (enfim, talvez nem devesse queixar-me, quando há por aí animais a violar crianças e a queimar gatos por diversão e tradição...)

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  2. Tu tem calma mulher, q hoje ainda te dá o badagaio.
    Eu só n estou a tremer da vista pq a praia, o mar mais concretamente, e as férias em geral, me conseguem, por norma, apaziguar um bocadinho...

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  3. Estou muito triste. Roubam-nos os postos de trabalho, figem, porque se acham licenciados para cumprir o horário de trabalho, que nos podem substituir, como se fôssemos descartáveis, nas funções da sociedade. Eu não exerço, mas custa muito ver desaparecer uma PROFISSÃO com tantos anos de prática , por motivos políticos que fazem lembrar uma estratégia de guerra. Querem acabar com os direitos que tanto custaram a conquistar. Filhos da puta, palavra de Uva, se não os comemos a todos.

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    1. Eu adorava comê-los, mesmo que, depois, os vomitasse!

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    1. Mas a petição do simba tem, quiçá, 10 milhões de amigos dos animais. Nós somos só 14 mil.
      Pouco unidos. Na sua grande maioria sofrendo de Burnout.

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  5. "Daqui se depreende a massa de que são feitos os nossos Deputados.
    É uma massa pegajosa que não dá para fazer nada, agarra-se aos dedos, desfaz-se aos bocados, sem consistência, salgada, esfarrapada.
    Mete nojo.
    Metem-me nojo."

    Vou dizer ao meu Diogo
    que eu, a si, lhe meto nojo

    (não, não sou deputado. por acaso)

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    1. Se calhar estou a ler mal, devido ao adiantado da hora, mas se for para interpretar ao pé da letra, não, não diga uma coisa dessas ao seu Diogo.
      Mete-me muito nojo, sim, a decadência do Estado Social por motivos políticos. As ordens profissionais são uma afronta à ditadura.

      Se calhar o seu Diogo, numa outra perspectiva, não ficaria muito contente se na altura de operar o apêndice lhe aparecesse um advogado.

      Mas Rogério explique lá o que se passou agora, que eu não entendi. Por favor.

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    2. Curioso. A frase parece apropriada ao tema. Especialmente quando a classe política exige ao comum cidadão aquilo que não exige a si própria. Gente que compra licenciaturas, que se esquece de pagar impostos e que rapidamente salta para empresas privadas com as quais negociou enquanto representante do estado, gente que permite perdões fiscais exorbitantes e a penhora da habitação do pequeno contribuinte, é gente que se tivesse um pingo de vergonha se defenestrava. Sorte a deles.

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    3. Razões que a própria razão desconhece.
      Não tenho cargo político, mas já tive. Nunca seria capaz (e não fui) de destruir a vida de milhares de pessoas para proveito próprio. Sou uma inocente, talvez ignorante, por não saber que quem parte e reparte e não fica com a melhor parte ou é estúpido ou não tem arte.
      Bandalhos.

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    4. Veio a tempo. Detenho o meu impulso do momento. E não direi ao Diogo que lhe meto nojo.
      Mas sempre lhe digo que me revejo nos deputados que elejo. Eu, lá no parlamento não faria, melhor!

      (o PCP tem para lá uns miúdos e com gente miúda tudo pode acontecer e fui ver... ná, portaram-se como deve ser)

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  6. Tem calma, Uvita.
    Ter uma ordem profissional não é a melhor coisa que pode acontecer a uma profissão. Fazer parte dela pode não ser a melhor coisa que pode acontecer a um profissional.
    A ordem pode ser um enorme tacho, onde cabem os interesses de dois ou três, mas a quem, para exercer miseravelmente a profissão, são exigidas quotas incomportáveis, para além de mil merdinhas inúteis para o bom sucesso da classe.
    Eu sei que isto não é um consolo, mas é uma tentativa...

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    1. Na maioria das profissões assim é, mas para nós é absolutamente necessário. Temos as ciências sociais e as ciências médicas a usurpar os postos de trabalho para vários posições que são lugar de assistentes sociais. Um caso, não querendo inferiorizar as outras formações, os animadores sociais, animadores socioculturais, educadores de infância, educadores sociais, e tudo o que a palavra social permitir, são sistematicamente colocados nos lugares de assistentes sociais com vencimentos de 500,00. As tabelas salariais estão uma desgraça, e o ensino é outra. Não temos por exemplo ensino público. Eu, com uma média altíssima na entrada para a faculdade, tive apenas ensino privado para tirar a minha licenciatura. E a degradação da profissão desune os colegas, e muito. Por isso uma ordem para nós é muito além de um tacho para três ou quatro. É uma questão muito seria de vida ou morte da profissão.

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