21 de julho de 2015

As coisas não são sempre más

Uma das minhas características mais vincadas não é a tristeza. Nunca foi.
A minha tristeza não mora cá; visita-me pontualmente quando alguém se arma em parvo comigo, ou quando eu me armo em parva com alguém, mas nunca vem para ficar. É como o nevoeiro que teima em estragar a manhã mas que sucumbe covardemente ao sol do meio dia.
Eu sei muito bem como meter a tristeza a andar para não andar com a tristeza.
E mais uma vez aquilo que aos olhos de muitos parece uma grande maçada, uma pena, ou uma grande ajuda, soube eu, aguçando o engenho, transformar em coisa boa.
A falta de um irmão ensinou-me a fazer muitas coisas sozinha, especialmente a falar sozinha.
Falo muito sozinha para espantar a tristeza.
Chega a ser cómico porque lá em casa somos 3 + 1, sendo que o outro sou outra vez eu.
Este outro eu é o meu irmão mais velho. Diz-me coisas engraçadas e às vezes também me faz chorar.
Tal e qual os irmãos quando se zangam ou quando brincam alegres a qualquer coisa parva.
A opinião dos outros é sempre uma terceira opinião e é apenas pedida quando eu e o meu mano mais velho encalham na indecisão.
Tenho feito grandes coisas na companhia de mim mesma. No fim de semana andava triste e fiz-lhe uma pergunta muito séria: o que farias se estivesses triste? Ora, se calhar dava uma volta na bicicleta que ainda não vendeste e sempre vias as ruas novas que andaram a arranjar.
Olha, és capaz de ter razão - respondi entusiasmada. Sempre gostaste de andar de bicicleta, e lembraste, dos grandes passeios que fazíamos por essas estradas de terra batida?
Lembro-me muito bem.
E por me lembrar tão bem é que desde que tirei a bicicleta do sótão nunca mais a larguei, e tenho dado, e parece incrível, passeios tão bons e tão especialmente (re)construtivos, que já comprámos uma segunda bicicleta (para a ML) e já tenho um boné (que nunca tive um boné nos dias da minha vida), uma t-shirt que dá para meter garrafas de água nas costas e um rabo bastante mais robusto.
Quem tem um irmão tem tudo.
Quem tem uma Lagoa de Albufeira não pode querer mais nada.










10 comentários:

  1. Depois de te ler ontem, confesso que agora me fizeste sorrir.
    Beijo

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  2. É isso mesmo.
    "Quem tem uma Lagoa de Albufeira não pode querer mais nada". Estás, ou estiveste, no último reduto do Paraíso. Para lá da Lagoa, não há nada. Sortuda.

    A tristeza espanta-se assim, insuflando balões de oxigénio. Quero dizer, de alegria. De vez em quando, temos que gastar um balão de reserva. Mas resulta, se soubermos armazená-los para essas ocasiões.

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  3. Um pequeno aparte (bem escrito): quem tem uma Lagoa de Albufeira, tem muito lixo por perto.

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  4. Passei muitos anos da minha infância pela Lagoa de Albufeira e lembro-me que era a minha praia favorita! :)

    http://entreosmeusdias.blogspot.pt

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  5. Estou aqui de sorriso de orelha a orelha. Também sou filha única. Sim, ser filha única também me ensinou a fazer muitas coisas sozinha, a desenrascar-me, a inventar brincadeiras, era aquilo do, tudo eu, tudo eu, sabes como é :). Arranjaste um irmão mais velho e eu, a partir dos três, quatro anos, arranjei uma cunhada, tinha muito mais lógica, de facto, se tivesse engendrado um irmão ou irmã, mas não, foi uma cunhada que eu na altura dizia cunága e tinha direito a nome e tudo, Nela de seu nome e lá tinha grandes conversas com aquela minha cunága.
    Também peço e oiço com atenção a opinião dos outros e tenho-a em conta, mesmo, mas para o bem e para o mal, quando chega a altura de decidir, vou por mim e agora já há muito tempo que nem pergunto nada à Nela, pergunto logo o que quero perguntar assim de chofre a mim mesma e pronto.
    Também temos em comum a Lagoa de Albufeira, quando era pequenina então, passei lá tantos, tantos dias de praia. Adoro a Lagoa. Ultimamente não tenho ido lá fazer praia, ando por outros sítios, mas continua a ser passagem obrigatória, mesmo que seja só para ir percorrer o estrado de madeira e desatar a correr areia fora, tão bom!!!! e cheia de memórias doces a também minha Lagoa. Aliás, adoro toda aquela zona, a estrada até chegar à Lagoa, Alfarim, Meco, existem bocados de paraíso espalhados por ali fora, sítios incríveis, onde já meti o nariz vezes sem conta.
    Sabes uma coisa Uva que passa de bicicleta, gostei de partilhar isto contigo.

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  6. Qualquer dia bato-te a porta! LOL
    Maravilha que é a Lagoa!
    Aproveita bem Uvinha.

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  7. Que maravilha Uva, tanto a Lagoa como as pedaladas. Eu farto-me de dizer que quem pedala nunca fica triste nem tem depressão. Aí está, um dia destes encontro-te por aí a pedalar nos montes. Beijinhos

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  8. Há coisas que não têm preço.

    Um beijo, Uvinha. :)

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  9. Uva, Love you.

    Também sou filha única ;)

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  10. Quem tem um irmão tem tudo
    Eu e Ela fizemos três irmãs, para não empatarem numa decisão...

    (Há coisas que fazemos bem,
    e... assim
    saio do paradigma de não ter uma Albufeira
    só para mim)

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