30 de setembro de 2015

Se eu fosse 1º Ministro

Antes de me adentrar nas opções que faria propriamente ditas, antes de colocar quem quer que seja em alvoroço, provocar a estranheza, a indignação e o espanto, digo já que estou profundamente ancorada na ideia do povo unido jamais será vencido, apesar de saber que quem nos governa não foi sempre governante, e que esse lado pagão que ainda vai subsistindo em alguns - que deixaram de ser povo mas que ainda erguem bem alto os valores da igualdade e da fraternidade -, é onde tenho a minha maior fé.
Não existem 'os incorruptíveis'.
Basta pensar que qualquer pessoa se deixaria corromper se isso significasse a salvação da sua vida ou da vida de um filho, pelo que assente nestes primados, discorro sobre aquilo que faria se me visse no lugar do 1º Ministro, avisando de antemão que dentre os que atualmente co-exercem sobre nós o poder, poucos iriam à (minha) colação.
Sou uma pessoa simples. Tenho uma agonia e um sofrimento muito dilatado pelo estado burocrático em que vivemos.
Já por diversas vezes fui obrigada a pedir declarações de não dívida ao Estado (S.S e AT) para comprovar ao Estado (S.S. e AT) que não tenho dívidas. É o mesmo que pedir a mim própria que assine um contrato de trabalho onde a empregada sou eu, coisa que também já aconteceu, nomeadamente quando fui sócia de uma empresa e era Directora Técnica ao mesmo tempo. Fartei-me de ter relações profissionais com a minha própria pessoa e estive quase a fazer queixa de mim própria numa altura em que me obrigava a trabalhar fora do meu horário de trabalho.
Acabava com esta masmorrice que só serve para atrasar a vida das pessoas e que se resume à batalha infinita e decrépita entre órgãos públicos para saber afinal quem é que manda mais, e quem é na verdade o dono disto tudo (eu sei quem é e um dia juro que vos digo).
Na minha terra construíram recentemente um mamarracho monumental, que virá a ser um ginásio desportivo all-in-one. Construiriam tudo de raiz, uma coisa gigantesca. Tiveram alvarás da autarquia para tudo, claro, mas ainda está fechado. Carece da licença da autarquia que aprovou todos os projectos, aprovou a construção, aprovou as especialidades, a localização, a venda do terreno, mas ainda não se decidiu quanto à sua abertura. Estranho? Não, dramático, se pensarmos no dinheiro que estão a perder aquelas pessoas que ali investiram e no igualmente monumental desnorte e borrifanço da Câmara para os projectos dos empreendedores.
Estes exemplos são banais em face de muitos outros que me passam à frente dos olhos todos os dias.
Estado que é Estado tem de investir na desburocratização. Como é que isto se faz?
Pedindo ajuda às universidades que estão a abarrotar de miúdos altamente especializados em programação informática e que abalam sem dó nem piedade para Silicon Valley, com contratos milionários. Uma tristeza sobretudo para os pais que ficam órfãos de filhos vivos.
Queremos um programa informático que abarque tudo. O colesterol, a massa muscular, as dívidas do selo do carro, das portagens, os delitos, tudo. Quero poder aceder às informações sobre as empresas e sobre os particulares de forma a desencravar as pessoas de assuntos de merda obstaculizados pelo Estado.
A minha avó que recebe uma porra de 350,00€ de reforma está a ficar cega devido às cataratas. Aguarda há 4 anos a chamada do hospital público. A situação agravou-se de tal forma que tem de ser operada de imediato ou fica cega. Vai ter de pagar do seu bolso roto 4 800,00€ no particular.
Entretanto a vizinha dela, que morreu o ano passado, recebeu finalmente a chamada para a operação das cataratas.  Quem é o responsável por esta cegueira?
Depois atacava inclementemente a esterqueira que é o sistema judicial, fazendo tudo o que estivesse ao meu alcance para diminuir os estilhaços que o sistema crava na pele, nos ossos, na alma dos inocentes ou nos não provados culpados.
Como na Inglaterra, imporia um sistema de julgamento que consistisse na fórmula simples e eficaz: quando alguém é acusado de alguma coisa, essa pessoa seria julgada perante a comunidade e pela comunidade.
Se a comunidade serve para votar, também serve para julgar.
12 pessoas escolhidas aleatoriamente decidem por unanimidade quem é culpado ou quem é inocente.
Instituía o sistema de júri e acabava-se a tirania dos juízes.
Acabava-se com as prisões preventivas (e o acesso aos processos unicamente pela acusação) sem que o acusado (como o Sócrates) só dele tivesse conhecimento quase 6 meses depois de estar preso. Prendem-se pessoas que nem sabem o motivo de terem sido presas e que por isso não têm como se defender! E só as mandam para casa com pulseira electrónica se se assumirem como culpadas, caso contrário poderão ficar na prisão até algum juiz declarar que a defesa pode ter acesso ao processo. Que ridículo. Que injusto.
Limitar o poder do Estado é urgente.
Não são os nossos vizinhos que tememos. Tememos o Estado, o mesmo Estado que deveria ser o nosso porto de abrigo, a nossa ultima esperança, o nosso ultimo reduto, é quem afinal nos ataca. Ferozmente. Dependemos daqueles que detêm o poder e que estando na posse dele, abusam dele, abusando de nós.
Lembro-me muito da mãe da Joana. Onde está a Joana? Viram-na morta? Quem a matou? Como foi morta? Como se prende para a vida uma pessoa com base em suspeitas, presunções?  A única presunção que é aceitável é a presunção constitucional de inocência. Mais nenhuma.
Qual quê! As pessoas deste país são julgadas quantas vezes o recurso for permitido. E pela mesma coisa. Julgam ad eternum a mesma pessoa pelo mesmo crime, duas três vezes, ilibando numas absolvendo noutras dependendo do estado do tempo, desconfiando dos juízes e do trabalho dos que chegaram primeiro, como se descascassem as camadas podres de uma cebola até nos fazerem chorar de cansaço, de despesas, e de incompreensão. Quem ri por último ri melhor. Não se entende. 
E logo de seguida achava-se uma maneira de qualquer cidadão poder ser deputado. Eu quero ser deputada. Quem são aquelas abéculas que dormem no Parlamento a vida inteira? Eu quero ser eleita para deputada, quero ter listas de assinaturas para poder fazer parte das decisões do meu país. Quem sou eu? Sou a que vota e a que julga, logo sou também a que decide.
Decido sozinha? Não. Decido em conjunto com todos. Referendos? Sim. Quero o poder da palavra em questões cruciais. Quero decidir se a minha filha pode ou não alugar uma barriga para me dar uma neta, quero decidir se vendem a TAP, a EDP; as águas, o país. Não quero que seja político qualquer a decidir se a minha filha pode ou não ser mãe, quer ou não casar com a melhor amiga. Não quero. Ele não sabe e nem nunca saberá o desespero que é não poder ser mãe e o desespero que é não poder casar com quem se ama.
E quero que o meu país imponha definitivamente a regra sacrosanta de que nenhum político eleito poderá jamais governar sem que para isso assuma penalmente e criminalmente as decisões que atualmente toma em favor de amigos e compadrios.
Em vez de vermos as ridículas arruadas (quem é que inventou esta parvoíce?) o que víamos era gente a escolher de entre os melhores CV's, aqueles que apesar de corruptíveis (porque ainda existem muitos sargos para distribuir) ainda erguem bem alto os valores da igualdade e da fraternidade.
E por último haveria de fazer a lei mais pesada que as leis mais pesadas para as mães e para os pais que fazem dos filhos menores a sua principal unidade de produção familiar, expondo-os em blogs e eventos Barral, com as cuecas à mostra só para receber de volta uma filha da puta de uma Planta com sabor a marmelada.


(Obrigada a todos os que chegaram a esta pequenina palavra.)

24 comentários:

  1. A primeira coisa que terá que fazer, para vir a ser 1º Ministro
    E pôr de pé tudo isso
    É mandar a mandar a Constituição para o caraças
    Muitos lho agradeceriam, e davam-lhe graças

    Pena é que o seu objectivo
    ficasse por o caminho

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    1. O artigo 207 da Constituição foi alterado para que não houvesse este sistema de júri constitucionalizado.
      O meu objetivo é que a direita não ganhe as eleições.

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    2. Qual direita?
      A esquerda? Ou a dita cuja mesmo?

      Quanto à justiça... já reparou que o sistema e os juízes são as leis que se fizeram com as sucessivas leis que se fizeram nos sucessivos parlamentos e pelos ministros* que fizeram parte dos sucessivos governos? Sim a justiça é uma merda, mas não chega votar nas outras moscas!

      *António Costa foi Ministro da Justiça, num governo maioritário (de Sócrates)

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  2. Desculpa: não li nada, ou melhor: o teu «obrigada».
    Oh pá, tenho a sopa ao lume: num tenho bagar para tanta prosa :-)

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    1. Passas a vida de volta do fogão. Hahahahaha Abraço miúda. Voltaaaaaaa.

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  3. Adorei o texto! Tocaste em todos os pontos!!

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  4. É isto!

    Sobretudo, acabar com a ditadura dos partidos! Sim, porque vivemos numa ditadura dos partidos que nos impingem quem querem sem nos termos hipótese de escolha (e mesmo quando temos não podemos escolher quem achamos melhor, apenas quem as estruturas acham melhor, pelo que vamos parar mais ou manos ao mesmo sítio)!

    :)

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  5. Sei de que mamarracho falas e estou de acordo com tudo o que escreveste.
    Menos com o tamanho do mamarracho, que era para ser um stand, estou em crer.
    Farto de mamarrachos.
    Quero é a merda dos carros de fora dos passeios e das passadeiras!

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    1. Também me lembrei que poderia ser um stand, mas pelamordasanta, uma coisa daquelas até para hospital dava.

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  6. Eu também penso como tu, Uva. Revolto-me com esta cambada de imbecis que se acham no direito de decidir por nós. Olhamos para um lado e para o outro e são todos uns incompetentes. Estaremos nós condenados a viver com as mãos atadas? Que porra de democracia. Será isto democracia?

    As mães que expõem os filhos a troco de qualquer coisinha, só me ocorre pensar naquelas pessoas que "dão" as filhas menores para relações sexuais com velhos a troco de uns míseros 20 euros. Só consigo sentir pena por aquelas crianças. Tão prá frente que elas são, tão, tão, tão........até um dia.

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    1. Essa coisa das mãezinhas vai acabar. Tu não enerves.

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    2. Não *te enerves. Era assim que eu queria escrever.

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  7. Ainda n li o post mas já tens o meu voto. Já cá volto ;)

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  8. Também tens o meu voto - um outro problema, grande, é o voto dos que nunca votam, porque "não vale a pena". Não, claro que não. Olha que bem nos tem servido chegar ao poder gente que teve 2% dos votos (se não me engano, foi o que o CDS teve nas últimas legislativas)...

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    1. Tiveram mais, mas tanto faz.
      Se a coligação ganhar deixo de acreditar. E vou emigrar.

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    2. Cruzes, 11,7% (agora fui ver)! Como é que há tantos?!

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    3. E pensar que cabiam dentro de um táxi...

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