O termo utilizado no título do post não é meu e nem sequer é atual, e se pensarmos na vertiginosa velocidade que os meios informativos imprimem às notícias, e compararmos o que sobre isso já foi escrito até aos dias de hoje, podemos considera-lo um termo pré-histórico que ficou enterrado nas catacumbas da história. É de 1989 (tem 26 anos) e foi o economista e professor Víctor Beker que primeiro dissertou sobre ele.
Para mim, e até hoje, era totalmente desconhecido.
Bulimia informativa é um termo espetacular. Recebes a informação, vomita-la em qualquer rede social, em qualquer jantar, em qualquer tema de conversa entre amigos, e acabou, dela não retens absolutamente nada.
Nem vitaminas e nem proteínas.
Sujeitamos-nos a uma intoxicação de informações, como nos sujeitamos ao fast-food, ao exagero do açúcar, do sal, das comidas transgénicas, e depois, com a mesma facilidade do profissional do vómito, metemos a mão à boca e libertamos o espaço no estômago para voltar a encher de futilidades.
Acho que já referi aqui muitas vezes que o pior defeito que encontro nas pessoas é a inveja.
Apesar de ser para mim insuportável a inveja, eu própria a sinto, mas de forma diferente.
Invejo não o indivíduo em si, mas a qualidade do indivíduo, a possibilidade que lhe dá aquela capacidade. Poder-se-á dizer que se alguém consegue fazer 100 km em cima de uma bicicleta, a minha inveja trespassa completamente o indivíduo e recai-lhe toda na pujança das pernas. Eu gostava de ter aquelas pernas, não as pernas daquele indivíduo.
No caso em apreço, e sou completamente bulímica informativa, invejo a prodigiosa memória de certos indivíduos.
Invejo a capacidade que demonstram em reter do lixo informativo somente o fulcro da questão. Saber que o terramoto de Lisboa foi em 1755 numa altura em reinava D. José I, não é o fulcro da questão.
A informação é banal, junta-se a outras tantas datas, mas ter capacidade para memorizar (e saber que é isto que tem importância memorizar), como por exemplo, que foi no dia 01 de novembro, dia de Todos os Santos, às 9.30h, que foi a partir desse evento que se começaram a enterrar as pessoas em cemitérios, que se tornou menos arreigada a questão religiosa nos lisboetas por lhe caírem as igrejas em cima, que foi a primeira vez que se fizeram valas comuns em Portugal, e que o Marquês do Pombal fez a partir daí as ruas mais largas para o fogo não se propagar de um lado para o outro, é que já é a manifestação de uma prodigiosa memória e a sabedoria de saber filtrar aquilo que importa saber sobre este tema.
A minha teoria é exatamente igual à constatação que fazemos quando pensamos no doente bulimico.
Quanto mais ele come, pior fica.
Quanto mais informação absorvemos mais preguiçoso fica o nosso cérebro.
Tal como o estômago que não chega a processar os alimentos, pois que com eles pouco tempo convive, também a nossa cabeça está menos disposta a fazer um esforço para pensar realmente sobre uma questão porque logo a seguir já lá temos mais 100 para processar.
Será a nossa uma geração perdida? Perdida porque incapaz de transformar informação em conhecimento, tal como o estômago que recebe e rejeita vertiginosamente a comida é incapaz de a transformar em energia?
Será que estamos a perder os contornos da nossa capacidade?
Como poderemos nós manter a informação e o poder, e como poderemos nós saber que informação queremos ter e que poder queremos alardear?
Prontussss, estava a recuperar da minha doença e já me meteste noutra. Isso não se faz. Tu juraste que se eu fosse audaz, não me pespegavas com temas de caca. E eu cumpri, desde quarta feira e até ontem que me deitei antes da meia noite, ou melhor, quase nem saía da cama. Tu não cumpriste o prometido. O prometido é devido uuuuu uuuuuu uuuuum o prometido é devido
ResponderEliminarehehehhheh
Boa tarde Uva, que às vezes, poucas vezes, tábenhe, carago!!! umas quantas vezes alegra a minha leitura
Deveras profundo para uma segunda feira. Mas o que retenho mesmo do dia 1 de novembro é o nascimento de meu MaisVelho, 1 mês antes do tempo quiçá à conta da barrigada de merendeiras quentes do dia do bolinho que eu enfardei na véspera. Ah e sei que já nao é feriado... caramba pá!
ResponderEliminarCaramba Uva tens razão :)
Há um tipo, jornalista científico do New York Times, o James Gleick, que escreveu um livro intitulado “Chaos”. O caos como uma nova disciplina científica. Foi editado pela Gradiva há muitos anos. O caos determinista é um assunto complexo do ponto de vista da Física mas que ele trata com uma nitidez acessível a um leigo como eu. Foi um livro que me abriu janelas.
ResponderEliminarEscreveu outro, “The information: a history, a theory, a flood” (li apenas uns pedaços) do qual me lembrei a propósito do teu post. Caso o não conheças, acho que te pode interessar. Há uma versão em Português editada pela Companhia das Letras.
Os conceitos informação e conhecimento interessam-me muito. E aprendi uma coisa com Freeman Dyson (um Físico Teórico que escreveu livros sobre vida para além da terra, alterações climáticas, entre outros) que cita Claude Shannon, o pai fundador da teoria da informação, que trata a informação como uma entidade abstracta (a informação não tem um significado intrínseco, pode ser uma abstracção matemática, um + e um -) e que é um conceito separado de conhecimento (“meaning”). Para não nos afogarmos no mar de informação a nossa tarefa (como dizes), como seres vivos a prazo, é criar ilhotas de conhecimento. As ilhotas não são o solo da verdade absoluta (nunca são) mas, pelo menos, permitem explorar mais além o mar desconhecido.
Adorei!
ResponderEliminarBulimina e intoxicação informativa descrevem muito bem um rol de situações imensas que hoje mesmo num outro blogue fiz referência. Se tivesse lido isto antes :D:D