8 de outubro de 2015

E depois há umas pessoas que fazem umas coisas

Que conseguem deixar-me ali, quieta, ouvindo somente e suspiro profundo e entrecortado, duplo, como fazem as crianças no final do choro, depois de tudo já ter acontecido e não lhes reste senão conter as lágrimas.
Ninguém chora para sempre.
Já eu contenho muitas vezes as lágrimas. Emociono-me facilmente com as esculturas, com a grandiosidade dos sentimentos que algumas peças despertam em mim. Amiúde passo por pessoas muito bonitas, e toda a gente repara em pessoas bonitas, mas nunca olho para trás.
Essa curiosidade é-me no entanto despertada por uma estátua, por um monte de cimento coberto de verdete, os lábios gretados pela erosão, as mãos negras pousadas numas pernas abertas e displicentes, imóveis, duras, sedutoras.
Não sei o que vejo eu na inércia, mas parece-me que certas estátuas têm mais vida que certas pessoas, que certas estátuas me transmitem mais calor que certos corpos, que aqueles olhos vítreos, sem menina, sem íris e sem nada, encerram segredos antigos e novos, de outros tantos olhares iguais aos meus, ali, perplexos, sentindo, como eu, a pele percorrida pelo frémido da maravilhação.

Aqui Lorenzo Quinn.
Um mestre da sublime e arriscada arte, de dar vida às coisas mortas.










2 comentários:

  1. Adoro escultura! Não conheço o artista mas gostei muito da ideia de movimento que vejo nas imagens!

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  2. Boa dica. São verdadeiramente um regalo para os olhos.

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