Ana, 2015
Apresento-vos a Ana.
A história da Ana entrelaça-se nos meus e nos vossos dedos, e serve-nos a todos como uma luva.
Em cada um de nós existe uma Ana, uma força, um querer.
A Ana chegou aos 33 anos com 96 kg.
A lição essencial que devemos retirar dos bons exemplos dos outros é que tudo se consegue se tivermos a capacidade, nem sempre fácil ou facilitada, de prever (o que aí vem e preparar a frente de batalha), de planear (o caminho a seguir se nos atacarem o flanco mais produtivo) e o de persistir (na guerra e na luta, mesmo que as batalhas estejam todas perdidas).
Os verbos que aqui enumero não passam de meras palavras no léxico comum, mas são exatamente estes que na minha opinião separam os vencedores dos vencidos.
Na nossa vida interior, a que se passa dentro das nossas cabeças, amiúde vogam pensamentos moralistas em relação aos outros. É fácil transmitir a quem padece de excesso de peso a lição de como comer menos, que hábitos deve adotar.
Nenhuma teoria vai a lado algum sem a prática, isto é, sem o exemplo prático espelhado na vida de alguém.
O que ganha um gordo com a teoria da alimentação? Não saberá ele, até melhor que todos, os hábitos que deve adotar, os alimentos que não deve comer?
Aquilo que considero importante, muito mais do que as palavras e o saber de quem é magro, é acima de tudo provocar o pensamento no outro, desencadear uma sucessão de pensamentos capaz de ajudar o outro a modificar o curso daqueles acontecimentos diários, os tais que levam ao aumento de peso. O exemplo prático, o show don´t tell, o mostrar ao outro como se faz, como é bom viver sem a guerra constante contra os alimentos, a inércia, o sedentarismo, e levar a que o outro se decida pelo caminho a seguir, e mais produtivo de que muitas horas de conselhos e ombros amigos. Que de resto a Ana não teve.
É na verdade uma dura batalha, porque vede: é muito difícil arrastar alguém que tem um peso imenso, também de culpa e falhanço, para o caminho certo Mas há quem a vença em todas as frentes.
O pai da Ana não venceu a batalha contra o cancro, algo que não estava ao seu alcance, mas a Ana venceu algumas pequenas-grandes batalhas e a verdade é que em 9 meses emagreceu 34kgs.
A pergunta que nos surge de imediato na cabeça é: como é que a Ana conseguiu perder 34kg em 9 meses? Como é que a Ana deixou para trás 10 números? Como é que a Ana passou de um 46 para um 36 e de um XXL para um S? A Ana tinha tudo do lado dela para continuar a engordar. Depois de perder o pai, perdeu a avó, e um tal nível de abandono, uma tal ruptura nos laços filiais, escavaria ainda mais o fosso entre a obesidade e o resto do mundo.
PROVOCAR O PENSAMENTO NO OUTRO
A Ana teve a sorte de se encontrar com alguém que lhe deu a conhecer o outro lado da vida.
Alguém que era obeso e que de repente estava magro. Alguém que é magro provoca pensamentos em alguém que é gordo. O preconceito do magros em relação os gordos existe também no inverso. É preciso enaltecer esses pensamentos, a inveja positiva, uma zanga fenomenal, tocar e espremer a ferida, dizer na cara: olha como eu estou, olha como eu sou, não queres ser como eu? eu fiz isto desta forma, queres fazer também?
Além deste despertar pelo outro, a Ana teve a sua história intimamente ligada ao seu filho Pedro, à época um praticante desistente de BTT. Foi com a bicicleta do filho que a Ana começou a pedalar, e foi também por isso que o Pedro deixou de ser um desistente para passar a ser novamente praticante da modalidade.
PREVER
A Ana pediu ajuda prevendo que a partir dos seus 96kg o mais provável era desistir, e conseguiu uma operação de redução do estômago (Sleeve Gástrico) num hospital público. No entanto, foi também capaz de prever que o denominador comum para casos semelhantes é o regresso paulatino aos disparates alimentares, à entrega, ao abandono. O mesmo se passa com quem faz desporto e vai comer. Na maioria das vezes o inicio da prática desportiva (onde a taxa de desistência é toda na fase inicial) coincide com um aumento de peso. A estranheza deste facto é facilmente dissipada se pensarmos que na nossa cabeça se formam pensamentos erróneos sobre a consequência imediata da atividade física (o emagrecimento) levando-nos a comer mais e com menos culpa 'porque acabámos de perder calorias com o exercício'.
É tão comum ganhar peso no início da atividade física como o é para quem acaba de fazer uma dieta.
Mas há um segredo.
PLANEAR
Quem perde 34kg em 9 meses é alguém com uma força hercúlea. Mesmo com a ajuda da cirurgia. Onde estava escondida esta Ana? Onde estamos todos nós escondidos quando se trata de mudar a sério?
Sim, claro, o corpo esmorece perante a falta de gordura e a lei da gravidade é inclemente especialmente para as mulheres. A Ana não planeou ficar gorda, mas planeou emagrecer definitivamente.
O plano seguinte é outro. É preciso ser forte e ainda persistente para reparar os danos da obesidade que ficaram gravados na pele, na barriga, na memória.
Mas a Ana terá o seu momento.
O plano é tanto mais difícil quanto mais os maus comportamentos estão enraizados no quotidiano.
O futuro é imenso. É preciso encontrar a fórmula certa para não regredir. Esta é a fase mais difícil. É aqui que se jogam todos os trunfos. É aqui que se recupera a auto-estima e o amor próprio.
PERSISTIR
A Ana sabe, todos sabemos, o que fazer para nos manter-mos saudáveis, e magros.
A Ana pegou numa bicicleta de BTT e desatou a pedalar. Nunca esteve sozinha. Intentou em inscrever-se nos inúmeros eventos que todos os domingos acontecem um pouco por todo o país, durante o ano inteiro. Ora está em Setúbal, ora está em Coruche, ora pedala em Sintra ora pedala onde pedalamos todos. Na esteira de uma vida saudável, sempre acompanhada de outros pseudo-atletas que persistem num modo de vida diferente.
A Ana pedala, outros correm, outros nadam, outros dançam, mas nenhum quer voltar a ser gordo, inerte, e infeliz.
A minha história cruza-se com a da Ana num trilho de BTT.
Em comum temos a bicicleta, e outras tantas dietas.
A Ana fez a dieta dos alimentos, eu faço a dieta do meu sedentarismo, e ambas fazemos uma vida completamente diferente daquela que julgámos ser definitiva há uns meses atrás.
Nada é definitivo, nem a dor da perda. O que temos todos de definitivo é a absoluta certeza que nascemos para nos superar a cada dia.
A vida da Ana começa agora.
O trilho é em downhill. A prova é de grande perícia e muita técnica. Já não dá para parar. Toda a gente a aplaude à sua passagem.
És a maior Ana!
Bora pedalar?
Nota da Uva:
Obrigada Ana por me deixares partilhar com os meus amigos esta história fabulosa que é a tua. És um exemplo para todos. Não pares nunca de ser feliz.
Palmas à Ana!!!
ResponderEliminarMuitas mesmo!
EliminarAdorei a história da Ana e toda a felicidade para ela. Também precisava dessa força de vontade para mandar os 15 kg a mais embora de vez. Até vou ao ginásio mas é como dizes , depois como em dobro, nunca mais entro nos eixos :)
ResponderEliminarQueres que te empreste a minha bike??
EliminarQue maravilha, obrigada pela partilha, à Ana e a ti :)
ResponderEliminarA determinação e perseverança, o acreditarmos em nós tem uma força incrível mesmo, apesar de ser o mais difícil de alcançar. Força à Ana (e a todas as "anas") para que continue sempre assim, mais e melhor :) Beijinhos
Obrigada verdinha. A Ana é uma valente!
EliminarObrigada por me apresentares a Ana, Uvinha. Nunca me cruzei com ela, mas talvez um dia aconteça.
ResponderEliminarOlá Ana, parabéns, és um exemplo.
Vai encontrá-la de certezinha!!!!!!
EliminarA Ana está de parabéns, é uma mulher de garra.
ResponderEliminarA determinação é tudo. Estou a acompanhar de perto um caso que em sete meses já perdeu 30kg, só com a alimentação. Tem que haver um "click", algo que parta da própria pessoa e a faça mudar, neste caso foi o querer evitar uma cirurgia de banda gástrica, para a qual essa pessoa estava referenciada.
Fantástica história de vontade e determinação a da Ana, tão bem exposta por ti. Parabéns á Ana. A Ana é a prova provada que se consegue mudar. Um exemplo a seguir por muitos. Conheço um caso parecido não no Btt, mas no ginásio que frequento e que só por acaso também se chama Ana e que até perdeu o emprego por ser gorda. Disseram-lhe que a obesidade lhe impedia de desempenhar a sua profissão. Perdeu praticamente metade do seu peso, foi para tribunal e recuperou o emprego, a auto-estima e recentemente até teve outro filho. Agora voltou ao ginásio para recuperar a gravidez. Mais um exemplo de luta e de sucesso. Acho que as Anas são grandes mulheres.
ResponderEliminarJá conheço a Ana das redes sociais e um pouco da sua hiatoria. Um exemplo e quem precisar de ajuda, eis alguém que pode ajudar. Paulo Dias.
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