12 de julho de 2017

DO APROVEITAMENTO (Parte 1)

[Da sexualidade dos outros]

Se não vou colocar aqui a última capa da Revista Cristina no meu espaço cultural, não é porque não goste da Cristina Ferreira; também não é por achar a Cristina Ferreira uma parola da Malveira, como se a Malveira fosse por si só o berço da boçalidade ou da inconveniência tão características dos parolos - não.
Não vou  colocar aqui a capa da Revista Cristina porque sou absolutamente contra o aproveitamento da condição, inclinação, apetência sexual das minorias, ou da sexualidade no geral, para fins económicos, especialmente se os fins económicos vierem travestidos de grandes ações humanitárias de salvamento, como me pareceu ser o caso: uma Cristina Ferreira com um grande S no peito para salvar com uma revista toda a homofobia da humanidade, um abre-olhos absolutamente inédito na luta contra a discriminação.
Poupem-me.

Uma vez, já não sei em que país, o Governo decidiu legalizar a prostituição, sendo uma das regras para a legalização da profissão o pagamento de impostos por parte dos trabalhadores do sexo.
Houve uma franja que se insurgiu contra o pagamento de imposto, claro, e foi para cima do Governo com uma queixa formal que chegou aos tribunais e que tinha por base o acto de ... lenocínio.

Muito havia aqui para explorar nest post, mas eu hoje não tenho tempo.
Posso apenas dizer que estou totalmente de acordo com o meu amigo Costa Andrade [Presidente do TC] que defende que não há crime quando a prostituição não é forçada e que o crime de lenocínio simples, tal como previsto no Código Penal, viola a Constituição.

Segundo o artigo 169º do Código Penal português:
"Quem, profissionalmente ou com intenção lucrativa, fomentar, favorecer ou facilitar o exercício por outra pessoa de prostituição é punido com pena de prisão de seis meses a cinco anos."

Mas, de acordo com o que diz a Cristina Ferreira, a capa nada tem a ver com o tema do 169.º do Código Penal Português, porque se trata naturalmente de amor puro e duro e especialmente de uma ação de combate; são pessoas que se amam e se beijam numa revista, não com o intuito  de vender exemplares da revista, mas para alertar que há amor em muitos outros lados que não apenas entre o pénis e a vagina.
Mas isso já nós todos sabemos.

3 comentários:

  1. A propósito da capa da revista Cristina, acho a sua análise demasiado simplista. É claro que não vou negar que a Cristina Ferreira quer vender revistas, seria ingénuo pensar de outro modo. Posto isto, não vejo as capas como necessariamente condenáveis.

    Temos de ponderar as consequências dessas capas. De que modo pode a revista Cristina ter contribuído para a discussão sobre a orientação sexual, a discriminação, a homofobia, entre outros assuntos? Teve a revista um impacto maioritariamente positivo ou maioritariamente negativo neste aspecto? O facto de a Cristina Ferreira ter a intenção de ganhar dinheiro não torna, por si só, as suas acções boas ou más.

    Se quer criticar aproveitamento relacionado com esta situação, um bom alvo seria o Jornal das 8, que convidou para debater esta temática com a Cristina Ferreira dois actores que desempenham o papel de um casal homossexual numa novela da TVI. Isto, sim, é aproveitamento. Não por a TVI ter a intenção de ganhar audiência para a sua novela, mas porque convidar pessoas que fingem ser homossexuais numa novela para falarem da sua experiência com discriminação é, no mínimo, insultuoso.

    Quanto à sua última frase ("Mas isso já nós todos sabemos."), não posso, infelizmente, concordar. Não sabemos todos. É optimista pensar que sim, mas há ainda caminho a fazer. Se os catalisadores do diálogo não tiverem a visibilidade que tem a revista Cristina, serão eficazes?

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    1. Bom dia Filipe.

      O meu post veio mesmo a propósito dessa maravilhosa entrevista da TVI no Jornal das 8.
      Coisa para encher chouriços, tá claro, e para analisar uma coisa que só serve para encher chouriços, nada melhor que um post simplista.
      Eu não disse que a capa era condenável. Condenável foi a Cristina Ferreira se ter armado em Super Mulher com o fito único de chocar e vender e depois ter-se armado em Joana d'Arc dos gays com a conversa da chacha. A Cristina não contribuiu em absolutamente nada a não ser para a polémica das redes sociais, porque quem é homofóbico continua homofóbico (quiçá até mais) e quem não é olha para aquilo como uma parolice de todo o tamanho para papalvo comprar.
      Ela ganhar dinheiro com aquela revista é que é um case study, já dizia o Herman.

      Foi tudo insultuoso, mas especialmente essa entrevista.
      Não sei se me fiz entender.

      Sabemos todos sim. Pensar o contrário é que é simplista.
      Um abraço.

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  2. Mais um momento hilariante de "comunicação social".

    Os telejornais nacionais são tão destituídos de conteúdo, seriedade e estrutura lógica, que conseguem ridicularizar qualquer assunto abordado.
    Outro suposto contrapoder convertido em prego do caixão da democracia.

    Ficou entre o "sacrifício" dos actores que filmaram uma peregrinação a Fátima e a nova selfie de uma ex amante do Ronaldo.

    A insanidade é tanta que, apesar dos psicotrópicos, chego a sentir-me lúcido.

    Abraço, querida Uva.

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