2 de novembro de 2017

MANDAR A ÉTICA PARA AS CALENDAS

Olá a todos!
É verdade, parece que finalmente recuperei a password do meu blog. Era afinal a mesma que usava todos os dias para chamar o meu falecido gato.
Ainda bem que os blogs não falecem.

Na posse de todas as minhas faculdades físicas e intelectuais, volto aqui hoje, como volto sempre, porque achei interessante transmitir-vos a minha opinião sobre certas coisas da vida, mormente as coisas da ciência e da medicina, especialmente as que se desenvolvem milimetricamente (e por isso infelizmente), porquanto a ética, essa filha de uma mulher extravagante e alegre, se mascara de mil maneiras para lhes atravancar o caminho, percorrido paralelamente por outros caminhos, muitas vezes tão difíceis de percorrer, como são por exemplo os caminhos daqueles que só podem viver, sobreviver ou ter paz se a ética for para 'escambau' - na nossa língua, para as calendas - e se vejam na posse da ciência, toda ela magnífica, toda ela esplêndida, a operar os seus corpos apagados, e trazê-los de novo à luz e a luz para o caminho.

Numa casa cada vez mais unifamiliar no que ao comando da TV diz respeito, fui ontem a feliz contemplada com o magnífico electrodoméstico. 
Caiu-me nas mãos uma mão cheia de sumidades intelectuais, entra elas o grande Sobrinho Simões, num programa extraordinário que passou na RTP3, e cujo tema foi: 


Queremos viver para sempre?
Manuel Sobrinho Simões, Maria do Céu Patrão Neves e António Bagão Félix
1 DE NOVEMBRO 2017
22H00

Extraordinário debate de ideias, que foi também uma exposição de factos, bem expressados, onde me foi possível ouvir muitas coisas notáveis,  elevadas, e pouco habituais para os nossos ouvidos cheios de ruído-lixo. 
E falou-se de tudo o que implica viver mais tempo, viver melhor, viver para sempre, e que o transplante de cabeças está aí, no virar do ano, com as hipóteses de sucesso a bater nos 90%.
Magnífico tema!
Claro que ao longo de muitos anos, todos os homens que tornaram possível este salto para o abismo que nos permitisse, a nós, Humanidade, cair de pé, suscitou muitas questões relacionadas com a ética, que na verdade esbarram com a necessidade de evoluir e apaziguar a dor, e com o tremendo avanço que isto significa para tantas e tantas pessoas que sofrem.
Transplantar cabeças!
Não entendo a total ignorância no que à ética diz respeito quando se trata de transplantar um coração, um fígado ou um rim. Parece-me que a ética, no caso do transplante de cabeça, nasce com os olhos, isto é, se conseguirmos ver com os nossos olhos um corpo desconhecido, o braço diferente, a mão diversa, logo a ética, cheia de considerações absurdas sobre como se vai sentir o homem cuja cabeça se desprendeu do corpo morto e se liga agora à vida, se levanta e põe o seu dedo no ar, acusarório; mas se os olhos não virem, porque os novos órgãos desconhecidos se escondem por baixo da pele conhecida, então a ética fica sentada no seu canto absurdo, aplaudindo com mão murcha e displicente, os avanços extraordinários da medicina.
A cabeça transplantada conseguirá viver com um corpo novo? perguntam os éticos.
E eu pergunto:
Até quando a cabeça nova deve permanecer agarrada ao corpo velho?
Mando a ética para as calendas e junto-me aos milhões de pessoas que anseiam por isso toda a vida.
Viver para sempre não é o mesmo que existir para sempre.

3 comentários:

  1. Não vi o programa. Mas o tema leva-me a uma história antiga em que as questões éticas punham-se menos e mais as competências adquiridas por virtudes do transplantes. Ocorre a história num congresso de cirurgiões em que cada um dos experientes congressistas dava conta do seu caso, e onde cada um se apresentava melhor que o outro.
    Dizia um primeiro, que um torneiro-mecânico vitima de distração viu o seu braço despedaçado por má operação da ferramenta, ocorreu ao chamado e rápido lhe transplantou o braço. Hoje é campeão olímpico de lançamento de dardo. E mostrou o retrato.
    Veio o segundo, e narrando um acidente semelhante, contou que o acidentado destroçou ambas as mãos, chamado, de pronto o operou. Hoje é maestro muito muito disputado. E mostrou um vídeo e era o tal mostrado, à frente de uma orquestra sinfónica, mexendo harmoniosamente cada mão, dirigindo o compasso.
    Por fim chegou o terceiro. O seu caso era reportado a um acidente ferroviário em que o sinistrado fora degolado e a sua cabeça desfeita entre o carril e o rodado. Contou ir ele passando na altura e socorrendo a criatura, à falta de uma cabeça, lhe colocou em cima do corpo... uma abóbora. Tal criatura chegou a Presidente da República. E ei-lo aqui.
    E entra o Chefe de Estado, entre uma enorme ovação, congresso em peso e de pé.

    Pergunto agora eu: quem é?
    (ou era)

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  2. Eu hoje até cheguei mais cedo só para me deliciar com esta história Roger!
    Acho que o cabeça de abóbora é o .................. Cavaco!!!
    ;)
    Lembrou e bem a Senhora Dra. Maria do Céu Patrão Neves, catedrática em Ética, a disciplina que leciona, que aquando do primeiro transplante de coração, os médicos que operaram, ficaram todos como que em suspenso para ver se o transplantado, quando acordasse, acordava com os mesmos sentimentos do defunto...

    A ética, como ela diz, não pode NUNCA castrar a ciência. Deve antes colocar-nos a pensar sobre o que é isso de ser pessoa.
    Disse também (estou apaixonada por ela) que a ética serve por exemplo para colocar um travão às coisas da ciência que não trazem benefício à humanidade.
    Exemplo:
    A bomba atómica. Um grande avanço da física, um desastre para a humanidade.

    Um presidente com cabeça de abóbora:
    Um grande avanço para a classe das abóboras, agora com pernas, uma grande desgraça para Portugal!
    Chamem a ética!!!!!!!

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  3. Cavaco? Esse transplante é mais recente
    e o recurso à abobora foi a pedido do eleitorado.
    A minha história, é do tempo, minha amiga
    em que o eleitorado nem sequer existia
    Américo Tomás, era esse o abóborado

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