3 de novembro de 2017

URBAN VEM DE URBANIDADE?

Olá outra vez!
Desculpem maçar. Cheguei mais cedo, voltei a ler, pelo que a cabeça, assim que vê assomarem-se os livros, desata num pranto de palavras.
Alguém tem de limpar.

Vi ontem, com grande admiração, uma rapariga muito ahh-ohh-ahh a filmar um bruta-montes carregadinho de esteróides, a fazer uma entrada a pés juntos na cabeça de um ser humano (des)falecido no chão.
"- Filma, filma, estás a filmar? Eu vou processar este gajo!"

O Ruim, que é um 'comediante' do Facebook, fez notar no seu post de ontem, que, de tudo o que tinha visto no vídeo, e foi bastante - pelo menos para mim - aquilo que mais o afligiu foi que tudo se tinha passado já o sol raiava, e de todas as pessoas que por ali estavam, umas a mastigar bocados de carne picada com pão, outras a escorropichar o resto morto da cerveja, nenhuma delas estava a usar óculos escuros...

O que se passa com as pessoas?
As pessoas saberão o que se passa com elas?
As pessoas saberão que há vidas que acabam assim, com uma entrada a pés juntos?
Uma pessoa está a ser espancada por um marmanjo do tamanho de um vidrão, com os outros caixotes do lixo a ver, e ninguém faz nada a não ser filmar a cena como se estivéssemos todos num filme? 
Aquilo a feder por todo o lado, a porcaria a escorrer da farda, a envergonhar a profissão, a deixar-nos a todos morrer por dentro, de raiva, de incompreensão, de humanidade, e urbanidade, e há uma miúda que disponibiliza o seu Iphone para filmar um gajo a morrer para depois processar o assassino?

Processar o assassino?


20 comentários:

  1. O grande problema é que de onde vieram os dois - e depois quatro - seguranças vêm mais 10 ou 11... Quem tenta ajudar também acaba por levar!
    Já vi amigos meus a tentar ajudar um perfeito desconhecido e foi ver um "exercito" de seguranças a sair a correr do dito estabelecimento para, literalmente, aviar em quem se mete à frente... Quem assiste a isto e quem frequenta habitualmente o Urban (que já não é o meu caso há largos anos) sabe que isto é recorrente e quem se mete vai acabar por "levar" por tabela.
    Não digo, contudo, que seja desculpa para não se ajudar quem está naquela posição, mas é a realidade com que nos deparamos e garanto que a escolha é bem mais difícil quando se está lá, in loco, e se sabe que vai levar pancadaria daqueles "seguranças" do que opinar depois de ver um vídeo na segurança de casa/trabalho/onde quer que seja.
    A a pessoa que filmou ajudou bem mais do que qualquer outra pessoa que lá passe porque claramente demonstra o que se passa e FINALMENTE surtiu ação por parte das entidades competentes. Ainda que seja provável que o vídeo acabe por não ser admitido como meio de prova, abrirá as portas a uma tão necessária e tão adiada investigação...
    Quanto aos que petiscavam o seu cachorro ou bebiam a sua cerveja, a consciência de nada fazerem e de apenas assistirem ao "espectáculo" é algo que terá de ficar na consciência de cada um... O que também se dirá dos milhares que lá passam, consomem e contribuem para a casa, sabendo que o que se passou não é inédito nem tão pouco raro, sendo já encarado como "normal"...

    ps- obrigada por ter voltado!

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    1. Eu é que agradeço sempre (com espanto) que ainda passem nesta terra de ninguém, que sou eu.
      Muita razão cara amiga, muita razão, mas acaba por ser muito perigoso substituir policiamento afetivo, homens no terreno, por Iphones. Sim, hoje em dia é tudo filmado, mas a morte não se salva com um vídeo, e é absolutamente inadmissível que não haja ninguém aos gritos a dizer que vai chamar a polícia, ou mesmo que a polícia está a chegar, mais não seja para acabar com aquilo. Não podemos fazer depender a solução para o bullying nas escolas de uma tipa que filma a agressão. Os seguranças não são pagos para fazer justiça com as próprias mãos. São pagos para assegurar a calma. Não há razão nenhuma para aquilo acontecer ali no meio de tanta gente e deixarem um ser humano ser espancado quase até à morte. Estavam ali mais de 100 pessoas a ver. Palavra de honra se não ia lá gritar acudam!

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  2. Eu já estou preparado: https://peripeciasdeumsolteiro.blogspot.com.es/2017/11/vou-aterrar-daqui-umas-horas-em-lisboa.html?showComment=1509707437031#c646996178891613085
    Melhor que um iPhone!

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    1. Hahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahaha!!!

      (Tu com esse sentido de humor todo, és solteiro porquê?)

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  3. O que se passa com as pessoas?

    Pessoas?

    Abóboras e nabos, cara amiga
    Abóboras e nabos
    Cambada de vegetais transplantados

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    1. Sim, temos muito vegetal por essas vielas fora.
      Mas temos sobretudo uma lei que não cumpre!
      Um código penal que não cumpre!
      Molduras penais que não cumprem!
      Juízes que não cumprem!
      E por aí vamos ao som do velhinho (e estoirado) Zeca Afonso.

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  4. Sou mãe de um ex frequentador do urban, felizmente cresceu e considera que a espelunca é para putos, e é, na verdade, talvez daí a pacividade, estão habituados a episódios de violência assim. Dizia eu que sou mãe de um ex frequentador que levou sempre a lição bem estudada: não se meter em confusões, não se armar em herói para salvar alguém, fugir da dita sala sem câmaras onde espancam os miúdos sem dó nem piedade. Isto é do conhecimento das autoridades que deviam ter tido uma acção preventiva, o número de queixas fala por si. Pedir a alguém que se meta é pedir que não tenha medo de morrer para salvar um desconhecido. Finalmente encerrado.

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    1. Também sou mãe de uma menina que não tarda me vai pedir para ir ao Urban.... help!
      Entendo perfeitamente o que me diz, e concordo que os nosso filhos nunca devem meter-se em confusões, menos ainda se for para levar porrada desta seguinte maneira.
      Mas há uma palavrinha que muda tudo: alteridade.
      Se fosse o seu filho ali deitado, a incompreensão que logo se adivinhava ao seu (e ao meu)espírito de mãe, punha-lhe de imediato esta questão: porque ninguém o ajudou?
      Tão certo como a noite.
      Ajudar não seria ir lá dar o peito às balas, mas seria de forma concertada, acabar com aquilo, através de gritos ou outras formas de chamar a atenção, como seja aproximar-se alguém com os tais telemóveis que filmaram às escondidas e vá tudo a filmar a cara dos valentes baldes de merda. Tudo mas tudo. Todos ali à volta a gritar. Assim não, assim deixaram o rapaz ali meio morto, e nem um pio, e tudo a ver que mais um pouco e matavam-no à porrada.
      Eu percebo que os heróis podem não salvar sempre todas as vidas, mas houve e haverá heróis que salvam e salvarão ainda muitas vidas.
      Perante esta situação e porque o MAI fechou a espelunca, I rest my case, e acho que agora sim, agora fez-se justiça (pelo menos uma parte) e espero que nunca mais ninguém seja selvaticamente violentado por esta corja de profissionais criminosos que são os seguranças da noite.
      Palavra de honra que estou perplexa por terem deixado isto correr tanto tempo.

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    2. Ora ai está a pergunta acertada.
      É que ter deixado o tempo andar
      trinta queixas e imagem afamada
      é atrativo para a chunga a frequentar

      só que desta vez, os vegetais passaram-se

      (quando hoje ao almoço a minha filha falou da reputação do lugar, percebi que a gente jovem que o passou a frequentar só lá vai para... avacalhar. Coitado do incauto que lá calhe.)




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    3. Sou a mãe do ex frequentador do urban. Sei o que é ficar a pensar porque ninguém o ajudou quando foi assaltado à porta de casa, ameaçado com uma faca. Ele não achou, mesmo, que alguém que passou naquele momento o tivesse de ajudar, não se revoltou sequer com isso. É muito estranho, mas é mesmo verdade, os miúdos assistem a coisas que nem nos passam pela cabeça. Quanto ao urban, a fama é péssima há muito tempo, as miúdas são rotuladas, as rede sociais gozam o pagode, os rapazes perdem a noção dos mínimos aceitáveis, os pais pagam a Uber. Nunca percebi a falta de intervenção das autoridades, a falta de controlo nas festas cheias de menores. As festas de encerramento dos períodos lectivos são ali, os miúdos bebem até cair, ninguém quer saber, os mais afoitos seguem para a tal sala sem câmaras e é até as bestas se cansarem. Isto é público, há anos que acontece, as autoridades sabem, se eu sei, e não tenho propriamente um filho que me conta tudo, os outros pais também sabem. A observação do meu filho há bocado: não tarda e está aberto outra vez, este encerramento é mais política do que outra coisa. Só tem 20 anos, parvo não parece ser. Culpa total, completa e absoluta das autoridades, tudo o que se passou ali nos últimos anos.

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    4. "Nunca percebi a falta de intervenção das autoridades".
      É aqui que bate o ponto. Esta situação é a mais gritante consequência da falta da intervenção das autoridades ao longo do processo que durou mais de um ano com queixas atrás de queixas.
      As autoridades entraram em campo tarde e a más horas, fecharam aquilo, libertaram Lisboa de um local que não fazia jus à sua fama de metrópole segura, e agora já todos dizem que afinal não, que afinal a culpa é toda do rapaz que era um malvado meliante.

      Não se percebem as pessoas.

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  5. Era, de facto, preciso que toda a gente se mobilizasse para impedirem o espancamento e eu também não percebo porque é que não o fizeram, todos juntos. Mas entendo porque é que cada um individualmente não o fez, tens o caso recentíssimo de Coimbra, onde dois marmanjos que não são seguranças de coisa nenhuma, mandaram para o hospital um rapaz que se meteu na rixa que haviam iniciado com um empregado do MacDonalds. O resultado mais visível de tal ato heroico? Ficou sem um único dente na boca...

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    1. Verdade, daí eu dizer que apesar de naquele caso não ter havido um único herói, sequer um pluri-herói, poderia ter acabado mal. No caso de Coimbra (vi hoje e valha-me Deus!!) os heróis ficaram sem dentes, mas salvaram uma vida.
      Efetivamente sozinhos não somos ninguém, por isso é que os seguranças eram 4,porque se fosse só um não se metia à besta.
      Eu predispunha-me a perder todos os dentes se soubesse que poderia salvar uma vida.
      Acho que qualquer pessoa de bem o faria. Não sei...

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    2. Uva, o rapaz teve muita sorte em ter ficado "apenas" sem dentes... ele também estava inanimado no chão enquanto era brutalmente pontapeado na cabeça, correu sério risco de vida. Sou sincera, amo demais a minha vida, mais do que os meus dentes, por isso digo que sozinha nunca me meteria na confusão. Ah! A namorada do herói de Coimbra também levou uns valentes tabefes.

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    3. Eu aceito totalmente a tua sinceridade e entendo-a como se fosse minha.
      Também sou quarentona, "if you know what i mean"...

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  6. Não maças nada, fazes uma falta que nem imaginas.
    Estava para escrever exactamente sobre a passividade da assistência quando te li. Nunca o faria de forma tão clara e assertiva como tu o fizeste.
    Tenho muito medo, sabes? Tenho medo de estar a criar heróis que intervenham e também sejam violentados por isso; tenho medo de estar a criar passivos (indiferentes?), que o máximo que fazem é filmar. Sempre aprendi alguma coisa nas aulas, nem que seja o básico ditado “Tão ladrão é o que vai à horta como o que fica à porta”. Está é a mais clara manifestação de cumplicidade/ co-autoria. Não se ouve uma única voz (e estão ali quantos? 40? 50?) a pedir para chamarem a polícia.
    Não sei o que é que estamos a criar.
    Mas sei que não sou assim. Nunca fui, nem mesmo naquela idade (parva?).

    Volta sempre, Uvy.
    Abraço de mãe

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    1. É gritante e muito desconcertante a passividade das pessoas. Como se de repente tivéssemos perdido aquilo que que somos feitos. Perdemos as qualidades gregárias, de entreajuda, de nos compadecermos com as dores dos outros, de sermos solidários e heróis.
      Percebo o medo que é entrar de peito aberto nestas situações, mas há alternativas, mais não seja gritar ou em grupo ir ajudar.
      Não sei.

      Volto sempre.
      Ando um nadinha afogada em trabalho.
      Abraço!

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  7. Eu lembro-me de sair à noite, ainda nem idade tinha p conduzir. O bairro alto tinha uma fama das piores na altura. Ele eram os skins ele era a pancadaria e o diabo a 4.
    Sim, havia pancadaria, que havia. Mas a malta ia toda. Mas na altura tb m havia telemóveis perder o tempo a filmar.
    Mas atenção, tb eu fui educada na máxima "tu n te metas confusões" e n sei se n irei educar (parcialmente) assim os meus filhos. A verdade é q individualmente, de facto, alguém tentar ajudar é só condenar-se a si pp. Mas n o q me faz confusão é aceitar esta individualidade se estão p cima de 10, 20 ou 50 pessoas a assistir.

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  8. Ah, saudades tuas pá. Uma pessoa de baixa em casa, com tempo p ler e tu desapareces assim 😉
    Tu n voltes a fugir

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