7 de novembro de 2017

PENSO LOGO DISCORDO - Uma espécie de Carta Aberta contra a violência (das palavras)



Escrevo porque não me posso calar.
Escrevo, sobretudo, porque não deixei nunca de me posicionar quando me insurgi, tantas vezes, contra os Governos, contra jornalistas medíocres, oportunistas, fackers, click baiters, e outros escroques que nos rodeiam, ou porque nunca deixei de dar a conhecer e elevar  todos os que prestam ou prestaram serviços de interesse à sociedade, quer através de blogs, da arte ou das letras, isoladamente ou em conjunto, profissionalmente ou não.
Escrevo, não para agredir, de braço no ar e boca escancarada.
Não me interessa falar sobre quem debita impropérios nas caixas de comentários. Já há muito que deixei para trás esse tipo de pessoas, que trocaram o psiquiatra e os diversos tratamentos de choque para se estirarem, dilatarem e espraiarem nas cadeiras do virtual, anonimamente, cobardemente, agredindo e sendo muito felizes assim. Interessa-me muito mais quem detém um certo poder e uma certa visibilidade, quem tem um público concreto, fiel, amantíssimo; que se expressa e trabalha através de blogs, que vive da sua escrita e do seu produto on-line, e que por isso tem uma responsabilidade social muito maior que eu, ou do que qualquer nauseabundo comentador de rede social.

As palavras têm peso. É só disso que se trata, e considerando alguns exemplos recentes, de posts em blogs, com opiniões tão contrárias à minha, e tão profundamente erradas, a primeira frase que me vem à cabeça é: "perdoa-Lhes que eles não sabem o que escrevem".

Percebo, à partida,  uma certa posição irada, ferida, quando alguém se posiciona a favor de um agressor, mas não a posso prosseguir.
Tão pouco posso considerar que todas as pessoas que concordam em algum assunto, em massa, como por exemplo as pessoas que votam todas no mesmo partido, ou frequentam o mesmo curso de línguas, sejam carneiros, ou 'a carneirada'.
Carneiros são animais, pelo que as pessoas que não são como nós, que não fazem as coisas da mesma maneira que nós, que não caminham ao nosso lado, ou que pensam de maneira diversa e distinta de nós, não o são, naturalmente.
As pessoas são gregárias. Essa é talvez a palavra mais correta.
Animais são outra coisa. Comportamentos animais ainda outra.

[E uma vez que muitos são também os que caminham em sentido contrário, do outro lado - ao nosso lado - às vezes calados, mas muitas vezes em maior número, é difícil não ser também aquilo que se julga ser apanágio só de outros, e  facilmente se decaí para outro rebanho, mesmo que seja um distinto rebanho de ostras.]
Não há perdão para a violência. 
Não há perdão para quem violenta, quem agride, quem ameaça, quem chantageia, quem persegue, e depois para quem, e também não pode haver perdão para quem, de alguma forma, através de exemplos mais ou menos válidos, verdades mais ou menos reais, defende essa violência.
Não considero que haja zonas cinzentas quando se trata de crime. Não é possível reprovar o crime e desculpar o criminoso, não é possível ter o bolo e comer o bolo.
Há sempre uma solução para a violência que não passa nunca por mais violência.
Não andamos a gastar rios e rios de dinheiro na recuperação de toxicodependentes, alcoólicos, e agressores, para depois chegar ali um segurança de um espaço público e quase arrancar a vida de um homem à porrada, sadicamente, robotizado, alheado.
E dar-lhe razão porque afinal o agredido era também ele um agressor.

Não me alongo sobre o crime em si, visível perante milhões de pessoas, bárbaro, mas estou convicta que algumas pessoas possam estar equivocadas quando põe paninhos quentes em cima de grupos empresariais da noite e, - mais grave ainda -, paninhos quentes em cima de comportamentos agressivos que são nitidamente de grupo, de matilha, organizados, 38 vezes denunciado, fazendo decair todas as culpas para aquilo a que chamam de 'one man show', isto é, um homem louco, que decidiu sozinho acabar com a vida de um ser humano, aos pontapés.

Não há perdão para a violência das palavras.
Haverá muita gente que enegrece e tisna o dom que as palavras têm de provocar a mudança nos outros.
Há quem use a sua (excecional) palavra para chegar aos outros e o faça de tal maneira que a mensagem chega, e dá uma ideia inquinada de si próprio.
Há quem se estatele ao comprido quando decide fazer juízos de valor sobre classes inferiores, pondo-lhes o pé em cima, de forma soberba.
Há quem tenha muitas razões para se insurgir contra o Estado, contra a falta de segurança, contra o Processo Penal, contra as penas suspensas, contra criminosos que são apanhados em flagrante e nada lhes acontece, contra andrajosos seres humanos que matam as mulheres, contra as mulheres que enganam os maridos, contra a sociedade dos amiguismos, clientelismos e outros crimes superlativos.
Sim.
Mas quando alguém se predispõem a defender pela força das palavras, que tão arduamente conquistou, a violência a um ser humano, seja ele qual for, o 'tem que ser porque tem de ser', então só me resta encolher os ombros.

Havia um senhor que dizia:
"Aqueles que abrem mão da liberdade essencial por um pouco de segurança temporária, não merecem nem liberdade nem segurança"
O Senhor era Benjamin Franklin.


Deixo aqui o meu silêncio.
Nas minhas palavras.

1 comentário:

  1. E é por isto q eu gosto tannnnto de te ler. Cá beijinho (posso estar com as hormonas alteradas,que pari à pouco...😉)

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