24 de janeiro de 2018

DA PLATEIA

Fui sempre uma criança com problemas comportamentais.
Não é segredo para ninguém [eu também não quero que seja] que desde cedo desenvolvi uma personalidade baseada numa certa incapacidade para reconhecer a autoridade, o sistema, a hierarquia, e depois, os despojos disso tudo transformados numa forma muito enviesada de perceber os outros e as suas intenções.
Às vezes penso que a verdadeira génese deste meu infante problema foi de ter sido filha única e neta única, sem irmãos para partilhar as tantas regras e regrinhas que os adultos sempre tentam impingir às crianças, condicionando-as desde sempre a serem iguais a elas, ou a servi-las.
Era muito comum eu desobedecer, e desobedeci até bastante tarde, sobretudo se a regra era imposta com plateia.
Acontece bastante, sobretudo em famílias alargadas, existir uma espécie de teatrinho, em que o todo poderoso - chamemos-lhe assim -  aproveita a grande plateia presente e numa tentativa de 'já agora aprendem todos ao mesmo tempo', lança os castigos à criança [por vezes físicos] em público, para que todos possam ver até onde pode ir uma autoridade.
Aplicam o castigo e semeiam a vergonha e a insegurança, claro está, e se tudo correr como planeado ainda somos capazes de experimentar as réplicas desse tsunami da educação (que é enxovalhar a dignidade da criança em público) na boca de outro alguém que vem dizer: estás a ver, não tens vergonha, olha lá toda a gente a olhar para ti'.
Sim, estou a ver toda a gente a olhar para mim, sim, estou em cacos, sim, os outros são todos muito melhores que eu, sim, não sirvo para nada, sim, sou uma merda.

É triste.
E deixa marcas.

Eu sei que as crianças não são vidrinhos, mas não gosto de ver crianças a ser repreendidas à frente de outras pessoas, como não gosto de ver uma criança a chorar e a ser rebaixada em frente de um público que se regozija com isso. É aí que a criança sente pela primeira ver o desamparo porque mesmo no meio de uma multidão não há ninguém que a possa salvar. Ela chora para aprender que falhou, que fez mal e não conseguiu chegar lá. Mas chora para um público que não a compreende, que ela não conhece, que não quer saber dela senão para a usar durante o tempo que dura um programa de televisão, ou durante o tempo em que uma qualquer autoridade resolveu exercê-la.
E chora sozinha, no banquinho amarelo dos pensamentos, virada para a parede, no quarto sem jantar.
No fundo, onde eu quero chegar, é aqui, a esta espécie de exposição que hoje vemos na televisão, nos blogues, e em todas as esferas da nossa vida social.
Quando uma criança se sente e chora, está extremamente vulnerável. Eu quando choro será quase de certeza por não ter outra saída senão aquela, tendo esgotado todas as minhas forças para a resolução de um problema que me vi incapaz de resolver.
Um progenitor, cuidador, ou canal, não pode pôr-se em bicos de pés para apanhar numa fotografia ou num vídeo - que depois replica por milhares de outras pessoas - o estado fragilizado de uma criança que chora, que está totalmente vencida pela vergonha, que antes de tudo precisa de colo e de se sentir segura.
Eu creio que as pessoas não evoluíram muito relativamente às crianças. Usam-nas como troféus ou extensões de si próprias, usam-nas para se evidenciarem, usam-nas de todas as maneiras e feitios. Usam-nas autoritariamente, usam-nas mal.

Só eu sei de que maneira é que essa realidade me agrediu, me foi hostil, me transformou.
Custa-me horrores pensar nas tantas vezes em que fui exposta e castigada pelo meu comportamento na escola, sobretudo na escola, em casa, sobretudo em casa, em família, sobretudo em família, e no facto de ser constantemente repreendida com uma plateia imensa de olhos e de juízos, nas palmadas que levava em qualquer sítio, porque uma palmada na altura certa é que é, um videozinho na altura certa é que é, um programazinho na altura certa é que é, e depois é o que se vê.

O único direito que temos é o de amar as nossas crianças. Nada mais nos é permitido. Dentro desse absoluto amor, virá uma educação, virá a transmissão de valores, virá até um ou outro ralhete muito intimo, mas o que não pode vir, e sobrevir, é esta usura que se faz de um capital que muitos pensam ser as suas crianças, fazendo recair sobre elas os juros altíssimos que se irão repercutir para a vida toda.

É triste.
Viver com marcas.

34 comentários:

  1. "Mas toda a fraqueza do amor. Ainda é mais forte que o próprio aço. Deus é esse amor real, imortal. Infinito e salutar. Não cobra amor por amar. Não cobra amor por amar. Indizível esse amor, remidor. Faz todo o mal suplantar. É triste viver sem amar. É triste viver sem amar. É triste viver sem amar. É triste viver sem amar."
    AbraçO

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    1. É sobretudo triste viver sem ser amado, ou pelo menos sem ser amado na intimidade, sem ninguém ver. Acho que algumas mães, não sei bem porquê, resolveram amar as suas crianças em público.
      Aquela última mãe da supernanny, sabe-se lá o tempo que passou sem amar a sua filha mais velha na intimidade, abraça-la quando ninguém está a ver, beijá-la, dar-lhe mimo. Foi preciso ir lá a televisão para ela ir (muito contrariada, quase que já nem se lembrava como se fazia aquilo de dar abraços) abraçar a sua filha Lara.
      Muito triste.

      É uma coisa tão triste isso de amar em público.
      É só triste mesmo.

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  2. É exatamente isso, sem tirar, nem pôr! O resto são tretas.

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    1. E está a ser terrivelmente difícil desfazer as tretas da cabeça das pessoas.
      Têm os valores todos trocados.
      Ando tudo a apanhar bonés na educação dos filhos.
      Em casa é que se dá a educação, na intimidade, não é irem em desespero de causa fazer aulas de educação parental para a televisão. Os podres todos ali, com as moscas a assistir.
      Já escrevi não sei onde que estes pais precisavam era de mais e melhor sexo.
      S-E-X-O!!
      Se o sexo não fosse prazeroso então que o fossem mostrar na televisão, com uma super-adulta a dar as devidas dicas com o cameraman a apontar as luzes para o foco doente da relação.
      E depois (como na Supernanny) acabava tudo em bem, num maravilhoso orgasmo múltiplo, com Portugal todo a aplaudir.
      Isso é que eu gostava.

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    2. Ahahahahahahahahahah :D
      Juro que não foi nada que não tivesse passado pela minha cabeça, já que estamos numa de "ensinar" os telespectadores a educar uma criança, porque não um programa no mesmo formato que ensine a fazer sexo como deve ser? É que não são só os problemas de parentalidade que afetam negativamente a sociedade, a falta de sexo de qualidade também afeta muito, quem sabe se não será esse o problema que está na origem dos outros todos! Olha se a SIC nos lê... :D

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    3. O mau sexo é um grave problema social, que afeta grande parte da população.
      Andassem todos mais entretidos uns com os outros e deixavam as crianças, a SIC, e quejandos em paz.
      Irra!

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  3. Sem dúvida.

    Ainda não vi o supernanny, por isso não me vou pronunciar, apenas baseado no diz que disse!
    Não vou ver o supernanny porque acho que é pior e desce uns furos abaixo de big brothers, casas dos segredos, quintas e loves (on top or in the bottom - who cares?!), programas esses que já não via por considerar que são meramente lixo televisivo, reflexo da mentalidadezinha de Me*** que tanta gente tem!
    Portanto, nunca me pronunciarei acerca do dito programa, a não ser para o meter no bolo do lixo televisivo. Aliás, acho que qualquer menção feita ao dito tem o efeito perverso de gerar mais audiências para a estupidez.

    Posto isto e voltando à letra do teu texto, é triste viver com marcas, sim. Mas são todas essas marcas que acabam por fazer de nós quem somos. São elas que nos preparam para nos defendermos de quem nos quer realmente mal. E, algumas dessas marcas são lições de humildade numa idade em que pouco mais somos do que pequenos psicopatas ambulantes.

    O que não quer dizer que não haja uma prepotência associada, em alguns casos!
    Mas muitas vezes a chamada de atenção, mais ou menos velada, tem de ser feita na hora certa. Quando não é, perde-se o possível efeito educador que se pretendia.

    E há uma enorme diferença entre dar educação e ser prepotente, simplesmente porque se pode! Quando se é prepotente, não se educa! Abrem-se fissuras numa parede que dificilmente poderão ser tapadas...

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    1. Sim, corretivos na hora certa e sobretudo no sítio certo, porque há uma hora e um local certo para se fazer tudo, e bater numa criança em frente a uma plateia de gente, tem (teve comigo - julgo que terá com muitas mais)um efeito muito perverso.
      A certa altura só pensas em vingar-te e isso vai correr mal.
      Eu educo (às vezes com mão de ferro) a minha filha, mas não é à frente dos amigos e nem da família, e digo mais, muitas das vezes nem em frente do pai. Sou eu e ela, ela e eu e acabou o teatro. Cria intimidade entre mãe e filha, e transmite segurança.
      Ainda hoje tenho amigas que se lembram (e falam disso) de quando a ML era pequena e fazia terríveis disparates nas festas de aniversário ou em casa de alguém, por causa do excitex e tal, e de eu agarrar nela com toda a calma, levá-la a algum sítio resguardado da casa, fazer o meu papel e devolvê-la com a setença lida à festa.
      Espectáculos é que não.
      Não suporto.

      (E não me levem a mal, mas foi de apanhar muito da minha mãe (mãezinha tu eras muito terrível pah, mas eu gosto de ti na mesma) que fiquei assim).

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  4. Tão verdade, tão certo.

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  5. Off topic. Como é que alguém que tem problemas com regras acaba a fazer ginástica de competição? Cá para mim não tinhas mesmo problemas com regras, limitavas-te a fazer disparates como qualquer criança saudável.

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    1. Fiz muitos disparates e um deles foi desistir da ginástica porque um professor me apalpou o rabo num salto ao cavalo (na ideia dos outros que viam tudo de fora, e sem enquadramento).
      Ele apalpava o rabo a todas, mas mim só apalpou uma vez.
      Eram estas as regras, obedecer sempre, sem questionar, e foram sempre estas que me fulminaram. Um professor a exercer a sua autoridade.
      Por outro lado, na ginástica era onde menos regras me impunham. Aquilo era tão natural em mim,tão maravilhoso, que a regra era: vai para casa que já estás aqui há horas demais!!

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    2. As regras mantêm-se, obedecer cegamente. Irrita-me valentemente que a minha filha tenha medo de dizer que tem uma lesão, tenho de andar em cima dos treinos quase como se fosse eu.
      É por causa desse tipo de clima que depois aparecem Larry Nassar(es)

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    3. Tenho pena das miúdas. Por tudo.
      Tu não tires nunca os olhos dela. Por tudo isto e muito mais, a competição, o ódio, o sofrimento e as dores.
      Não podemos perdê-las um segundo de vista.

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  6. Uva, a ver se eu entendo: então desrespeitar tudo e mais alguma coisa, não acatar rigorosamente nada só porque se nos contraria lá o que nos apetece, não nos envergonha, cá agora, é tudo fibra, o que nos deixa de rastos a chafurdar na humilhação acontece quando tentam fazer-nos ver que aquele não será, talvez e assim de repente, o melhor caminho. Confere? (desculpa que te diga, mas não vamos lá de mimimi)

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    1. (acho que se percebe que eu não estou a falar de programas de televisão, antes de formas de sentir e pensar que nem sempre temos muito bem esclarecidas, e provavelmente nem é possível esclarecê-las em absoluto. o certo é que opinamos e agimos muito em função de "marcas" e perdemos a objectividade)

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    2. Posso tentar responder? Julgo que as palavras-chaves são assertividade, coerência e regras. Daquilo que vi nos programas que já passaram, faltou isto àqueles pais, não lhes vi assertividade nenhuma, vi desorientação pura. Não lhes vi coerência, vi uns pais ora a ralhar, ora a achar imensa piada à birra e também a desautorizarem-se mutuamente. Não vi quaisquer regras, vi que o que é hoje não, no dia seguinte já é sim. Ora, perante isto, é natural que aquelas crianças também se sintam perdidas naquilo que lhes é ou não permitido, desconhecem os limites, sentem-se à deriva e no direito de fazerem o que lhes der na gana. Garanto, por experiência própria, que se estas três palavrinhas estiverem sempre presentes nas cabeças dos paizinhos, nunca haverá necessidade de repreender, bater, gritar ou o que quer que seja, em público. No fundo, quem precisa urgentemente de educação são os pais e para educar pais, não é preciso que estejam presentes as crianças, um cão faz o mesmo efeito.

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    3. Miúda, a cena é: a forma como entendes que deves educar o teu infante é lá contigo. Se queres bater-lhe à frente de um supermercado inteiro, bate. Se queres que ele te respeite tens de te dar ao respeito.
      Respeitar uma criança é das coisas mais complicadas de fazer para quem não tem respeito por ninguém nem por si próprio.
      As crianças são seres que necessitam de balizas, e exemplos.
      Que exemplos se dá a uma criança se teimamos em humilhá-la faltando-lhe ao respeito?
      Antes da criança desrespeitar uma mãe, já a mãe falhou várias vezes.
      É a minha convicção.
      Ver crianças a morder e a bater nas mães à frente de estranhos quer dizer o quê? Que a mãe já lhe ensinou isso, porque já lhe fez o mesmo à frente de outros.
      As crianças são imitadores.
      Somos todos.

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    4. "a forma como entendes que deves educar o teu infante é lá contigo"

      ...

      ah.

      ...


      oi?

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    5. É uma maneira de dizer. Tu e os outros pais. Não sei se tens filhos.
      O teu comentário estava meio confuso.
      (Se calhar respondi um disparate qualquer e não era nisso que estavas a falar.)

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    6. Olha só agora é que vi o outro comentário, Kina.
      Estou a perder a tineta já.

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    7. Quarentona: somos duas. Quarentonas e a partilhar da mesma opinião.

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    8. O que eu quis dizer?

      Cada um de nós tem as suas experiências, os seus traumas, os seus mimimis. Se nos apetece falar sobre isso, desabafar, óptimo. Até pode ser que consigamos desfazer alguns nós e libertar-nos. Fazer disso trampolim para absolutizar convicções é que pode tornar-se perigoso (a literatura e o cinema são pródigos em exemplos em que a personagem, atormentada por um passado por resolver, atenta nas mais elaboradas insanidades que quase sempre culminam na tortura mais ou menos indiscriminada de outros. Algumas até, armadas em justiceiros, acreditam piamente perseguir o que é certo e justo, mas lá está, no fundo, é sempre uma vingança, é sempre pessoal). Se não queremos ser lobo não lhe vistamos a pele. Quem sabe as nossas consciências, a de cada um, não andam precisadas de privacidade.

      (ainda não há muito tempo andou aí um regabofe qualquer com uma Maria Leal, era tudo a falar sobre, a gozar, a imitar, eu sei lá!. nunca vi esse vídeo, como me recuso a assistir a uma grande parte das gravações que agora se chamam virais. isto sou eu e as minhas convicções. não vou é desatar a chamar nojentas às pessoas que viram e que acharam muita graça e se fartaram de gozar o prato, nem vou inventar um crime para as prender, nem vou atirá-las para a fogueira mais à mão)

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    9. Concordo em absoluto.
      Sei muito bem como sou e em que gavetas tenho os meus pecados.
      Há uma frase que eu gosto muito e vou aqui escrevê-la novamente: somos da infância como somos de um país.
      É inevitável escapar-lhes porque vamos lá voltar mais cedo ou mais tarde, e voltamos lá todas as vezes em que precisamos de conforto. Eu vou muito à minha infância, especialmente quando me sinto perdida ou triste. Como o emigrante que volta para uma coisa que ele não sabe explicar muito bem o que é e nem porque volta. É um cais, é uma melancolia, sei lá.
      Não sou nada de absolutismos, eu. Não sou radical, porquanto já mudei muitas vezes de ideias (até sobre pessoas, até mesmo sobre ti), pelo que não posso pedir desculpa por voltar à infância para exemplificar, e justificar os meus comportamentos e as minhas posições. Mas concordo com o que dizes e percebo.
      Tenho imensos nós, como é bom de ver. Todos eles relacionados com a infância, como também é bom de ver, e preocupo-me muito porque parece que há cada vez mais pais a disporem da infância dos seus filhos de uma forma imprudente.
      É como a velha história sobre quem tomava pastilhas nas discotecas nos anos 90. Quais são as consequências futuras disso? Ninguém sabe. Não há ainda velhos dos anos 90.

      Mas olha, eu gosto de escrever aqui. Gosto de privacidade mas também gosto de testar os meus sentimentos e visões sobre as coisas.
      A pessoa vai moldando a consciência.
      Vamos vivendo.
      É isto.

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    10. Uva, a casa da infância é A Casa, A Casa-Infância, disso não tenho dúvidas. Os meus pais não foram, de longe, os melhores, penei muito, chorei muito, agarrada à cabeça desejando que explodisse e assim se acabasse aquele sofrimento, não vou explicar mais, fui infeliz, muitíssimo. Mas sabes qual o meu maior e talvez único remorso? Não ter conseguido ultrapassar essa barreira emocional para ajudar o meu pai na velhice (a minha mãe morreu antes de se me colocar esse dilema). Nunca o abandonei, isso não, mas não zelei pelo seu bem estar e qualidade de vida como teria zelado não fossem os tais traumas. Mas o meu pai era uma pessoa, e deveria ter merecido todas as minhas forças para manter-lhe o mais digno possível o declínio. Não fui capaz de muito. Se me agarrasse à vingança diria que teve (mais d)o que mereceu. Não teve. Merecia mais. Eu falhei.

      (e ainda bem que não havia CPCJs à coca há 40 anos, talvez me tivessem retirado aos meus pais, ideia que repudio com todas as forças. e olha que isto não é aquele síndrome não-sei-quê da vítima que se afeiçoa ao agressor... é a vida, vivida, sentida e pensada)

      :)

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    11. As barreiras emocionais são como as dívidas soberanas, não são para desaparecer, são para se irem gerindo.
      Vais gerindo as tuas e eu vou gerindo as minhas, mas não queremos que os filhos passem por aquilo que de mau aconteceu na nossa infância.
      É preciso alertar os pais de que o futuro dos filhos depende muito da forma como cresceram e foram tratados em crianças.
      Eu acho que a melhor vingança é o desprezo, o virar as costas, desvalorizar, ignorar.
      Eu agora dava-te um abraço e dizia-te: isso já passou tudo, já não vais viver mais isso. Só que não.
      Ficas com o abraço e continuas com a tua vida.

      (Por acaso tenho uma opinião distinta da tua relativamente aos pais que ficam velhos e depois já não se lembram das atrocidades que fizeram aos filhos. Acho que por uma questão de merecimento, não de vingança, mas de merecimento puro, deviam sentir todos na pele o desprezo. O mesmo para filhos maus. Agora que ando quase sempre metida em partilhas, devo dizer que há muita podridão e muito desespero dos dois lados. Ele há pessoas (pais e filhos) que merecem bem ser completamente desmerecidos.)

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    12. Ladykina, parabéns pela sua sensatez. Uva, a descrição que faz de si própria faz-me sentir pena da sua mãe. Consegue colocar-se no lugar dela? Ser filha única não é desculpa, a sua filha tb o é e não me parece que seja igual a si. Mas lá que o merecia, merecia!

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    13. As miúdas que usam decotes vertiginosos também merecem.

      Consigo muito bem colocar-me no lugar dela:
      Era pobre, não tinha consultas no psicólogo duas vezes por semana, nem ritalina para acalmar um furacão, uma criança hiperactiva com défice de atenção, coisa que ninguém sequer imaginava que fosse uma doença.
      Era eu. Uma criança com problemas vários, que todos achavam que era mau comportamento. Ponto.
      Não era. Tenho provas que não era. Tenho provas e tenho marcas e tenho cenas.
      Consigo colocar-me exactamente no lugar dela, mas como hoje em dia, e já se passaram 40 anos depois dessa fase, as pessoas sabem muito mais, acho que nenhum pai que tem um filho hiperactivo se vai por a bater-lhe todos os dias porque ele é doente. Ou vai?
      Percebe onde quero chegar?

      A minha filha é saudável, calma e sossegada.
      E não tem problemas com autoridade porque eu não sou uma pessoa autoritária, nem a nossa relação é assente em gritarias e pancada.
      Há toda uma diferença.

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  7. A minha mai-nova contou um dia destes o que uma sua amiga lhe confessou e depois pediu-lhe conselhos. Ela certamente lhos deu a amiga dela seguiu-os. Pediu uma reunião privada com a professora do filho e disse, de uma maneira calma, o que lhe ia na alma.
    A situação tinha como antecedentes uma reunião de pais em que a professora na presença dos pais da turma fez um relato medonho do comportamento do puto. A tal ponto que a deixou, perante aquela plateia de quarentões, lavada em lágrimas...

    Conta a amiga da minha filha, que depois da reunião em que soltou a alma, o puto chegou a casa e contou à mãe, que a professora o tinha abraçado e até lhe teria parecido que havia chorado.

    Sempre achei a minha mai-nova é uma excelente conselheira...

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    1. As situações da vida tão reais que até parecem filmes.
      Às vezes as pessoas perdem totalmente a tineta.
      Credo.

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  8. Eu nisso acho q há um ponto de equilíbrio. Pessoalmente tb n sou apologista de "dar espectáculo". No entanto, e até pela tenrra idade do meu petiz (ainda assim) mais velho, sou mtas vezes forçada a repreende-lo no momento em q se dá o disparate.
    Creio q com o crescimento (e capacidade dele para podermos "falar em casa") passe a ser um pouco mais reservada. Mas tb n me irei coibir a dar uma palmada bem assente se ele fizer uma merda mta grande.
    Acho q tudo depende da criança que tens. E não, não depende tudo da educação.
    Quanto ao programa,é deplorável. Acho q anda tudo doido.
    Imagino q o próximo seja qq coisa na linha do "como lidar com o seu idoso teimoso e ranzinza"...
    Acho aquilo uma devassa nojenta da vida privada dos miúdos,tal como sp o achei relativamente aos blogs da mães maravilha.
    Consigo (embora eu n faça essa distinção) perceber a diferença entre as fotos das meninas bonitas e uma birra. No entender da legislação a segunda n zela pelos interesses e bem estar do menor, deixando exposto um momento seu de fragilidade e emotivo, e a primeira é mais inócua.
    Aceito de facto q uma possa ser, especialmente no curto prazo, menos traumatizante, mas n consigo concordar com a legislação.

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    1. Uma palmada bem assente é muito anos 80.
      Eu levei variadas palmadas e numa base assim a modos que diária, porque a minha mãe (que nunca levou uma palmada na vida) achava que me educava melhor assim. batia-me e acabou. Eu desatinava e ela zás, palmada.
      Não eram tareias nem nada disso, nunca me acertou de cinto nem chinelada, mas era ali aquela coisa psicológica que a libertava sei lá de quê.
      Mas acho que não lhe resolveu situação nenhuma, eu não fui melhor filha por apanhar, e a certa altura a coisa descambou e a relação viu-se bastante desgastada.
      A minha mãe é assim um amor de pessoa, amo-a do fundo do coração, é uma amiga que ali tenho a toda a prova, mas está mais do que reconhecida que errou. Mas naquela altura ainda não sabia.

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    2. Anos 80 é mto bom. Eu devo ter apanhado meia dúzia de palmadas. Os meus pais sp foram mais apologistas de castigos. Eu tb o sou.
      E evito bater no miúdo, a sério q sim. Até p evitar o mimetismo por parte dele. Bato em situações q considero mais extremas ou com verdadeiro perigo, pq mm q eu tente explicar q mexer numa tomada é mto perigoso ele ainda n tem essa noção

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  9. Agradaram-me especialmente os comentários da ladykina (ontem, 22h31) e da Uva Passa(ontem, 22h57), por concordar com o que foi referido sobre essas consequências que considero normais do impacto das barreiras emocionais mencionadas, mas que parece serem pouco admitidas e até serem muito escondidas. Passei e passo por isso. Não escondi nem escondo, mas também não entrei nem entro em colisão. Cada vez menos.
    Ainda não entendi bem se "à volta" não se percebe o meu ponto de vista ou não se quer entender, sobretudo quando vem aquela máxima lapalissiana ou lapaliciana (como se queira) para calar bocas, de "família é família".
    Toda a acção tem uma consequência e esta pode não ser coincidente com a expectativa de quem pratica a acção. Acontece muito da parte de quem a pratica, e de quem está de fora, não aceitar essa demarcação quando há laços de sangue de maior proximidade (pais, filhos, irmãos).

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    1. Nem mais.
      À ainda um grande tabu à volta família, entre pais e filhos, entre marido e mulher, e qualquer tentativa de meter isso a nu por parte da sociedade (ou da própria família) é encarado como traição.
      Também já não entro em colisão. Ignoro. Depois há que esperar que as pessoas percebam a falta que lhes faço ;)

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