... ou 'O Mostrengo' de Fernando Pessoa, como queiram.
Portugal, em tendo emergido das profundezas da decadência do 'mercado' de arrendamento, dizem que por conta da Lei de Cristas, vê-se agora paralisado num momento de absoluta cobardia.
Tal como o poema, que decerto ficou na memória de muitos, parece que os proprietários, agora sim, esperançosos de se verem ressarcidos dos investimentos imobiliários que fizeram lá nas calendas do finado XX, a uma família que calhou alugar-lhe a casa por 300 escudos, passa de bestial a besta e transforma-se agora numa espécie marinha qualquer, dessas muito monstras, que trazem na testa uma frase assim: "Sou um Povo que quer o mar que é teu".
Na minha humilde opinião, os proprietários não querem coisa alguma, nem tão pouco afogar os inquilinos que pagam dois tostões para navegar essas águas. O que querem é justiça, que, como se vê, tarda e é falha.
Não é natural que o congelamento das rendas - que é, em primeiríssima instância, o grande motor desta grande e putativa explosão -, seja agora novamente proposto para resolver a questão da selvajaria no arrendamento e no preço das casas.
Foi o congelamento das rendas que deixou os proprietários na falência, sem capacidade, deixando a propriedade sem obras por conta de uma lei totalmente injusta.
Oiço desde sempre histórias escabrosas de pessoas a passar sérias dificuldades e, no entanto, proprietárias de prédios inteiros no centro de Lisboa, com rendas congeladas nos 30 escudos.
As histórias que oiço agora, igualmente escabrosas, não o são tanto como as de antigamente. Os inquilinos que se 'apoderaram' das casas cujas rendas eram inferiores aos contratos com a MEO, puderam fazer uma vida muito mais desafogada do que os outros que se viram compelidos a comprar casas com recurso a hipotecas maiores que o Mostrengo do poeta, precisamente porque o mercado de arrendamento só servia para alguns, nomeadamente os que chegaram primeiro.
E agora que estas pessoas - os malvados e monstros proprietários das casas compradas com empréstimos à taxa Euribor - decidem finalmente arrendar, querem novamente cortar-lhes as pernas e controlar-lhes as rendas para nutrir um mercado habitacional à míngua desde o velhinho PER.
Eu acredito muito no Estado-Providência e quero crer que os iluminados do semicírculo não irão ("para controlar o mercado") colocar à disposição das novas 'carências habitacionais' os fogos que são de outras pessoas, ainda que devolutos. Se querem realmente ajudar, então disponibilizem o património do Estado, que criem subsídios para colmatar a subida das rendas a quem realmente precisa, que deixem de julgar o mercado do Alojamento Local como bode expiatório, quando na verdade esta cidade (e o país) têm crescido quase que apoiados no turismo que dorme nestes alojamentos.
Uma lei sem contrapartidas que congela mais uma vez as rendas para proteger, por exemplo, quem tenha 65 anos e viva na casa há mais de 25, é uma lei altamente injusta para quem tem inquilinos dessa natureza.
Quais são as intenções do Estado? Transferir a sua responsabilidade, uma responsabilidade que está consagrada na Constituição como sendo do ESTADO, para os privados? Então são os privados o novo Estado-Providência da nova Lei de Bases da Habitação?
Sendo o Mostrengo uma personificação do Cabo das Tormentas, ou melhor, das forças naturais que tornavam tão ardilosa a sua travessia, é mais que sabido que para os que ousaram pensar numa atualização das rendas, ou pelo menos numa ajudinha na taxa liberatória (de 28% ) para colmatar 'qualquer coisinha', ainda não viu a força do Mostrengo Socialista, porquanto só agora é que percebeu que para recuperar o seu imobiliário das mãos das Helenas Rosetas da vida, vai ter mesmo de lutar como gente grande.
E quando isto rebentar tudo, o que gritará o povo?
El-Rei D. João Segundo!
30 de abril de 2018
29 de abril de 2018
SURPRISE!
Sim, ainda não vimos tudo.
Sim, tens razão. O essencial é invisível aos olhos.
O que importa aqui superiorizar é que o invisível aos olhos, essa arte de cada um [também em viver], aquilo que pensamos, aquilo que sentimos e aquilo que necessitamos de exteriorizar, não seja depois capaz de abrir [aquelas] feridas nos outros.
A arte nunca matou ninguém.
Já aquilo que é invisível aos olhos, de uma certa forma, pode ser realmente aquilo que não queremos de todo ver.
Há gente muito feia por dentro.
E isso vê-se por fora.
By: Monica Cook - https://www.monicacook.com
Sim, tens razão. O essencial é invisível aos olhos.
O que importa aqui superiorizar é que o invisível aos olhos, essa arte de cada um [também em viver], aquilo que pensamos, aquilo que sentimos e aquilo que necessitamos de exteriorizar, não seja depois capaz de abrir [aquelas] feridas nos outros.
A arte nunca matou ninguém.
Já aquilo que é invisível aos olhos, de uma certa forma, pode ser realmente aquilo que não queremos de todo ver.
Há gente muito feia por dentro.
E isso vê-se por fora.
By: Monica Cook - https://www.monicacook.com
28 de abril de 2018
NA GRAMÁTICA [como na vida]
“Alguns nomes têm uma significação diferente se os
encontrarmos no singular ou no plural.
O miolo, os miolos (cérebro); a ânsia, as ânsias (náuseas); o
género, os géneros (alimentares, mercadorias); o ar, os ares (clima).” --- Maria
Regina Rocha: Gramática de Português, Porto Editora.
Lembra-me muito o futebol, as claques e as Assembleias
Gerais da Liga.
Individualmente são uns mocinhos de coro; na turba demoníaca
e assarapantada, vivem em cavernas e lambem o próprio ranho.
MUSICA PARA LER BLOGS
É como que percorrer as letras sobre o frémito das batitas.
Tum-tum, tum-tum, tum-tum...
Não existe melhor no mundo do que uma música que faz um percurso infinito, dentro do mesmo coração.
Air - TwentyYears
(Spotify needed)
Amour, Imagination, Rêve ('Amor, Imaginação e Sonho')
É assim que devemos ler blogs.
Tum-tum, tum-tum, tum-tum...
Não existe melhor no mundo do que uma música que faz um percurso infinito, dentro do mesmo coração.
Air - TwentyYears
(Spotify needed)
Amour, Imagination, Rêve ('Amor, Imaginação e Sonho')
É assim que devemos ler blogs.
FRUTA PODRE
No dia 22 de julho de 1946, lia-se na capa da Time “Portugal’s Salazar: Dean of Dictators”`*.
Faria hoje 128 anos se não tivesse caído de uma cadeira, tal como cai a fruta podre.
Salazar foi sal e azar.
Fascismo nunca mais!
* Salazar proibiu a venda da revista durante os seis anos seguintes, após ter recolhido todas as edições que ainda estavam por vender.
25 de abril de 2018
VAMOS FALAR DE LIBERDADE [e de barrigas short rent]
Amanhã vai a plebe comunista desfilar os cravos na lapela.
Gostava muito de ouvir uma pessoa qualquer, dessas que são entrevistadas pelos jornalixos de fim de semana, escalados para fazer a cobertura das manifestações e das maratonas, responder um coisinha mais original do que que 'estou aqui para celebrar a Liberdade'.
Gostava mesmo.
Gostava que alguém fosse capaz de dizer que estava ali para celebrar a Constituição de 1976, por ter sido o documento fundador da democracia.
Mas não. A maioria das pessoas nem sabe que o Movimento dos Capitães, os tais que salvaram a pátria, só se encanitaram com o Regime Salazarento por razões corporativas, daquelas que tão bem definem a nossa mole de cidadãos: a inveja; a inveja de ser possível aos oficiais milicianos a integração na vida militar mediante um mísero cursinho intensivo na Academia Militar, onde eles, os Capitães, tinham estudado durante anos. E pronto, foi isto, uma guerra de capoeira, uma assunção de superioridade entre os pré-Bolonha e os pós-Bolonha dos militares do Antigo Regime.
E amanhã lá vai a plebe comunista desfilar na Avenida de cravo na lapela.
Eu gostava que alguém se lembrasse de dizer para 'as televisões', que o CDS, esse farol da liberdade dos direitos e garantias do mofo e da naftalina, foi o único que em 1976 votou contra a Constituição, porque empreendeu não embarcar num texto que privilegiava o 'exercício do poder pelas classes trabalhadoras', mas que afinal estava ligado pelas veias ao um acordo com o MFA [Movimento das Forças Armadas] precisamente na defesa dessa classe trabalhadora.
Isto é extraordinário.
Enquanto andávamos todos a tentar lamber as feridas do PREC da esquerda radical, a tentar apanhar os cacos da maravilhosa 'renovação na continuidade' do não menos salazarento Marcelinho do Catano, sem que eclodisse uma guerra civil, como veio a acontecer em Angola e Moçambique, houve um alguém, desses que também desfilam de cravo na lapela na Avenida, que votou contra o documento fundador da democracia em Portugal, o mesmo que em 1982 criou o Tribunal Constitucional (TC), exatamente o mesmo orgão que serviu de bengala ao CDS para travar a fundo nas barrigas de aluguer.
Vamos falar de Liberdade?
Gostava muito de ouvir uma pessoa qualquer, dessas que são entrevistadas pelos jornalixos de fim de semana, escalados para fazer a cobertura das manifestações e das maratonas, responder um coisinha mais original do que que 'estou aqui para celebrar a Liberdade'.
Gostava mesmo.
Gostava que alguém fosse capaz de dizer que estava ali para celebrar a Constituição de 1976, por ter sido o documento fundador da democracia.
Mas não. A maioria das pessoas nem sabe que o Movimento dos Capitães, os tais que salvaram a pátria, só se encanitaram com o Regime Salazarento por razões corporativas, daquelas que tão bem definem a nossa mole de cidadãos: a inveja; a inveja de ser possível aos oficiais milicianos a integração na vida militar mediante um mísero cursinho intensivo na Academia Militar, onde eles, os Capitães, tinham estudado durante anos. E pronto, foi isto, uma guerra de capoeira, uma assunção de superioridade entre os pré-Bolonha e os pós-Bolonha dos militares do Antigo Regime.
E amanhã lá vai a plebe comunista desfilar na Avenida de cravo na lapela.
Eu gostava que alguém se lembrasse de dizer para 'as televisões', que o CDS, esse farol da liberdade dos direitos e garantias do mofo e da naftalina, foi o único que em 1976 votou contra a Constituição, porque empreendeu não embarcar num texto que privilegiava o 'exercício do poder pelas classes trabalhadoras', mas que afinal estava ligado pelas veias ao um acordo com o MFA [Movimento das Forças Armadas] precisamente na defesa dessa classe trabalhadora.
Isto é extraordinário.
Enquanto andávamos todos a tentar lamber as feridas do PREC da esquerda radical, a tentar apanhar os cacos da maravilhosa 'renovação na continuidade' do não menos salazarento Marcelinho do Catano, sem que eclodisse uma guerra civil, como veio a acontecer em Angola e Moçambique, houve um alguém, desses que também desfilam de cravo na lapela na Avenida, que votou contra o documento fundador da democracia em Portugal, o mesmo que em 1982 criou o Tribunal Constitucional (TC), exatamente o mesmo orgão que serviu de bengala ao CDS para travar a fundo nas barrigas de aluguer.
Vamos falar de Liberdade?
24 de abril de 2018
O LIXO DOS OUTROS II
Quando em 2014 resolvi escrever sobre o lixo dos outros, atirei, com ares de superioridade, um post para a cara de alguém que me pareceu realmente imundo.
A imundice é uma característica que se pega a certas pessoas, de tal modo que por vezes até pensamos que já nasceram assim, sujinhas, andrajosas, infernais.
O inferno são quase sempre os outros comparativamente ao céu que somos nós, os impolutos, os sistemáticos, os adaptados.
Mentira.
O inferno somos sempre nós, com as nossas nojices, os nosso microbiozinhos mentais incapazes de conviver com as bactérias dos outros, porque na nossa cabeça, este grande hospedeiro que é o mundo, é sempre pequeno demais para albergar a tanta porcaria que conseguimos produzir.
E se há coisa que conseguimos produzir, essa coisa é 'a porcaria'.
E o mais engraçado é que se formos muito bons nisto, também conseguimos deixar os outros feitos em merda.
Mandy Barker is an international award winning photographer whose work involving
marine plastic [http://mandy-barker.com]
[O lixo dos outros I]
21 de abril de 2018
FELICIDADE INTERNA BRUTA [FIB]
Aposto os meus dentes da frente em como a maior parte dos meus leitores nunca ouviu falar nesta temática.
Felicidade Interna Bruta é um conceito maravilhoso, usado por pessoas de verdade, para definir o que é afinal importante desenvolver num país (local), para que a Humanidade (global) seja cada vez mais completa e satisfeita.
Surge no Butão em 1972 como resposta a críticas mesquinhas e desconstrutivas de países vizinhos, acusatórias de uma economia miseravelmente sustentável por parte dos butaneses.
O Butão, o país da felicidade e dono de um misticismo único e abrangente, decide reverter a critica e criar uma nova forma de definir 'economia sustentável'.
Qualquer país materialista, que identifica pessoas com números e que se preocupa unicamente com os aspectos quantitativos do resultado do trabalho de todos, é um país longe de ser prazeroso, pelo menos não tanto como são os países que descolam as pessoas de conceitos frios e materialistas como são os 'produtos'.
As pessoas não são produtos, os recursos não são humanos, o que interessa é desenvolver [e mensurar] os aspetos qualitativos de um determinado grupo, em vez de avaliar o que determinado grupo é capaz de produzir.
Aposto os meus dentes da frente em como a maior parte dos meus leitores vive uma Felicidade Externa [muito] Bruta, que provoca uma Infelicidade Interna [ainda mais] Bruta.
Aposto mesmo todos os meus dentes em como muitos leitores pensam em si como produtos das condições adversas de uma Infelicidade Bruta e como Recurso Humano para a Felicidade Interna Total de outras pessoas vizinhas.
Confesso que toda a infelicidade que sinto é por efetivamente ainda ter os meus dentes todos.
Felicidade Interna Bruta é um conceito maravilhoso, usado por pessoas de verdade, para definir o que é afinal importante desenvolver num país (local), para que a Humanidade (global) seja cada vez mais completa e satisfeita.
Surge no Butão em 1972 como resposta a críticas mesquinhas e desconstrutivas de países vizinhos, acusatórias de uma economia miseravelmente sustentável por parte dos butaneses.
O Butão, o país da felicidade e dono de um misticismo único e abrangente, decide reverter a critica e criar uma nova forma de definir 'economia sustentável'.
Qualquer país materialista, que identifica pessoas com números e que se preocupa unicamente com os aspectos quantitativos do resultado do trabalho de todos, é um país longe de ser prazeroso, pelo menos não tanto como são os países que descolam as pessoas de conceitos frios e materialistas como são os 'produtos'.
As pessoas não são produtos, os recursos não são humanos, o que interessa é desenvolver [e mensurar] os aspetos qualitativos de um determinado grupo, em vez de avaliar o que determinado grupo é capaz de produzir.
Aposto os meus dentes da frente em como a maior parte dos meus leitores vive uma Felicidade Externa [muito] Bruta, que provoca uma Infelicidade Interna [ainda mais] Bruta.
Aposto mesmo todos os meus dentes em como muitos leitores pensam em si como produtos das condições adversas de uma Infelicidade Bruta e como Recurso Humano para a Felicidade Interna Total de outras pessoas vizinhas.
Confesso que toda a infelicidade que sinto é por efetivamente ainda ter os meus dentes todos.
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