22 de abril de 2014

O estranho caso dos helicópteros KAMOV


A cada dia que passa, fico mais surpreendida com a pouca sensibilidade do nosso povo.
É uma revolta tão grande, que eu até estou capaz de fazer uma revolução sozinha, no 25 de Abril, só eu, ali, no meio da Avenida.
É muito bom saber, e todos nós sabemos,  que acima de nós existem pessoas boas, iluminadas, com consciência cívica, preocupadas com o povo, e com uma imensa capacidade de discernimento para as decisões magnas do país. 
É de tal forma profundo, o sentimento de proteção que os nossos governantes, patrões, chefes e administradores têm por todos nós, que chego a ficar comovida, e doí-me o coração saber, que o povo é muitas vezes injusto nas suas reivindicações.
Por exemplo:
O Governo comprou agora 6 helicópteros Kamov, muito jeitosinhos, parece que para o INEM.
Já repararam bem nisto? O que se gastou com estes meninos? O sacrifício que foi para todos nós, esta compra. Estes meninos são tão robustos e complexos que demoram 20 minutos só para aquecer e mais 20 para arrancar. Preparam-se ao pormenor, não é cá correrias de ligar e levantar voo.
E além disso, sabemos todos, e os nossos governantes melhor, que o INEM é aquela instituição calma, pacífica, sem pressas, onde chegar não é motivo de preocupação. O INEM vive perfeitamente sem helicópteros, aliás, o INEM nem precisa de pessoas para trabalhar, e é por isso que os nossos extraordinários governantes (Deus os tenha cá por muitos anos) pensam a breve trecho, mandar as pessoas que lá trabalham, para casa, para descansar. Mais alguém, tinha pensado nisto? Neste ideia WTF?
Mandar os trabalhadores descansar? Isto é que é o verdadeiro altruísmo social.
E não há necessidade de andar em correrias extenuantes para salvar duas ou três vidas sem importância absolutamente nenhuma. É que na verdade, e chega a ser pornográfico, quem se vê sempre em apuros são os chatos dos velhotes que teimam em viver para além dos 65 anos!
É que não têm vergonha nenhuma. Levam uma porradona de dinheiro ao Estado com brutas reformas, vivem para lá do sol posto, e ainda querem andar de cu tremido, para a frente e para trás, nos helicópteros Kamov. É preciso explicar a esta gente, definitivamente, que os Kamov foram comprados para ficarem  a descansar, para servirem alguma eventualidade mais séria.
E se o Senhor Dr. Passos Coelho se atrasa para ir ao Continente comprar uma morcela? Quem é que o leva lá depois, se os Kamov andarem todos nesses ares a salvar pessoas, para cá e para lá, sem jeiteira nenhuma?
É que já nem falo  daquelas pessoas que vivem longe do hospital! Uma vergonha!
Ora, se as pessoas vivem fora do recinto hospitalar, é porque gostam e querem. Ora se gostam e querem, têm de assumir essas responsabilidades. Não é andar constantemente a utilizar os meios médicos, ambulâncias e coisas assim, quando os meios médicos podem e devem servir para ir por os meninos ao colégio. Estas crianças são o nosso futuro, já pensaram? 
Veja-se o exemplo ali do hospital de Loures. Aquilo tem mais de 50 estacionamentos vagos. Porque é que as pessoas insistem em viver para fora daquele espaço. Se pensassem melhor, se fossem conscientes, é obvio que ficavam ali a viver, aliás, há ali estacionamentos muito jeitosos. Ainda ontem lá estive, e mesmo em frente às urgências está um lugar vago, ótimo para uma família de, vá, 4 pessoas.
No mínimo.
Mas não. As pessoas deste país não querem saber dos custos que é viverem por exemplo a 5 km do hospital, e vá lá que estas que estão a 5km não são as piores, porque ainda vão conseguindo ir a pé à consultas, têm é de fazer direta para chegar a horas, mas e aquelas que moram por exemplo fora das cidades, nas vilas, no interior. Um horror!
Caramba, pá! Pensem um pouco também naqueles homens que ali estão a pensar em nós o dia todo! Sentados, pá! Naquele semi-circulo sem janelas! O dia todo, pá! Não é fácil.
Mas e os incêndios, perguntam vocês?
Isso é problema de somenos. Que mal tem se arderem 5 ou 500 hectares de florestas? Já toda a gente se habituou à 'época de incêndios', aliás, a época de incêndios é uma espécie de época de caça, por sinal bastante divertida, como imensos adeptos. É a silly season dos bombeiros. Ou acham que só as outras profissões é que podem ter a silly season e rumar feitas loucas, todas no mesmo dia, para as praias do Algarve?
Os helicópteros Kamov foram comprados para essa finalidade. Apagar incêndios com calma, por sere, sobretudo, lentos. Só atacam o incendio quando este já está no fim.
Nem os nosso governantes querem retirar ao povo a beleza de um incêndio espetacular. Faúlhas por todo o lado, jogos de fumo, pessoas a correr com baldinhos, com mangueirinhas, as televisões a filmar, tudo a arder. Mesmo ali ao pé da porta de casa.
O povo tem de perceber que o Governo, ao comprar 6 helicópteros Kamov, é só para que as pessoas possam disfrutar com calma, um espéctáculo que só podem ter acesso, quando forem todas para o inferno.
E já se sabe que aqui a nossa malta, demora imenso a morrer...
São estas pequenas coisas que ninguém entende.
E uma pessoa tem que falar.
Pois claro que tem.

2 comentários:

  1. ADOREI!!!!! Há e concordo com cada vírgula escrita

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Fico tão contente quando aqui vens!!!! Um dia, quando for muito rica ( e deixar definitivamente de ser uma reles secretária do rule of law) ofereço-te um baita helicóptero para ires com a tua gente à praia! Hum? Que me dizes desta espetacular possibilidade?
      E levas-me?

      Eliminar