21 de abril de 2014

O que vês na tua estante, Uva?



A minha estante é a minha vida. Imensa, se pensar que tenho 37 anos e que sou, infelizmente, uma leitora bastante tardia. Comecei a ler de verdade quando tinha 14 anos, muito por força da minha mãe. Um horror, bem sei...
A maioria das pessoas que me conhecem, não acredita em mim quando confesso que só aprendi a ler na 2ª classe, mas a verdade é que tive uma imensa dificuldade em juntar as letras e uma grande tendência para disparates.
Para uma primeira impressão, começar a ler aos 14 anos, combina bem com o final da minha fase hiperativa. Era uma miúda com muitos problemas de atenção, e muito embora a minha aprendizagem global não se tivesse ressentido (logo) com isso, toldou-me ali muito do juízo que só recuperei no início da adolescência. Juízo literário, claro. Aos 10 anos estava a borrifar-me para aquilo que a minha mãe insistia que era importante para mim. Os livros não eram a minha loucura. Eu gostava era de ginástica, de namorar, de correr, e de fazer a vida da minha mãe num inferno. Os livros só começaram a ter importância para mim no 5º ano, quando os meus pais me compraram uma enciclopédia de 5 livros imensos (de ciências) que precisei consultar para fazer um trabalho sobre o DNA. A minha primeira palavra difícil (ácido desoxirribonucleico) transportou-me mais tarde para o mundo da escrita. Afinal aquilo tinha interesse. Aquele trabalho de 20 folhas, foi o primeiro sinal que o Universo me deu, o primeiro grande sinal, de que escrever e aquela ´coisa de ler e ter livros´ era na verdade um amor igual aos outros, carnais. A nota que obtive no trabalho (excelente) e depois o que a professora me disse na aula, nunca mais me sairia da cabeça:
'Uva, o teu trabalho está muito bem escrito. Além disso, e apesar de ser um trabalho de teor científico, foi o único que me deu vontade de ler até ao fim. Digamos que a menina produziu sobre o DNA, um mistério que só desvendou na conclusão. E como toda a gente sabe, já não há grande mistério no DNA.'
É engraçado como é lá atrás, nas coisas da meninice, que encontramos as explicações todas. Aquilo ficou ali, a zunir-me atrás da orelha, como se fosse um carrapato. E aquela vozinha fininha, o meu outro eu, mais calmo e ponderado, convenceu-me que eu escrevia bem, de forma escorreita, e foi talvez por isso, aos 37 anos e depois daquele trabalho, que resolvi iniciar um blogue e dar os primeiros passos na escrita mais à séria.
Ainda mais engraçado, é perceber a importância que a minha mãe teve nisto tudo sem saber. Foi dela que recebi todos os livros que me transformaram numa leitora frenética, sem os quais hoje não estaria aqui a escrever para vocês, como se fossemos amigos de longa data, como se aquilo que eu escrevo e vos conto, fosse de alguma forma importante de ler, como se fosse uma coisa 'meant to be' e que afinal não há coincidências.
E não há.
E ainda tenho muito para contar.
Na minha estante tenho muitos livros. Tenho muitas coisinhas más, muito más, e assim-assim. Tudo o que lá tenho, fez parte da construção da minha pessoa, tudo foi importante para construir o meu eu-escritor e o meu eu-social, a forma como faço para contar uma história, os erros que dou na construção frásica e a forma como vejos as coisas da vida. Adoro aquela ideia de haver pessoas que se fazem pelos livros. Conheço mesmo algumas, reais, e são bem interessantes.
Na verdade atribuo muitos dos meus erros e desconhecimentos, sobretudo culturais, à escolha dos livros que li, ou ainda, à ordem dos livros que li.
Se tivesse começado pelos melhores, saberia por de parte os piores, ou trocá-los por coisas mais importantes e melhores para mim naquela altura. Não tive essa escola, que considero fundamental. Lia tudo o que me davam para ler. Era um livro, lia-o. 
Saber o que ler primeiro. Saber que autor se adapta a cada idade. Saber se vale a pena ler banda desenhada, saber se vale a pena ler Os Cinco, ou se é melhor começar por Gogol, é sem dúvida algo que deveria existir nas escolas.
Por exemplo, o meu périplo pelo Clássicos só começou na idade adulta. Anna Karenina, Os Miseráveis, Crime e Castigo, Guerra e Paz. E foi pena.
 No meio de algumas porcarias que deixei a meio, houve no entanto um autor que sempre gostei de ler e que foi um dos meus impulsionadores enquanto leitora. E li dele, quase tudo.
Comecei por "Cem Anos de Solidão" ainda muito nova, onde experienciei com os intricados laços familiares e os inumeráveis Buendia existentes na trama, alguns dos melhores momentos de leitura, e fiquei presa. 'Amor em tempos de Cólera' foi o último que li de Garbo. Magnífico. Depois de Garbo fui transportada para Carlos Ruíz Zafón, outro grande autor de realismo mágico. Maravilhosas histórias que valem muito a pena.
No fundo o que eu queria era partilhar este amor que tenho pelos livros e partilhar também a minha estante. Quem sabe se não encontram interesses parecidos com os meus e não podemos iniciar aqui uma 'Escola de livros'.
Se eu tivesse tido, na minha infância, uma 'Escola de Livros', tenho a certeza que hoje seria uma pessoa mais completa.
Nunca é tarde, mas para isso preciso muito de ajuda.
Alguèm? 



7 comentários:

  1. Também sou apaixonada por livros, ler, escrever... mas acho que a minha paixão começou cedo.
    Na verdade, eu acho que não há livros maus ou livros bons... acho que há diferentes tipos de escrita, para diferentes fases e gostos de cada leitor.
    Até hoje já li tantos livros que alguns já nem me lembro, mas sei que para muitos o José Rodrigues dos Santos não é "nadinha" e foram dele os livros que mais me agarraram (do inicio ao fim) até hoje.

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    1. Por isso é que aqui andas. És maluquinha, como eu!!!

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    2. Adorei a subtileza do elogio :) ahahah
      Beijinho

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  2. Também adoro ler, e apesar de agora ler pouco não consigo deixar de comprar livros, o que leva a que tenha muita coisa na estante por ler. Um dos meus preferidos tb é o Garcia Marquez, já li vários. Confesso que o 100 anos de solidão me custou um bocadinho pela confusão dos nomes. Infelizmente agora com 2 crias tenho pouco tempo para ler, vingo-me mais nas férias, apesar de ter que estar sempre com meio olho neles.

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    1. É esta vida a correr, que nunca nos deixa fazer aquilo que gostamos. E é por isso que eu digo: vale muito a pena parar.

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  3. Dos clássicos gosto muito do "Vermelho e o Negro" A Dama das camélias" e adoro o "Jane Eyre" queria ler os Miseráveis mas tenho que ter tempo. Também acho que é importante incutir a leitura nos mais novos, porque isso também se aprende a gostar.

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  4. Sou maluca por livros. Só te digo isto.

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