2 de setembro de 2014

Quando a realidade ultrapassa a ficção

Às vezes, pontualmente, quando me dou conta desta coisa que é a vida, deste monte de acontecimentos que me atropelam e se atropelam, ou encaixam como peças de lego num caos tremendamente ordenado, e ao mesmo tempo confuso e difuso, gosto de pensar sobre temas estranhos.
Gosto especialmente dos mais complexos, sobretudo aqueles que ultrapassam o meu entendimento pessoal e cuja explicação cabal não sou capaz de exprimir ou encontrar nos livros dos outros.
Encontro-me agora nessa situação. Enliei-me na minha teia sinática.
Penso no que terá levado aquele miúdo de Tondela a alistar-se na Jihad, a enrolar uns kilos de dinamite à volta da cintura, e atirar-se para cima de pais, mães, filhos, pessoas, gente comum, humanos, com uma vida, com esperança, olhá-los nos olhos e matá-los a todos? Todos.
Este pensamento fere-me, profundamente, abre-me uma ferida no pensamento que não consigo suturar.
Está para aqui a jorrar perguntas, motivos, causas. Coisas sem fim. Medo.
Pego no meu dedal e na linha ténue que separa sempre a duvida da certeza das coisas, na tentativa de me apaziguar com a angustia de não conseguir encontrar um motivo, uma culpa, ou um culpado.
E esvaio-me.
Dou por mim encolhida de tanto espremer.
Fino-me.
Que loucura foi aquela, que esgana ali se achou, que esdrúxulos pensamentos lhe criaram doentes sinapses?
Porque acabou ele com a vida?

Às vezes, quando, brutalmente me dou conta desta coisa inexplicável que é a vida, deste monte de acontecimentos que me atropelam e se atropelam, penso na minha filha.
O que terá falhado para aqueles pais?

Para quem não leu: Aqui! 
Absolutamente inacreditável.

A imagem é do blog AVENTAR.

4 comentários:

  1. Quando temos filhos, tendemos a por-nos no lugar dos outros pais. No entanto, nada explica situaçoes tão extremas como esta e outras (miúdos a assassinarem colegas e professores nas escolas, por exemplo). Há quem "psicologize" tudo e procure ver onde falharam os pais, os educadores, mas julgo que não é possível sequer, muitas das vezes, ligar actos desta natureza à educação familiar e//ou outra.
    Mas que nos abana, abana!!

    Beijinhos Marianos, Uvinha! :)

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    1. Eu sou muito de racionalizar certos comportamentos. SE não meto tudo ali numa gavetinha não me entendo com as coisas.
      Tudo tem uma explicação, ainda que ilógica.
      Julgo que deve haver um, ou mais denominadores comuns, que se encontram nestes 12 miúdos (nossos) e mais outros tantos da Europa que se juntaram a esta coisa monstra.
      Uma coisa catatónica, uma crise, tem um nome.
      Mas aqui neste caso, surgem-me tantas coisas diferentes, que a cabeça deu mesmo um nó.
      É que isto é todo um mundo novo para mim. Sair de casa para se ir matar numa guerra terrorista, hedionda e estúpida, que nada tem a ver com nada, apenas com fortes raízes culturais e religiosas que este miúdo dificilmente cultivou durante 13 anos em Tondela.
      Não entendo.
      Os outros, os de lá, entendo mal, mas entendo.
      Este deixou-me à nora.

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  2. olá uva, boa noite. gostava de deixar aqui um comentário inteligente, cujo conteúdo fosse suficiente para compreender atos desta natureza, mas não sou capaz, mesmo que quisesse dar-lhe um significado escatológico.

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    1. Pois. Lá está. É por demais complicado. Sofro do mesmo mal.

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