7 de outubro de 2014

SHOAH - O filme monumento sobre o Holocausto

 Shoah (palavra hebraica para catástrofe e destruição)

Poucas coisas têm o condão de me transtornar tanto, como o Holocausto.
Julgo que na gaveta do meu cérebro, onde guardo a incompreensão e a incredulidade, o tema do Extermínio Nazi é o ato humano que assumo para mim como o mais vil, o mais hediondo e o mais perverso de todos os atos que já foram (e são) perpetrados por seres humanos a outros seres humanos.
De nada me valem as palavras de convencimento militar, de que somos fruto das nossas circunstâncias, e que a guerra é isto mesmo, este horror, porque  aquilo que se passou na realidade, não se limitou apenas às ideias de um único homem, louco, a quem todos chamavam de Führer.

A mais profícua forma de podridão humana reveste todos os que fizeram parte da tropa Nazi, desde as altas patentes do Reich, até ao excremento ridículo e descartável, que trocava os pneus dos camiões onde foram gaseados com monóxido de carbono mais de quinhentos mil judeus polacos.
Todos eles, sem distinção, mesmo os jovens militares das SS que choravam arrastando cadáveres aos milhares para as valas comuns espalhadas pelas florestas de Treblinka, são culpados.

Durante o documentário fiquei a saber coisas tão terríficas como estas: os quatro maiores fornos crematórios de Auschwitz-Birkenau foram construídos por uma empresa alemã, depois de um muito disputado concurso público lançado pelo governo de Hitler, que as viagens de comboio que transportaram os judeus até aos campos de extermínio provindos de toda a Europa, eram pagos pelos próprios judeus (pagavam a sua própria viagem para a morte), que os guardas que abriam as portas dos vagões que chegavam continuamente à Rampa, recebiam 'gentilmente' (com sorrisos, tiradas de chapéu, bons dias, bem vindos, está um lindo dia, como passou, e que lindo vestido), os judeus que encaminhavam para as câmaras de gás, que no maior campo de concentração nazi (Varsóvia) foram os judeus que pagaram o muro que foi construido à volta do gueto para evitar a propagação do Tifo, e que os cadáveres se amontoavam os milhares dentro do gueto porque os alemães obrigava os judeus a pagar uma taxa (com dinheiro que não tinham) para recolher os corpos.

O Holocausto é por tudo isto, o meu limite.

Já passaram dois dias e duas noites desde que vi as primeiras sete horas do documentário (dezasseis horas no total) do Claude Lanzmann.
Ainda estou em transe.
É na realidade um documentário monumento.

O filme é distribuído pela MIDAS. 

6 comentários:

  1. Fiquei com vontade de ver apesar de ter a certeza que vou chorar imenso a ver tamanha crueldade.
    Apesar de doloroso, há que perpetuar a informação para nunca mais se repetir.

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    1. Eu chorei, claro, mas não vês nada.
      Para veres tens a Net pejada de imagens. O que faz chorar são os relatos, as entrevistas na 1ª pessoa. Dos velhos. Isso é que é verdadeiramente chocante.
      São muitas horas, mas conto acabar de ver já no próximo fim de semana. São 4 CD´s no total.

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  2. Não me sinto com estômago para ver um documentário assim. Visitei Auschwitz há 7 anos e senti uma culpa para a qual não encontro explicação, a não ser, talvez, a culpa que resulta do facto de saber que nada do que eu faça poderá fazer reverter um episódio tão negro da história da humanidade.

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    1. Creio que ir a Auschwitz supera em muito tudo o que eu possa imaginar, ou ver na televisão, sobre o Holocausto.
      Deve ter sido brutal. Há sete anos eras uma miúda.
      És a segunda pessoa que conheço, que lá foi.
      Não podemos reverter, mas se mantivermos a memória fresca, talvez, talvez, se possa impedir que tal aconteça novamente.

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    2. Tinha 31 anos, sim, era uma miúda... :D
      Supera todos os documentários que possas imaginar por um motivo, e o último que me ocorreria: o cheiro. Em todo o campo sentes um cheiro estranho, um cheiro que não consegui identificar, não era muito forte, não era pungente, não era cheiro a desinfectante, não era naftalina, talvez criolina, mas mais suave, não era desagradável de tal forma que se tornasse insuportável, mas incomodava-me, talvez por não saber um que era. Era um picozinho no fundo do nariz, um nó na garganta. Além do cheiro houve mais duas coisas que me incomodaram, uma piljha de sapatos de bebé (mais do que a pilha de tranças, de óculos, de escovas...) e caminhar num corredor com dezenas (centenas?) de fotografias dos prisoneiros (parecia que te liam a lama e te julgavam). Daí a culpa... senti que todos os meus "pecados" estavam ali, porque dás por ti a pensar se alguma vez na vida conseguiriuas ter em ti maldade suficiente para cometer uma atrocidade daquelas e mentalmente revês (eu revi) todas as tuas más acções e falhas de caracter, como se de um filme dentro de outro filme se tratasse.

      (Os campos estão mal assinalados, tinhamos alugado um carro e a certa altura pensámos que nos tinhamos perdido. A última coisa que os polacos querem é que se faça negócio a partir do holocausto. Visitámos os campos no penúltimo dia da viagem, no dia seguinte ainda não tinhamos muita vontade de falar, imagina o impacto que teve em nós).

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    3. Uma experiência que já me ocorreu duas ou três vezes ter.
      No outro dia quando a minha amiga postou qualquer coisa sobre o tema, mais uma vez, e hoje contigo, depois de ler o que aqui escreveste.
      Talvez lá vá, mas ainda não é o momento. Tenho de ser mais adulta.
      Temos de compreender os nossos limites.
      Este é o meu.

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