7 de novembro de 2014

Acabo de chegar da Homeopata

Tendo perdido toda a esperança na medicina convencional, e já completamente perdida, fui levada a tomar decisões drásticas e embarquei numa solução alternativa tipo ou-homeopatia-ou-racha., porque digo-vos mesmo, cheguei a um ponto lastimável da minha condição, e uma pessoa chega a uma altura da doença que caramba, é capaz até de comer o próprio ranho - para não dizer coisa pior - se isso lhe devolver a saúde.
Foi a essa altura que eu cheguei.
Não, não comi o meu próprio ranho, mas fui consultar uma sumidade da homeopatia.
Fui por ali fora, Avenida abaixo, chovia como Deus-a-dava, raisparta lá o Santo, e toca de me enfiar dentro de um prédio inóspito e desolado, ainda do tempo do pré-terramoto, pingando água, e cholp, chlop, chlop, escada acima até ao 5º andar, para finalmente me encontrar com uma Santa; a senhora professora doutora da parte do pai, e Maria qualquer coisa da parte da mãe, moça dos seus 123 anos, cabelo encaracolado de cor duvidosa, digamos que, alternativa, com um tique nervoso no olho esquerdo, que piscava frenético e terrifico direito a mim, e que me deu um aperto de mão que me ia partindo as falangetas.
Sente-se! Pese-se! Respire! Expire! Costas direitas! Levante-se!
Credo, pensava eu, enquanto era manejada qual marioneta pela sumidade: mas eu vim a um homeopata ou vim fazer exames para a recruta?
Pois, pois, dizia-me ela confiando uma suposta barba. Há muitas mulheres com esse problema, sim, sim, e é estranho, muito estranho, e percorria o corredor entre a balança verde e o armário de arquivo vertical, tensa mas vagarosa, olhando para os sapatos, ora torcendo o pé para ver a sola descosida, ora agachando-se para ajeitar as calças à boca-de-sino, presas pela bainha aos atacadores. 
Eu, enquanto esperava que lhe surgisse uma epifania alternativa para o meu problema comum, olhava o consultório, alto como a Capela Cestina, composto por uma secretária do tempo do Salazar, despida de computador, uma marquesa de ferro com degraus emborrachados e uma cadeira de pau, onde tinha o meu grande rabo alapado.
Cara Uva, disse-me ela, sentando-se bruscamente à minha frente com um papel qualquer na mão, julgo que os restos de uma folha de revista, faça este esquema se fizer favor: pevides de abóbora, comprimidos de aceroula, biophitoplancton das águas do pacífico-sul-noroeste, ranho de caracol listado do deserto do Atacama-Chile, e três litros água de Moscavide. De Moscavide?  Não, não, de Monchique, desculpe.
Levanta-se, parte-me o resto das falangetas e enchota-me do gabinete como uma reles mosca-morta.

Acabo de chegar da farmácia homeopática. 
A mulher que me atendeu, uma lambida e escanifobética alemã, olha para mim, estende-me uma espécie de fatura cuja soma vislumbrei, e perguntou-me: a menina é alguma coisa à senhora professora doutora da parte do pai, e Maria qualquer coisa da parte da mãe?
Não, disse-lhe eu já em delirium tremens, com os olhos posto na f(r)atura, porquê?
Nada, nada, é que assim de repente pareceu-me... pela expressão do olho esquerdo.

A sério???
Três pevides de abóbora, umas gotas de água do mar e um pó branco que sabe a fénico, 94,00€????????
Juro, que se a minha mãezinha não me tivesse educado tão bem, era capaz de subir os 5 andares e arrancar aquele olho à dentada.

24 comentários:

  1. Se calhar a cura não está em comer o teu próprio ranho, se calhar só tens de comer o olho da professora doutora.

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    1. E depois além do problema que tenho, ficava também com um problema de estômago.

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  2. E depois acordaste, não foi Uva? Isto foi só um sonho mau, não é assim?
    Ponto, já passou, vá. Não vale a pena chorar.

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    1. 94 euros Sara, NOVENTA E QUATRO EUROS???????????

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    2. Foi só um sonho mau, vê lá se te acalmas.

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    3. Mais valia teres oferecido esse dinheiro à Sara para que alimentasse aquele cão em condições.

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    4. O cão mete dó... realmente. E um peditório? Eu fiquei tesa, pouco posso ajudar, mas tenho contatos...

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    5. Nãaaaaaao! Ele não está magro! Vou levá-lo agora a tomar a vacina, vão todos dizer que ele parece um pote. Oh Filipa... tu... (inspira, expira, inspira, expira...)...

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    6. Sara, a Filipa tem 8526 cães (dois deles obeso), 124658952565859 gatos, (um deles com nome de motorista), 12515 cobras e um frigorífico cheio de ratazanas.
      Toma tento naquilo que dizes, porque se ela solta a bicharada, estamos bem lixadas...

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    7. Correcção: A arca cheia de ratos baby.
      Tive mesmo de mudá-los de sítio que já não tinha espaço para os bifes.

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    8. Os bifes de coelho que lhes dás nos dias de festa, certo?

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    9. Não. Em dias de festa. solto os chinchilas. Os bifes são para os gatos. Hoje um bife, amanhã um homem.

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    10. Andas a criar monstros. Qualquer dia acordas sem os caracóis... depois queixa-te.

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    11. Esperem! Perdi-me! A Filipa tem o quê na arca?

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    12. Aaaaaaaaaaah! Estás a falar a sério? Isso é a sério? Não! Não tem nada...

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  3. Pevides de abobora e agua do mar arranjas de borla :)

    Pelo menos que te cures.

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  4. http://jugular.blogs.sapo.pt/a-bem-danacao-3820525 (provocação: se calhar consegues descontar no IRS!)

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    1. Ola, por acaso fiquei tão lerdinha das ideias que nem vi essa coisa do IVA.
      Ainda estou mal disposta.

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  5. Pois olha, digo-te eu, que já larguei assim quantias generosas (mais generosas que essa - pensando bem, "generosas", não é termo correcto, vamos chamar-lhe "penosas") , receitadas também elas, por uma senhora professora doutora da parte da mãe, e Maria da parte do pai (palpita-me que possa ser a mesma personalidade), e fica aqui o meu testemunho: deu resultado. Mais moroso, mais caro, mas certeiro. Mantém-te firme. Isso vai lá.

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  6. Nunca fui a um homeopata, mas as minhas Ms tomam medicamentos homeopáticos e dão resultado. Anima-te.

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    1. Ando doente há 7 anos... espero mesmo que resulte. Não quero nada ser operada. Tenho horror a operações e o local do crime é tão, mas tão sensível, que se corre mal, fico uma mulher de 80 anos num corpo de 38.

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