Xeidafome

 

A Uva, hoje de manhã, cheia de olheiras...

Boa tarde pessoas, dizia ela num fio de voz, desfalecendo na cadeira, com o estômago colado às costas.

Desculpem-me esta ausência, este silêncio.
Haveis de pensar que fui comida pelo Submarino, que de tão grande conseguiu chegar aqui ao meu escritório, e petiscar-me com sapatos e tudo, mas não, não foi o tubarão assassino que me tragou para me roer os ossinhos. 

Antes fosse caros amigos, antes me fosse reservada melhor sorte, porque estou neste miserável estado, uma uva-passa mirrada, por não comer absolutamente nada, há mais de uma semana.
Venha de lá essa esquálida dentada, dizia ela já sem forças, pois que assim havia de morrer contente, na fartura de um estômago enorme, cheio de (pernas e braços) de pessoas, mariscos, peixinhos frescos, e quem sabe se ovinhos, leitinho ou queijinho, que isto hoje em dia os tubarões são muito modernos e comem tudo como as pessoas.

Ai a minha fome! 

Uma pessoa entregue à míngua, de cabeça pendida, carregando às costas o peso da dieta alcalina, como se fosse um reles pardal, debicando sementes, comendo alface e abóbora, chupando um ou outro raminho de salsa e alto lá.
E a prosa? E os belos textos? Se nem posso comer carne e o peixe é proibido, como é que se puxa uma carroça cheia de letras, como é que vos escrevo um post digno?
Dizei-me pessoas, como pode uma Uva como eu, viver só de couves e repolhos?
Ai que saudades de outros tempos. 

Que saudades dos mariscos. Que saudades dos petiscos.

Morro de medo de mandar a homeopata às urtigas, não se lembre a senhora de me mandar com elas, fazer umas migas. 

Se a minha avó visse isto, havia de soltar uma exclamação tipo esta: Tua andas a comer esta porcaria alcalina? Tristeza d´um cabrão! Deixa-te mazé disso.
E eu deixava-me.
Mas não posso...