Antes de começar, gostava muito que vissem este pequeníssimo,
mas muito interessante vídeo.
Não demora nada, nadinha, e é tão bonito.
A essência que retiro
destas imagens é exatamente a mensagem que gostava de deixar a todos vocêsneste ano novo que aí vem, destemido, sem questões, prenhe de fulgor, como são sempre todas as coisas novas que nascem com a
força natural da vida, sem mácula, sem defeitos. Como o SOL.
Muitos de vós podem
achar que a passagem do ano é apenas uma data, que é, mas por ser um início,
abre-nos a espetacular oportunidade de começar de novo, fazer de
novo, fazer uma pilha de coisas novas, um pé de feijão igual ao do João de
coisas novas, para que o Universo nos retorne de igual forma, novas coisas,
boas-novas.
Gostava muito que vissemnascer este sol brasileiro, que desponta no mar, tão diferente do
nosso que morre no mar, para que ele possa ser um estimulo para este novo recomeço, para que ele seja enfim a metáfora da esperança, da vontade e do acreditar,
pois que o sol háde nascer, e altear, ali e em qualquer lugar, com a ajuda de
uma viola, de uma mãe, de um amigo, de uma viagem, de um livro, e de repente,
sem que nada o faça prever, uma menina de vestidinho branco, um emprego, uma
cura, um filho, nos surpreenda num abraço e dance connosco
ao som da musica da vida.
A Uva Passou por vós. Vocês passaram por mim. Seguimos juntos mais um ano?
Ando cá desconfiada que tudo o que é miúda, ou miúdo vá, já passou pela febre do 'Festival da Canção'.
E não é só o andar desconfiada; é que posso jurar, depois de aturadas pesquisas, que isto é efetivamente uma transmissão genética que se dá em certas células familiares. Da mesma forma que se transmite a cor do cabelo, assim se transmite a febre.
E que febre.
Para que possam acompanhar e certificar as minhas últimas conclusões sobre a febre, lembrem-se lá das figurinhas que faziam em pequenos. Quem de vós não foi já uma Tina Turner em potência? Um Elvis em estado embrionário?
Quantos de vós não tiveram já um público nuclear constituído pelos pais e irmãos, ou tios, ou o que aparecesse lá em casa, que sentados na mesa da cozinha ou no sofá da sala, ao serão, escutavam com aquela cara embevecida de sobrancelhas derrubadinhas, o grande-artista, bailarino, contorcionista (às vezes com uma produção visual muito elaborada, outras vezes só de pijama) que agarrado ao bibelot, à caneta parker, à escova do cabelo ou à caixa de óculos do pai, cantava? furiosamente uma música dos Imagination ou de qualquer artista que a mãe ouvia ao sábado de manhã, num inglês sui géneris, muito apreciado, mas pouco entendível?
Todos não é? Pois... como eu.
Cantava amiúde na cozinha, onde primeiro apresentava a minha própria pessoa como fazem as apresentadoras, e depois entrava de rompante na sala ou em qualquer canto onde houvesse plateia. Toda a minha mini-carreia carreira artística culminou no dia do meu casamento, em cima do balcão do bar, agarrada à liga.
Bom.
Dizia eu que isto se transmitia, não é assim?
Desde que me enfiei numa loja de música, armada em erudita, em cultural, em diferente, em mãe que não atafulha a sua criança em brinquedos deficientes, para comprar o presente de Natal da M.L. gaiata pequena, que já não sei onde me esconder.
Agarrou-se-me a miúda à viola, encarnou numa tal de Violetta, e é o dia inteiro no pior Festival das Canção de que há memória na família cá do burgo.
Ele:
- Eu não te disse que o melhor era teres comprado o Hotel das Pinypon? Pelo menos no hotel as bonecas quando é de noite, dormem...
Mas é tãaaaaaaaoooooo lindinha.
Calhando ainda compro uma para mim, para fazermos um dueto.
Advogados para tratar do divórcio não me faltam....
SOLENE 1. Feito com pompa e aparato; 2. Que impõe respeito.
Há palavras que fazem mais sozinhas do que frases inteiras, todas juntas.
É o caso.
O adjetivo ‘solene’, por ter em si duas derivações opostas, é o que mais se assemelha à atualidade do nosso mundo escolar, isto é, duas formas de agir, e de reagir, dentro do mesmo conceito.
Respeito e aparato.
O mesmo significado, dois sentidos diferentes.
Assim vai a nossa escola, baralhando tudo.
Pais e professores, dois grupos inseparáveis na formação das crianças enquanto indivíduos, duas pedras basilares que contribuem em pé de igualdade para o seu desenvolvimento, são muitas vezes a causa e o efeito que transforma aquilo que deveria ser importante, calmo e majestoso (solene) num aparato estridente e confuso que nos funde a todos, educadores e educandos, numa espécie de anel apertado de regras e deveres que a todos desgasta e consome, causando um atrito que faz separar os grupos que mais se deviam unir. Cresce a distância entre aquilo que é o papel da escola e aquilo que é o papel da família, sendo cada vez mais visível a mistura de papéis, e a confusão das crianças.
Quero com isto dizer que, da mesma forma que os professores foram confrontados com um aumento da permanência das crianças na escola, também eu sou diariamente confrontada (para não dizer obrigada) a desenvolver tarefas escolares que apesar de serem da minha filha e pertencerem ao espaço da escola me são servidas por altura do jantar como se fizessem parte do meu menu diário. Na verdade sinto-me cada vez mais refém da vida escolar da minha filha, e posso mesmo afirmar que a nossa relação se vem deteriorando cada vez mais, por razões totalmente impostas pela escola.
Sinto-me verdadeiramente baralhada com este método impositivo e creio não ser a única.
Os trabalhos que os professores mandam para casa, imensos, diários e repetitivos, que não acrescentam em nada à aprendizagem ou à evolução escolar da minha filha - isto se pensarmos que está 8 horas dentro de uma escola com o professor, e não lhe chega! - vêm ocupar um tempo que é meu!
Ora se a criança necessita dos dois grupos basilares (escola e família) para se fazer enquanto indivíduo, há aqui uma notória usurpação por um dos grupos nessa educação, e como a balança pende totalmente para a escola, o desequilíbrio surge naturalmente na família.
A escola impõe-se à família através dos TPC´s, e isto é desrespeito, quando deveria ser solene.
Oiço dizer que as crianças são mal-educadas. Pois são. E serão. A razão radica tão-somente no tempo de qualidade que a criança tem com a família, que se vê tão diminuído, tão escasso que é quase imperceptível na identidade da criança. O facto da criança ser obrigada a dar continuidade aos trabalhos escolares em família, é como se fosse também obrigada a trabalhar e a interiorizar os preceitos da escola, sem descanso, tornando-se prisioneira do seu próprio desenvolvimento, prisioneira do saber académico.
A minha filha deveria ter o tempo que lhe resta, o final do seu dia, para absorver a educação filial, dos afetos, das brincadeiras, dos ensinamentos, das emoções, mas não, a minha filha chega a casa para continuar os ensinamentos da escola. Algumas, muitas, ainda se vêem confrontadas com mil atividades extra-curriculares, a ginástica, o judo, a música... a meu ver enganosas, porque são também elas escolas de atividades, escolas com regras, com professores.
Além de ser excessiva esta espécie de formatação académica, a escola está a cometer um grande e perigoso erro: rouba-me o tempo e enfada e satura a criança, que a curto prazo pode criar anticorpos contra a escola e vir sofrer de falta de criatividade, isto é, falta de liberdade para brincar, tempo para pensar, tempo para si enquanto indivíduo, impedida de estar sozinha, enfiada que está num meio coletivo, numa aprendizagem unilateral, pejada de números e letras, de regras e de secas monumentais. O meu tempo de mãe é-me assim roubado por três composições, quatro tabuadas e contas ambíguas de somar.
E é aqui que entra o aparato.
Porque eu disparato!
E disparato com a miúda, que não sabe escrever como eu, que a cada palavra apaga, a cada conta erra, porque são dez e meia da noite e o texto ainda vai a meio. E eu tenho o saco cheio. E só me apetece é ralhar com a professora, coitadinha da senhora, que até é minha amiga.
Como disse lá atrás, sinto que a escola está a educar a minha filha, mas não só. A escola com a sua 'diz-que-é-uma-mania' de mandar trabalhos para casa, especialmente desses travestidos de datas festivas que nos obrigam a verdadeiras noitadas de volta de postais, cartolinas, chapelinhos e abóboras, e com a sua rocambolesca teoria de que só assim se consegue que os (irresponsáveis) pais desenvolvam atividades em conjunto com os filhos, está no fundo a dar palpites e a impingir-me um tipo de relação que não quero ter com a minha filha, e vou mais longe, está a tentar ensinar-me como devo relacionar-me com ela.
A escola, ao tentar unir os pais aos filhos, com cópias e ditados 'inocentes', está sim a separá-los, e ainda mais da escola. Desde que a minha filha começou o seu percurso escolar, há três anos portanto, que tenho escola por todo o lado. Escola em casa, escola no trabalho, escola no verão, escola na Páscoa, nas férias grandes e no Natal. É escola a mais. Eu não quero trazer o meu escritório para casa, como também não quero os trabalhos da escola em casa. Eu não quero composições ao fim de semana e tabuadas nas férias. Eu quero ter a minha filha só para mim, e tenho direito de a ter só para mim.
A escola, que tanto se queixa da falta de tempo para preparar aulas, deveria ter em conta que os pais também trabalham o dia inteiro, e vamos lá ver: se não compete à escola a educação parental, porque me há de caber a mim a educação e os ensinamentos escolares?
Bem sei o que muitos vão dizer: que uma conversinha de pé de orelha deixava a professora nos eixos. Mas não, porque a professora segue as regras que aprendeu também ela, enquanto profissional. Os TPC´s muito embora estejam quanto a mim completamente desenquadrados da realidade familiar, e até da atualidade educacional, são parte integrante dos conteúdos programáticos e está totalmente (ou quase) enraizada na cultura do 1º ciclo. Além do mais, a professora pode não aceitar que uma mãe lhe imponha os seus métodos, como eu, que também não aceito que ela me imponha os dela. Não considero por isso o professor como sendo o único ator responsável por este mau teatro. Também ele, enquanto profissional foi motivado para fazer desta forma, ou o que aprendeu transformou-o desta forma.
Às vezes penso que os professores que mais se dedicam a este método, ou são mais velhos (daqueles dos primórdios em que todas crianças saíam às 13h e tinham a tarde tooooda livre) ou são solteiros e sem filhos e não entendem a difícil dinâmica familiar.
E os outros pais? Que dizem eles?
Há pais que podem proporcionar aos filhos o tempo que eu não tenho? Uma minoria.
Mas há pais em casa o dia todo? Sem dúvida.
Há pais em casa às seis da tarde que podem fazer estes trabalhos? Há, mas não sou eu, e o mais engraçado é que a minha filha também não.
Então e não há nenhuma alminha que ponha cobro a isto? Com tantas vozes que se levantam?
Já pensaram que há pais analfabetos que não sabem ler uma letra do tamanho de um palácio? A estes é-lhes 'perdoado' o trabalhinho pós-laboral?
Já pensaram que há avós velhotes, que muito já fazem eles, quanto mais ler intrincados enunciados e resolver contas e análises de textos.
E os métodos atuais tão diferentes dos nossos?
Da mesma maneira que não me faz qualquer sentido TPC´s até ao 4º ano de escolaridade, por não adicionar mais-valias significativas à aprendizagem da criança, menos sentido me faz nas férias (grandes ou pequenas) ou aos fins de semana. As crianças necessitam de brincar, dormir e descansar e até, pasme-se, de ver televisão e jogar computador. Se os professores não trabalham nas férias, não deviam impingir isso aos seus alunos e aos pais dos seus alunos.
Caros professores primários adeptos dos TPC, faço este apelo: O momento é solene.
Não sei porque me torturo tanto. Sei perfeitamente que não tenho capacidade para intervir na luta que se trava entre mim e o prato onde pousam, e que fica abandonado por todos, num canto da mesa de Natal.
Andei estes dias a passear pela casa, armada em distraída, e a deitar o olho ao prato.
Tapei-o, como se tapam os mortos.
Ninguém quer olhar para ali, basta-nos o vulto para saber o mal que para ali vai, o cheiro que aquilo deita, o gosto que aquilo tem.
Parecia uma doente psicopata com aqueles pensamentos estúpidos e binómios entre a gula e a culpa, ou então semelhantes aos que os tóxicos têm quando decidem deixar o vicio: 'só mais uma vez não faz mal, é a última.'
Mas a última, já se sabe, é só quando acaba, quando o prato fica vazio, os bolsos vazios, a culpa cheia e a gula esperneia...
Sei muito bem o que é isso de enfrentar a gula da comida, a gula do tabaco, a gula da leitura, da ginástica, do Bairro Alto, e de tudo o que levei até ao extremo.
Alargou-se o estômago, a cabeça só estava bem de pernas para o ar, e a
boca não se cansava de fumar.
E dançar? Dançar até cair. Ainda não me levantei.
E agora estou para aqui a sofrer.
De nada me vale ir beber um chá, ou meter os dedos à boca.
Já não me sai o binómio da cabeça, já não me sai a culpa da pele, e já não voltam as filhós para o prato.
Não sei porque me tentam se tudo o que aprendi comigo foi: se é para cair, há de ser em tentação.
Fogem-me sobretudo as palavras.
Fico aqui muito quieta a ver passar as linhas cheias de letras, cheias de significados.
Os livros trazem-me muito isso. O meu próprio silêncio. Calam-me as vozes da cabeça, que nunca se aquietam, e fico sossegada, e atenta, às vozes dos outros.
As palavras nunca são silenciosas, poderão dizer. Há até palavras más que se unem com outras palavras, para nos gritarem muito alto. E picam, e são duras, como pedras.
Mas gritam, e picam e apedrejam... para dentro.
Não se ouve nada, mas despertam sons.
Não cheiram a nada, as palavras, mas às vezes os odores que soltam são véus que nos envolvem como especiarias... de muitas cores.
Saber ler é também saber escutar, cheirar e saborear.
Ler é o sexto sentido.
A arte a sexta cor.
Não sou artista e talvez por isso tente fazer com as letras o que alguns (me) fazem com a arte.
Por isso leio livros, mas fogem-me as palavras, para escrever, criando.
Não me entristeço porquanto os livros são artistas e ler também é arte.
Mas gostava mais de ser artista, e por isso, a pouco e pouco, vou criando a minha obra.
Pode ser prima, mas será antes de tudo amiga, companheira... de luta.
Um dia ela há-de calar muitas vozes. Um dia será arte aquilo que escrevo.
Deu-se o caso de não ter trazido a marmita hoje, que a coisa tem de ser feita a preceito, e não é todos os dias que trazemos a filha para o Rule of Law.
O almoçarelos hoje foi a duas, num restaurante aqui da zona.
- Perto do trabalho da mamã não há, mas levo-te ao Great American Disaster que é infernal mas servem hamburgas e peixinhos panados com batatas em linha. Pode ser?
É um orgulho sair do escritório com uma filhinha tão bonita pela mão.
Não levava as pernocas enfiadas numas meias até ao joelho, porque constipa-se nas pernas (e não gosta lá muito de saias), mas levava uma camisola linda, cinzenta clara, com uma estrela de brilhantes no meio, muita gira, onde aflorava (na golinha) uma camisinha branca toda ela bordada à mão, por uma máquina nossa conhecida.
Para pandant, umas jeans pretas bem justinhas e uns ténis-bota muito dos altamentes, que dão aquela impressão que os miúdos só têm pés... mas a filhinha é dona de uns olhos azuis do tamanho do mar e a coisa lá disfarça. Um ganchinho lateral em renda, oferta da avozinha, e os dedos todos tisnados de tinta verde e preta, fruto do trabalho no escritório, completavam o ramalhete.
Uma bola de chocolate inteirinha na camisa bordada à mão, a escorrer pela camisola cinzentinha, tão gira que dói, passa pela estrela de brilhantes e diz olá, despedaça-se toda nos jeans justinhos e cai toda esmolengada justo em cima dos ténis-camurça? Check!
Filhinha no escritório = The Great Rule of Law Disastre.
What else?
ML?????
MLLLLLLLLLLLLLLLLL????
Mas onde é que se enfiou agora a miúda?
- Olá, desculpe, viu a minha filha?
- Vi! Foi com a TJ distribuir o correio ao 1º andar.
- Sacana...
(...)
TJ entra-me no gabinete.
- (Muito alegre) Uva Passa????? Não sabia que tinhas um blog. É sobre quê? A minha cunhada também tem um, mas o dela é sobre costura! Que máximo! Mostra lá, é de receitas não é? Uva Passa, só pode!
- (Muito amarela) Ò filhinha, a mamã não tinha combinado contigo... hum?
- (Muito vermelha) Mas mamã, a TJ só perguntou se eu sabia escrever, e eu só lhe disse que tu é que eras a escritora........ também disse que o pai fazia desenhos... faz mal?
Não filhinha, faz agora mal, mas podes pedir ao pai para desenhar um buraco?
Dos grandes?
Já afiou, frenética, 15 lápis desses caríssimos que só servem a CEO´s e CEE´s em dias de closing.
Já carimbou, com o carimbo da data, praticamente uma resma de folhas que havia de lhe dar para todo o dia.
Já pôs o tablet com uma musica manhosa da Violeta a soar em altas berrarias que só ninguém ouviu porque estão todos de férias.
Já errou em duas contas de somar quando lhe perguntaram quantos éramos à mesa do Natal.
(...)
A chegada do Sr. Dr:
- Olá bom dia!!! Então tu é que és a ML? És muito bonita. Estás a gostar de estar aqui com a mamã?
- Não, isto é uma grande seca. Mamã, podemos ir embora?
Venho aqui dizer às escondidas, enquanto a pequena 'ajuda' a menina das fotocópias, que até agora, e contando que nos primeiros 45 minutos andámos a conhecer os colegas e as instalações, que ainda só disse à menina do departamento de contencioso que a mamã não era loira!! e que achava muito mal ter uma fotografia na Uva Passa com uma franja e um cabelo que nem era dela...
Criança no escritório no último dia de trabalho - 1
Mamã no escritório numa grande carga de trabalhos - 0
Mais do que ela, que fala no assunto desde que entrou de férias.
Ela é uma criança super descontraída, que vai ser ela própria, vai rir e sentar-se ao colo de toda a gente, vai dizer que a mãe tem um blog e desmontar o mais sinuoso e tortuoso segredo quer alguma vez tive de esconder. Vai dizer que a mãe aquece os pés num saco de água quente e que grita com o pai se ele deixa as migalhas na toalha. Vai dizer com o nariz colado no nariz do Sr. Dr. (que é assim que faz quando conta as coisas proibidas) que a mamã às vezes fala sobre ele mas que lhe pediu para não contar. Vai de certezinha deixar escapar que o cabelo da mamã é na verdade preto, igual às sobrancelhas, e que às vezes fica laranja quando se engana nas tintas. Com sorte ainda lhe conta que é o pai que lhe pinta as unhas dos pés e que lhe corta o cabelo, aos domingos, quando o Benfica não joga. Vai dizer que a avó nunca se penteia com a escova e que às vezes tem nódoas na camisola, e vai dizer que o avô já lhe deu uma palmada e que ela nunca, nunca! lhe fez nada e que só por isso é que toda a gente deve ficar a saber as maldades que ele faz, como por exemplo andar a apanhar ameijoas na Lagoa sem os polícias saberem. Isso e que passamos o verão todo a comer caracóis. Ahh, e que ela só come douradinhos e deita-se sempre muiiiitoooo tarde.
Ai que vergonha quando lhe perguntarem se já sabe ler e ela, muito depressa, a responder que já sabe ler desde a primeira classe e que a mãe, coitadinha, só aprendeu a ler na segunda.
E vai perguntar ao Senhor Dr. porque é que ele não deixa a mamã sair a horas de a ir buscar, e se ele não sabe que as senhoras tem afazeres em casa.
E vai espetar aquele dedinho, ó se vai, que eu bem a conheço, se descobre que matamos uma centena de árvores por dia para imprimir emails.
Estou eu mais em pulgas do que ela.
Mas ela é uma criança super descontraída que vai adorar passar o dia com a mãe no escritório, a ver fazer as coisas que a mamã faz, muito complicadas e muito demoradas, que lá na imaginação dela são de suma importância para todos nós... só que não...
Mamã, o que é o teu trabalho? Hum.... Hum...
Só espero que não peça presentes de Natal a todo o departamento financeiro ou dinheiro para o mealheiro, que isso sim, seria o descalabro e a vergonha da minha cara.
Amanhã será um dia especial no escritório.
Amanhã pequena terrorista invadirá o Rule of Law!!!!