5 de março de 2015

A viúva alegre

Hoje foi um dia especialmente feliz.
Não foi o dia todo, como está bom de ver, que a felicidade só vem em picos, exatamente como as flutuações da bolsa ou a doença bipolar. 
Também não foi metade do dia, que isso era dantes, quando era nova e tinha tempo, que agora, e defronte às circunstâncias inóspitas do meu mundano dia, conseguir um picozinho de felicidade plena é mais difícil que o parto mais difícil.
Encontrei-me pois com este doce e infímo momento, refastelada em frente a um hambúrguer que se escondeu muito envergonhado, num espesso molho de mostarda e natas. 
Não veio sozinho, o sacana, trouxe um ovo de galinha, um planalto de batatas fritas muito luzidias e uma garrafa de Chic fresquinha. 
Ahhhh, espertinhos, já a pensar que a felicidade é uma vendida, uma fácil, uma mulher-hambúrguer que homens andrajosos lambuzam por tuta e meia, não, não ides por aí, que a verdadeira felicidade não se aproxima assim de nós só porque pedimos o great american desaster para comer à hora do almoço; se assim fosse, deitávamos todos a felicidade pelos olhos, e andaríamos numa fona a perseguir antes a tristeza.
A felicidade estava para além do prato, para além do amontoado de calorias disfarçadas e aninhadas umas nas outras, estava para além da Chic fresquinha e do menú indecifrável que dividia a mesa. A felicidade estava ali, plasmada nos meus olhos, quando percebi que tinham passado 12 anos desde a última vez.
Num momento ínfimo do meu mundano dia, aconteceu uma coisa ímpar, quase um milagre.
Aconteceu um enterro, o enterro da viuvez de uma amizade.

E o mais engraçado, dei-me conta agora, é que esta magia só é possível nas palavras.
A de sentir felicidade num enterro, a amizade ser viúva, e a viúva ser novamente solteira.
 

(Adorei o nosso almoçinho. Ácaras!!!!! novamente on tour!!!!! que o hambúrguer estava uma merda, mas vocês, ui ui, como o Vinho do Porto.)



8 comentários:

  1. Coisa boa (o momento, não o almoço)!

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  2. Enterro da viuvez?
    Soa bem!
    Não é por nada,
    mas... porque não celebraram...
    com pezinhos de coentrada?

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    1. Enterro da viuvez da amizade. Sim, o momento foi esse! Coentros ficam melhor no bulhão pato. Não era o prato.

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  3. O Great deve ser dos restaurantes de hambúrgueres mais antigos de Lisboa, senão o mais antigo :)
    Podes comer lá uma poia no pão, mas aquilo é mítico. Quase se pode dizer que as pessoas se dividem entre quem já comeu Great e quem não.
    Era lá que ia almoçar, de vez em quando, com as amiguinhas, quando andava no liceu, há que décadas! :)

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    1. Se lá fores avisa-me! Estou ali perto e posso salvar-te das poias que eles lá servem! ;))))))

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    2. Aviso, pois :)
      A minha emoção será gigante, não vou lá desde a pitice. E se, a juntar isso, for para te ver, ai Uva, ainda se me arrebenta uma têmpora de felicidade :)

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