26 de março de 2015

Mães-Pai - verdade ou construção social

Ando há dias para falar nisto e ainda não tinha tido coragem.
Apeteceu-me novamente falar disto no dia do pai, onde li em tantos lados a frase 'fui mãe e pai', mas depois pensei, penso sempre, que poderia não me saber explicar, ou não me fazer entender, o que não é a mesma coisa, e deturpar algumas cabeças, sobretudo as que lêm tudo na diagonal, muitas das vezes só aquele pedacinho do início dos parágrafos, e me punha a jeito, ou armava mesmo uma qualquer confusão, coisa que não seria de todo aquilo que tinha em mente ao escrever este texto.
Para apresentar o tema aos leitores, e tendo como pano de fundo a plena consciência de que não posso albardar este burro à minha vontade, isto é, não posso fazer pender a minha opinião por ter lavado nessas águas as minhas mãos, ou ter quem as tivesse lavado aqui muito próximo, para dar à luz uma opinião razoável, tentarei não o fazer, porque isso já não seria albardar o burro à minha vontade/experiência, isso seria antes substituir-me a ele.
Mas, infelizmente, a croniqueta de opinião que aqui vou debitar é, apesar do meu esforço, baseada em apreensões que faço da vida, e conclusões que tiro dela, pelo que alertados para esse facto, os leitores depressa verificarão que as conclusões não são cientificas, ficando aliás a dever muito ao método experimental, tão difícil na área do comportamento animal

Refiro-me naturalmente às mães solteiras, às mães sozinhas, às mães que por escolha ou destino, fado ou enfado, criam sozinhas durante todo o tempo, ou a maior parte do tempo, os seus herdeiros sem a ajuda do pai.
Quero fazer desde já uma ressalva que pode ser importante, ainda não sei, pois que ainda agora comecei e ainda não sei bem onde me levará o texto: pai não é o mesmo que progenitor. Posso ser progenitora e não ser 'mãe', e posso ser mãe não sendo progenitora. As nossas antiquadas leis ainda não definiram isto, e é pena. Quero com isto dizer que a parentalidade atual, representa um novo modelo de atuação paterna no contexto familiar, deixando claro que tornar-se pai é muito mais do que definir-se biologicamente como pai.

Dizia eu, que pretendo discorrer sobre esta temática de ser pai e mãe - há falta do elemento masculino - que discordo em absoluto, com base em pensamentos meus que podem estar muito errados, e peço desde já a vossa ajuda nesta clarificação.
Posso afiançar, que afianço, que talvez as mães que criam sozinhas filhos, ainda não tenham parado para pensar bem nesta afirmação, e que por isso a repetem de forma algo impensada.
A natureza é clara neste ponto: o óvulo recebe o espermatozoite que o fecunda dando origem ao novo ser. Querer substituir, mesmo que simbolicamente, este espermatozoide, constitui, logo à partida, uma contra-natura, uma impossibilidade. A natureza está em nós desde o princípio dos tempos; não há como alterar isto.
Aqui, estou certa, de ter todas as opiniões a meu favor.
Passemos então para a construção da natureza genética, isto é, para a construção de uma natureza construída socialmente.

O pai e a mãe desempenham um papel especifico na construção da identidade da criança, e um pai, apesar de ser prescindível, é insubstituível, mesmo que estejamos perante uma mulher masculinizada.

Vejamos:
Uma mulher capaz, vá, uma Maria capaz, consegue desenvolver atividades masculinas, pode até em algumas situações ser melhor que o pai, 
Podemos mesmo dizer que a criança não necessita do seu pai pois pode ir buscá-lo facilmente à paternidade coletiva, ou seja, buscar na sociedade o papel que lhe está vedado pela ausência do seu pai.
Mas isto reforça a minha ideia de que o papel do pai é absolutamente necessário na construção da criança, que na falta do seu próprio pai o encontra em outros 'pais'. A categoria de 'pai' torna-se facilmente transferível a outras figuras, mas isto só acalenta que há uma necessidade absoluta de pai, caso contrário não havia necessidade desta transferência.
Podemos mesmo associar o desaparecimento da figura do 'pai' à evolução das sociedades modernas, onde pai significa austeridade, respeito, e submissão, coisa que agora, num mundo muito feminizado, se pode descartar e é até amplamente apoiado.
Não posso ir por aqui, isso seria sobrepor-me como mulher, ao homem, e não é isso que gera a igualdade, coisa que venho defendendo.

Então porque é que uma mãe nunca pode ser mãe e pai, baseando-se apenas no espaço temporal que ocupa em seu lugar?

A resposta, quanto a mim, radica na própria criança, que não consegue identificar uma mãe como sendo também pai, apesar de ser criada só por ela e reconhecer o esforço adicional de a criar sozinha.
A construção de ser mãe e pai é uma construção totalmente feminina, que tenta a todo o custo minimizar na criança, a falta, tentando minimizar o sofrimento da criança, mas que em nada coincide com a opinião desta.
O que as crianças anseiam não parece referir-se ao modelo nuclear de família mononuclear matriarcal, uma vez que relatam, em alguns casos, altos graus de satisfação nos seus relacionamentos familiares atuais. Procuram sim, serem reconhecidos enquanto seres valiosos e importantes, em especial, por aqueles que os conceberam. A ausência do pai é sentida, então, não apenas como a falta de uma figura de autoridade moral dentro do arranjo doméstico, mas, e principalmente, como omissão de um membro importante na constituição da história de vida destes sujeitos.
E a falta de um elemento insubstituível, embora prescindível socialmente, pode não ser visível aos olhos da sociedade, mas é amplamente sentida ao nível do eu, do ego, da segurança e do seu espaço na sociedade, sobretudo na afirmação tão necessária na adolescência, e nos traumas da abstinência tão visiveís na idade adulta.

A presença efetiva do pai, implica uma diferença significativa na sua trajetória de vida?
O que são estas mães além de todas as outras?

20 comentários:

  1. Tema bem escolhido. E, não querendo complicado, não vou o vou estender ao que era a família, antes do conceito de família nascer... também não vou falar das sociedades matriarcais, nem das famílias poligâmicas, para que o tema não saia do foco que lhe deu. Apenas refiro, tudo isso, para sublinhar que estamos (está) a falar da família sua, a dos vizinhos, colegas e conhecidos, segundo os conceitos da modernidade (com realce para a cultura judaico-cristã). Pai é pai e mãe é mãe e a relação afectiva desenvolve-se no equilíbrio do conceito assimilado e adquirido. Os desequilíbrios podem ser compensados? Podem. Por vezes com maior sucesso do que acontece às famílias "bem estruturadas". Falando por mim, as minhas filhas são como são, por me terem (como pai) assim. Se não me tivessem, seriam outra coisa? Certamente. O que não significa que não fossem boa gente!
    Não sei se respondi, mas não termino sem referir que gostei do que li:
    "E a falta de um elemento insubstituível, embora prescindível socialmente, pode não ser visível aos olhos da sociedade, mas é amplamente sentida ao nível do eu, do ego, da segurança e do seu espaço na sociedade, sobretudo na afirmação tão necessária na adolescência, e nos traumas da abstinência tão visiveís na idade adulta."

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    1. Mas achas que é certo uma mãe dizer que é mãe e pai, sendo o seu papel tão diferente e diferenciado na sociedade. A mãe pode ser ambas as coisas?

      'Fui mãe e pai' é uma afirmação com a qual não concordo. Foi mãe sem pai. Mãe e pai não.

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    2. Pensava já ter respondido "Pai é pai e mãe é mãe e a relação afectiva desenvolve-se no equilíbrio do conceito assimilado e adquirido. Os desequilíbrios podem ser compensados? Podem."

      Mas se queres resposta mais directa, ela é não!

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  2. Sim. Concordo. E sou mãe divorciada e sinto muito bem a importância do pai do meu filho na vida dele. Tendo ele um padrasto. Mas sim, o pai é importantíssimo. Se não tivesse pai, a figura masculina de referência seria o padrasto. Mas haveria outra figura masculina de referência. Se fosse filho adoptivo de duas lésbicas, presumo que uma delas assumiria a figura masculina, ou ele teria de buscar a referência lá fora. MAS no fundo acho mesmo que, não havendo, não vem mal à criança. I.e., at the end of the day, de facto o que interessa mesmo são os afectos. Na minha opinião, claro. Por isso é que sou a favor da adopção por casais do mesmo sexo, pois que as crianças podem buscar, nas sociedades heterogéneas de hoje, figuras de referência noutro local. E crescer com afecto e saudáveis. O não ter a figura masculina de referência, embora faça falta, pode, ao fim e ao cabo, não ser o mais importante nos casos de crianças institucionalizadas. Ou filhas de apenas um dos membros do casal.

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    1. Queres assim dizer que não te assumes mãe e pai, na criação do teu filho, mesmo que ele não tenha o pai.

      E assim?

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    2. Claro que não. Sou mãe. «Só isso»

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  3. Este é um tema delicado, e vou apenas falar na minha experiência pessoal. Vivi com o meu pai até aos dezoito, embora entenda que o papel de pai foi exercido de uma forma muito deficiente. E continua a ser (diria até, inexistente). Entendo que a minha mãe, foi mãe. Duplamente mãe, por falta de apoio.
    Os meus filhos viveram com pai e mãe, até há dois e anos e meio. Aos olhos da maioria, somos um ex casal muito estranho. Porque nos damos bem, porque a educação dos miúdos é feita em conjunto, porque entendemos que assim deva ser. Os miúdos não têm culpa alguma nos erros dos pais, e merecem acima de tudo ter as duas figuras presentes. Se passo mais tempo com eles? Vivem comigo, por isso sim. Se às vezes me sinto sozinha e cansada em pequenos pormenores do dia a dia? claro que sim. Mas no geral, o pai está sempre presente. Quase todos os dias vê os filhos, na hora de tomar decisões está cá, na hora de ir ao médico está cá, na hora de assistir ao futebol ou à dança está cá. Aniversários, e outras datas importantes, está cá. Porque ele é o melhor dos pais, porque não é substituível, porque não o quero substituível, porque ele não se quer substituível, e os miúdos não o querem substituível. Porque eu sou mãe, e só mãe. E ele é pai e só pai.
    Mas isto, somos nós. E não quero com isto dizer, que somos o melhor exemplo...

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    1. Concordamos a 100%.
      Se estivesses sem o pai das crianças, concordas que mesmo por passares mais tempo com eles, não eras a mãe e o pai, pois que isso seria diminuir o teu papel de mãe, que é mais importante especialmente por estares sozinha.

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  4. Cara Uva,
    A afirmação "ser mãe e pai" de uma criança quererá significar ser "tudo", em contexto familiar. Não me choca que o progenitor, que sozinho desempenha as funções parentais, sinta (e diga) que faz de "pai e mãe". (Não coincidimos, pois, na interpretação de tal expressão.)
    Quanto a dizer que pai significa austeridade, respeito e submissão, e que tais conceitos desaparecem numa sociedade efeminada, ou que pai é a figura da autoridade moral, é algo que resultará, certamente, de experiências e mundividências muito diferentes das minhas.
    Beijo,
    Outro Ente.

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    1. Caro Ente,
      Também não me choca a expressão e nem a interpreto mal. Percebo-a totalmente, mas não concordo com ela.
      Os bois é pelos nomes que se chamam e se uma mãe refere que é pai e mãe, e se o escreve onde já tantas vezes o li, indicando que faz papel de pai porque não há efetivamente pai para fazer esse papel, é errado em muitos sentidos, inclusive para a criança que se vê obrigada a abrir mão de uma figura paterna, porque a mãe também é pai, e não é.
      Quanto a dizer que pai significa austeridade, respeito e submissão, falo naturalmente da decorrência da história e do papel do pai que era isto e até muito mais que isto e que agora se transformou profundamente. Era medo e absoluto respeito. Não tenho experiência de pai tirano, até porque o meu pai esteve sempre ou quase sempre, totalmente ausente por motivos de trabalho e foi sempre meu amigo.
      Outro abraço.

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    2. A pedra de toque passará, precisamente, pelo "amigo". Que a criança precisa de pais amigos é ponto assente.
      Não sei de quantos adultos a criança precisa para crescer. Também não sei se prescinde de, ou se é prescindida por. Inclino-me para a ideia de que é preciso uma aldeia para criar uma criança.
      Tem razão quando diz que os bois se chamam pelos nomes. Mas, neste caso, há demasiada bruma para que eu os consiga distinguir.
      (Querida Uva, eu nunca disse ou pensei que interpreta mal.)
      Podemos apenas não coincidir quanto ao impacto que a expressão terá nas crianças?
      Um beijo,
      Outro Ente.

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    3. Por quem sois caro Ente. ;)))

      Aqui o que falo é no impacto que este 'dito' tem em mim, e não nas crianças.
      Das crianças posso apenas falar (e tal como digo, sempre a aprender aqui com o pessoal que eu só sei que nada sei) o impacto de ter só uma mãe no processo de crescimento.
      O que eu na verdade não gosto, ou que discordo, é quando as mães se colocam no papel (verbal) de pai, quando é totalmente impossível, até por uma questão de natureza, serem ambos os dois.
      Há mil páginas no facebook com esta permissa: sou pãe (mãe e pai).
      É bem capaz de se tornar um sub-género, mas pães só conheço os que se comem.

      (Podemos apenas não coincidir EM TUDO, caro Ente. Aprenderemos muito mais um com o outro, e é bom.)

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  5. Ufa! Uva nem te consigo acompanhar, isto é que é produzir e em bom, continua a botar essas ideias todas cá para fora. Tenho de vir depois com mais tempo ler as opiniões das outras pessoas e o texto que está ali já a seguir, porque agora não vai dar. Então quanto a este tema, mesmo interessante, acho que disseste muita coisa se não tudo o que é verdadeiramente importante nesta frase "Procuram sim, serem reconhecidos enquanto seres valiosos e importantes, em especial, por aqueles que os conceberam." já deves ter conhecido pessoas que mesmo já sendo elas próprias pais e mães continuam inseguras quanto à ideia que os pais têm delas e parece que levam a vida a querer provar aos progenitores o seu valor, portanto penso que esta tua frase encerra o fundamental. Se a haver ausência paterna esta não for apreendida por um filho como um abandono, por um não querer saber, por falta de amor por ele, a coisa não causará a mesma mossa como se assim for entendida. Percebo perfeitamente a forma como distinguiste papéis em termos de diferentes funções digamos assim, no contexto familiar da parte da mãe e da parte do pai, porque entendeu-se durante muito tempo que isto era mesmo assim, agora com esta palermice, desculpa-me o termo, de se confundir tudo e chamar-se à mais que justa luta pela igualdade de direitos, igualdade de género, fica muito mal dizer que o pai incentiva na criança a propensão para a acção, para a independência, para o bater asas do ninho e que a mãe será a que ampara mais as quedas, a apaziguadora, o colo digamos assim, claro que isto não é linear, nem rígido, mas se avaliarmos pelas nossas próprias experiências e por muitas que conhecemos, provavelmente chegamos à conclusão, que isto não será assim tão disparatado. Gostei muito da for como falaste sobre isto, acho que tocaste nos pontos essenciais e mais uma vez te digo, para além de todas as considerações que possamos fazer sobre este tema, para além de todas as opiniões, disseste nesta frase o que considero que importa verdadeiramente, embora lá destacar outra vez a frase "Procuram sim, serem reconhecidos enquanto seres valiosos e importantes, em especial, por aqueles que os conceberam." e assim pode lá estar só um, desde que a criança sinta que é igualmente importante para o outro, bem, mas isto já sou eu a acrescentar e também sem bases cientificas nenhumas.
    Até logo, Uva.

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    1. Ufa! Clau, nem te consigo acompanhar, isto é que é produzir e em bom, continua a botar essas ideias todas cá para fora.
      ;))))))))

      Volta sempre!

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  6. não sou pai da mc: sou mãe. nas palavras e na cabeça dela, sou com quem ela pode contar para tudo e sempre. se isso é bom? não. por exemplo gostava de ter com quem dividir as tarefas e as conquistas. não tenho, ponto. já fiz disto tudo um filme, até que um dia a terapeuta da mc pôs um ponto final em tudo: disse-me para desistir de algo que não dependia de mim. chorei como uma madalena, pensei na minha infância: a minha também, sem um pai presente. acho que trouxe muita coisa «ao de cima», mas a verdade é que estou aqui: com falhas como toda a gente, mas não vejo em mim nada que outra pessoa - com mãe e pai presentes - não tenha. o que a minha experiência me ditou é que gostava que a minha filha tivesse os macacos arrumados nos sótão, coisa que infelizmente na década de 80 não se valorizava: a saúde mental é tão ou mais importante que a saúde física. a minha filha fez terapia e concluiu-se que tem a cabeça arrumada, se calhar mais arrumada do que eu. consegue esquematizar a sua linha de raciocínio como muitos adultos não conseguem [palavras da psicóloga]. sim, leste bem: ela faz esquemas em papel do que sente. olha, eu ando há mais de 10 anos a tentar e não consigo.
    se sou também pai dela? não, não sou. nem quero, ela tem pai e sabe-o. não o sente, mas sabe. tento colmatar a ausência. perguntas-me se consigo? não sei, só o futuro o dirá. tudo isto pode trazer dois caminhos no futuro [desculpa, mas não tenho tempo para explica-los], mas tem uma mãe atenta, uma mãe que vai estar sempre a alerta. e quando não sabemos, devemos perguntar a quem sabe: foi o que fiz e farei as vezes que entender que devo. se for preciso voltar à terapia volta, isso não é vergonha nenhuma. vergonha é não lhes ligarmos, não estarmos atentos, não participarmos, não afagarmos, não os «matarmos» de beijos, não lhes dizermos que gostamos deles, não os ajudarmos. eu estou aqui para o que der e vier.

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    1. Estás como peixinho na água nesse teu papel de mãe. Admiro-te por isso, como admiro todas as mães que criam filhos sozinhas. Não deve ser tarefa fácil, todas as situações serem avaliadas apenas por uma única pessoa, todos os dias, no imenso dia a dia de uma criança. Não podes baixar o flanco, e torna-se muito difícil transportar a culpa só contigo, nas vezes em que as coisas não correram bem. Se ela tem terapia, olha ainda bem que tem, que tens capacidade de perceber que ela precisa e que lhe faz bem. Tu não és pai e mãe, tu tens é de ter capacidade de tapar todos os buracos, os teus e os do pai que não está lá. O importante é ela não transportar consigo essa mágoa da ausência e canalizá-la mal para os homens que vai encontrar na sua vida. Resolver coisas na cabeça de uma criança que não tem pai, é uma grande responsabilidade, mas depende muito da mãe não igualar todos os homens ao exemplo do pai, com aquela conversa infame de que os homens são todos iguais. E chora sempre que quiseres. Nem sempre é fácil chorar. Eu choro pouco, ou não choro mesmo nada. Sou por vezes, e por isso, um peixe balão.

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    2. ela não tem pai presente, mas tem pai e está vivo. mas, mesmo não tendo pai tem uma figura parental: o tio que também é padrinho. tem uma relação bestial com ele ;-)

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  7. Tens razão, quando afirmas que "A construção de ser mãe e pai é uma construção totalmente feminina", porque, desde logo, a inversa não é verdadeira. Ou seja, um homem que crie os seus filhos sozinho, não alardeia ao mundo a sua dupla vertente, pai e mãe. Mas é um chavão que as mulheres usam por razões completamente ancestrais, que nem vou dissecar aqui e agora, porque olha, tenho um tacho ao lume :D

    A minha mãe, que é uma enormíssima fonte de sabedoria, e na qual eu acredito de olhos fechados (pois assim me recebeu nos braços e nunca me deu motivo para desconfiar dela), disse-me sempre que "As mães são afecto e autoridade e os pais são autoridade e afecto". Passaram muitos anos sobre esta máxima, mas acho que se mantém inalterada, na prática. Pode até haver inversão da ordem em alguns casais (a mãe ser autoridade e afecto, etc), mas ambos os papeis, exercidos por ambos, fazem uma falta estrutural e condicionam necessariamente toda a construção da pessoa-filho. Uma mãe que se ache no exercício dos papeis mãe e pai, é o quê, por esta lógica? Autoridade e afecto e afecto e autoridade, só afecto, só autoridade ou, na verdade, nada? É que ninguém se desdobra...

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    1. A inversa não é verdadeira, pelo menos nunca ouvi.
      Tentar ser pai e mãe é ir além da natureza.
      Belíssimo comentário. As usual.

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