17 de abril de 2015

O projeto para alterar a Constituição Portuguesa está agora nas mãos de... jornalistas!

Nem sei bem como começar isto.
Não sei se comece por dizer, e isto pode ser aziago, que são treze as propostas de alteração à Constituição Portuguesa feita pelos jornalistas do Observador, se refiro apenas 'algumas alterações' com a mesma displicência de quem esborracha a ponta do cigarro contra o passeio, ou se vá ali à Igreja dos Anjos pedir ajuda divina para esta gente, que ao que me parece, perdeu completamente a tineta.
Os jornalistas do OBSERVADOR, malta muito jovem - a ver pelo alarde que fizeram com o recrutamento de jornalistas com menos de 30 anos a semana passada -, saudável, sem preconceitos, e sem inimigos, além dos comunistas, resolveram armar-se em constitucionalistas, e fazer pelas suas próprias mãos, com uma pouco clara componente  de 'consulta popular', a revisão da Constituição Portuguesa.
Extraordinário.
E digo extraordinário porque perigoso, e até doentio, porque um jornal que cresce a cada dia e a cada dia se afirma como opinion maker, que é lido por milhares de pessoas, muitas deles jovens, tão jovens quanto os que lá trabalham, e que resolve de ânimo leve fazer um exercício de alteração da Constituição Portuguesa, e fazem-no, oh Lord!, baseado em princípios neoliberais vilanos que já todos, ou quase todos, perceberam onde nos fizeram chegar, dá-me assim valentes arrepios na espinha.
Com que então um Constituição apolítica, hem? Sim senhora, muito bem pensado.
E quereis também, porque não vos basta terem o Primeiro-Ministro, o Presidente da República e a Procuradoria Geral da República, tudo com o mesmo fardamento, que seja [de acordo com as vossas propostas] o Presidente da República (que pode ser a nossa atual amiba unicelular, ou quem sabe, uma amiba sem qualquer célula) a nomear o presidente do Tribunal de Contas, o Procurador-Geral da República, as chefias militares, o provedor de Justiça e ainda os sete juízes do Tribunal Constitucional.
Que bonito.
E, porque achardes pouco o que tendes, ainda quererdes ver esse desespero, que é meter a fruta [podre] toda na mesma cesta - o que foi um dos maiores erros da história da democracia em Portugal -, também escarrapachado no articulado da nossa Constituição.
E não vos chega a miséria nos hospitais e a morte nas urgências, a miséria no ensino e a morte da língua portuguesa, o desemprego jovem e as privatizações burguesas, a emigração idosa e a estagnação populacional, que também quereis a redução do elenco de direitos sociais e a desconstitucionalização do respetivo financiamento, consagrado na atual Constituição.

Calai-vos! 
Calai-vos porque vocês não sabem o que dizem.
E sabem o que é que eu, e outras pessoas como eu, faziam às vossas propostas jornaleiras que englobam, claro está, cai-vos a máscara, a redução da hiper-rigidez da Constituição e a flexibilização das normas sobre a revisão constitucional?
Que não fosse ele um jornal virtual, e eu uma pessoa de bem, e dizia-vos o que fazia.

18 comentários:

  1. Só mesmo a última frase para me fazer rir.

    (eh pah, qualquer um pode congeminar e propor alterações, tendo tempo, em vez de palavras cruzadas até pode escrever um constituição inteirinha. Daí a até a coisa ser levada a sério...)

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    1. Pois, mas esta gente anda a semear o terror e com um 'Observador' nas unhas, tudo é possível. As pessoas são muito influenciáveis. ESta malta do Observador, fachos como lhes chama o João Quadros, direita radical, fazem bom trabalho, ou faziam, e agora é só política de agressão. Um jornal totalmente instrumentalizado pela direita.
      É pena. Tem coisas boas, mas isto é demais.

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  2. Ai, vais ter aqui a corja anónima aos pulinhos.
    Uma pessoa fala de professores, elas içam as unhas pintadinhas.
    Uma pessoa fala de jornalistas, elas içam as unhas roídas.
    Uma pessoa fala de empregadas domésticas, elas içam as unhas de gel.

    Bom.
    Isso que relatas, é um susto pegado.
    Cada macaco no seu galho.
    O legislador pode redigir algumas leis com os pés, mas - eh, ó, gente! - foi eleito por vós!
    Jornalistas a legislar?
    Hahaha, façam-me rir. Ai, não, melhor: buááááá!
    (Só lá falta o tontinho do JAS. Esse é que, se o deixassem, até na altura das nossas saias se metia)

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    1. Mas tu vai lá ver as proposta que é para te rires um bocadinho à séria.
      Há uma frase muita boa hohe no Twitter do José de Pina e que diz assim: O Observador já está a recolher assinaturas para ser um partido político.
      E isto diz tudo!

      Já não tenho medo de anónimos. Vai tudo para SPAM que é uma beleza.
      Primeiro estranha-se... sabes como é.

      (Fui agoraao teu blog e percebi que estás doentinha. Estás melhor? Um abraço e saudades tuas.)

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    2. Já lá vou espreitar, mal me passem os tremores...

      (Estava melhor, mas, agora à tarde, deu-me cá um fanico! Obrigada, menina. Abraço retribuído e saudades recíprocas. Havemos de as matar, antes que elas nos matem a nós)

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  3. Gentinha intelectualóide de direita. Que ainda por cima não sabe nada de Direito Constitucional. Que os acórdãos que tanto criticam basearam-se não nos direitos sociais, mas em princípios de estado-de-direito, como a protecção da confiança ou a proporcionalidade e igualdade. E que ão podem ser «revistos», pois são as bases do nosso sostema jurídico-constitucional. Enfim. (btw - 13 juízes, não sete...)

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    1. São doidinhos.
      Se a Constituição pudesse ser revista com essa leviandade que eles querem que seja, já ninguém tinha subsídio de férias, nem de Natal, nem ADSE, nem Médico de família, nem país.
      Fascismo nunca mais!

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    2. Muito bem dito!! Tiro o chapéu á sua resposta!! Fascismo Nunca Mais!!!

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    3. É preciso estar atento a estas reviravoltas. Eles andem aí.

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  4. Querida Uva Passa,
    "O direito à asneira numa comunidade constitucional inclusiva" ou "o que é isso da consciência jurídica geral?".
    Bom fim de semana.
    Outro Ente.

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    1. Meu querido Ente, que não é ente querido, mas poderia ser: querematira-me areia para os olhos, mas acontece que eu uso óculos.
      Bom fim de semana.

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  5. Tenho de ir ver disso q estava para aqui em ignorância... Mas esse jornal, bem, é melhor ir ver essa alarvidade.

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    1. Alarves é uma palavra bonita. Há quem lhes chame fachos, mas alarves também fica bem.

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  6. Já tenho com que me entreter, mas entre o magnífico 1.o ponto, o "hiper" lá para o final e a "amiba" sentada no trono, não pude deixar de sorrir, novamente. Não ligue cara U. Aquilo é como a blogo, podemos todos disparar para o ar. Mas aquele "hiper" ressoa na memória como aquelas melodias que não nos largam durante dias. Parece coisa escrita por um adolescente viciado em videojogos e salgadinhos. Tenho de ir verificar se propõe um referendo desta vez ou se bastará o sr professor Marcelo aprovar (ele ou o doutor da felicidade lá mais atrás).

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  7. Infelizmente são estas cabeças que "gravitam" neste nosso pobre país, porque as outras, as boas, foram-se embora.
    Também já nada me surpreende.

    beijinho e bom fim de semana!

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  8. A silly season talvez tenha chegado mais cedo este ano.

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