19 de junho de 2015

Quero muito escrever sobre isto

" O Homem deseja um mundo em que o bem e o mal sejam nitidamente discerníveis, porque nele há o desejo, inato, indomável, de julgar antes de compreender. Sobre este desejo são fundadas as religiões e as ideologias." - Milan Kundera.


Vejo-me seguir em frente nos dias, a miúda a crescer, os desejos a mudar, a vida a acontecer de forma tão absolutamente diferente daquela em que me movia quando eu própria crescia, e depois, um olhar mais atento nas ruas, uma posição mais acérrima na ideologia, a minha descrença no ser maior de infinita compaixão, as roupagens mais ousadas, o cabelo mais loiro, e aparece a massa de que somos todos feitos, uns nuns temas e outros noutros, mas em todos, a indiferença crescente que se apoderou de todos nós perante a miséria dos outros.
Faço um mau juízo de valor, sobre o valor que dou à coisas.
Sou Homem. Visto-me de humanidade, sou igual a todos.
Ontem, incrédula, ouvi o relato de uma alma minha, que contava como tinha acordado no meio da rua, carteira para um lado, óculos de sol para outro, cabelo desgrenhado, uma poça de vómito onde banhava uma das faces, e passos acelerados em pés velozes, caminhando na rua, ao seu lado.
Desmaiada, na penumbra da calçada do meio dia, ali ficou sem amparo.
Quem passava?
Talvez alguém atrasado para a missa, ou envergando um profundo véu cobrindo os cabelos.

11 comentários:

  1. Na sexta-feira passada - nos Stos. - só não me peguei ao estalo com uma funcionária de um restaurante, porque não sou de me pegar aos estalos com ninguém. Uma miúda na casa dos vinte a torcer-se com uma dor de barriga daquelas que ou és mais rápida que a luz ou, então, já está. Uma fila de "300 kms" para a casa-de-banho...a dos homens também ocupada. A única casa-de-banho livre era a dos funcionários, e a miúda implorou...e a funcionária, não porque não, que fizesse nas calças. E fez, literalmente.
    É indescritível a indiferença para com o outro!

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    1. É tão profundo o desprezo que vamos sentindo uns pelos outros, que não sei como ainda enterramos os mortos.

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  2. Este tema mexe comigo. Fico sempre meia aparvalhada quando ajudo alguém (não interessa como, desde as coisas mais simples...) e a pessoa que é ajudada me olha como se eu fosse uma extra terrestre e às vezes até desconfiados..."Gente, eu só quero ajudar:)...não mordo..." penso eu para dentro...enquanto encontro o meu sorriso mais giro e o exibo por fora.
    Estou a passar este meu ADN às minhas meninas e verifico exatamete o mesmo acontece com elas. Ainda no outro dia um senhor veio ter comigo (eu estava na fila da caixa de um hiper) para me agradecer e dar os parabéns "Porquê?" "Porque a senhora tem duas filhas educadas de uma maneira que já não é normal encontrar no dia a dia."
    E sabes o que me deixa mais triste? É que não custa nada, nada, nada...se cada um de nós fizesse um bocadinho...

    jinhoooooossssssss

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    1. Há algumas pessoas que estranham a bondade dos outros, tal é o desabituanço. Ainda bem que as tuas meninas compreendem o que tentas ensinar-lhes, porque às vezes nós ensinamos e elas demoram a aprender.

      Abraço grande!

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  3. Isto é o que eu chamo "umbiguismo" em todo o seu esplendor.
    A sociedade está cada vez mais assim. Só querem saber de si mesmos. Não compreendem é que isso n será lá mto compativel com o conceito de sociedade. Mas acho q tb n lhes interessa, aos umbiguistas. E já são tantos.

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    1. As atividade centradas no auto-divertimento, as crianças fechadas em casa e nas escolas dias inteiros, os pais a trabalharem cada vez mais horas, 22 míseros dias de férias, a violência materialista, tudo isto vai acabar connosco.

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  4. Eu também me questiono que raio de desumanização é esta que desfoca o nosso olhar, transformando os outros numa massa alheia e amorfa? Porque nos deixamos alienar desta forma, esquecendo que, um dia, poderemos ser nós, desmaiados, na penumbra da calçada do meio dia, sem amparo.

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    1. Eu acho que é por aquele ditado que diz: primeiro estranha-se e depois entranha-se.
      Ou talvez as pessoas que passaram por esta amiga tenham, como disse Kundera, primeiro julgado e depois já não tiveram tempo de refletir. Acharam talvez que estava bêbada, para ali a vomitar-se toda.
      Para problemas bastam os delas, não têm tempo para os problemas dos outros.
      Olha que a rapariga estava morta, o problema que era perder tempo para resolver o problema de encontrar alguém morto no meio da rua? Ala que é Cardoso.

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  5. Uva, com este calor até me custa raciocinar, mas, face à atualidade do tema, tem que ser. A generosidade só por si, está em vias de extinção, mas vai resistindo. Apesar de tudo, todos os dias há gestos que nos surpreendem, e nos fazem mais otimistas, e, quando há pessoas que educam os seus filhos nesse sentido, podemos respirar melhor.
    Bom fim de semana.

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    1. Queres a minha ventoínha, miúda? Atão mas não estavas na praia e tal???
      Isto a vida vai de mal a pior e as pessoas já só querem saber é delas próprias.

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  6. Até corremos o risco de parecermos todos bonzinhos e tal e coisa. Mas é verdade, tens razão. É uma merda de um mundo cão.

    Beijos, Uvinha. :)

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