17 de setembro de 2015

Dúvidas que me assolam neste novo ano escolar

Estava aqui a recordar de como me senti tããããão entusiasmada quando soube que às escolas do 1º ciclo regressariam as saudosas (e úteis?) disciplinas de grego e latim.
A Associação de Professores de Grego e Latim está em pulgas; o desemprego nesta área do ensino é praticamente de 100%, segundo dizem as estatísticas do INE, e é natural que vejam finalmente uma luzinha a piscar intermitente e frouxa, lá no fundo... do poço.
Eu compreendo que na Alemanha a disciplina de Latim tenha imenso sucesso, sendo o terceiro idioma estrangeiro mais estudado nas escolas, mas em Portugal? onde nem o português granjeia adeptos, será viável entronchar os alunos com mais este pedragulho nas mochilas, já de si a abarrotar de merdas sem interesse nenhum, nomeadamente as merdas que estão integradas nos programas escolares obrigatórios?
Estou já a imaginar aqueles meninos com problemas de peso, ou pouco seduzidos pelo desporto em estreita relação com a inércia doméstica em frente ao computador, a fazerem birra para ir para latim ou grego, em vez de mexeram o rabo em corridas à volta do pavilhão da cantina.
É tudo opcional. É um país à trouxe-mouxe.
Esta medida, quanto a mim - que sou totalmente suspeita porquanto o meu interesse é sempre crescente no que toca às origens da língua - é mais um flop do inenarrável Crato, e eu, que não mando aqui nada, acharia por bem que o Ministro da Educação antes de lançar medidas peregrinas e esdrúxulas para o ar, como quem manda um balde de água barrenta pela janela, podia por exemplo ser um nadinha mais iluminado, e ao invés introduzir os clássicos, línguas que na minha opinião têm imenso interesse mas não para alunos com 5 ou 6 anos (talvez introduzir no 5º ano fosse mais inteligente), se dedicasse à séria a introduzir nas escolas o ensino da agricultura e da jardinagem - com professores (ou agricultores) à altura desse ensino - das ciência do mar e das suas imensas possibilidades, e quiçá, uma revolução na forma como vem tratando os alunos do ensino especial, o demérito que demonstra com os psicólogos e os assistentes sociais nas escolas, dando-se ao respeito e respeitando (além de tudo) o FUTURO das novas gerações.

Mas infelizmente temos aqui um intrincado quid pro quo.
Vemos-nos gregos para ensinar alguma coisa a esta gente que nos governa.
Para eles é tudo latim.


 

13 comentários:

  1. Sabes o que eu acho que devia ser obrigatório aprender na escola? "Artes do lar": cozinhar, coser botões, economia doméstica e outros assim

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  2. Olá, Uva!
    Os professores de Latim são necessariamente professores de Português. Ou seja, quem tem formação para leccionar Latim é porque é licenciado em Línguas e Literaturas Clássicas (antigamente, Filologia Clássica) e tem habilitações para o ensino do Português, Latim e Grego.
    Não há professores de Latim-só-Latim. :-)

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    1. Ai que grande calinada!!!
      Ai não? Julguei que o professor de latim e grego era apenas e só de latim e grego. Fui induzida em erro, então. A Associação de Professores de Grego e Latim é que me fez acreditar que não poderiam leccionar outra coisa senão essas duas disciplinas, caso contrário seriam a Associação de Professores de Grego, Latim, Português etc...
      Vou corrigir no texto. Obrigada.

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    2. "Os professores de português que pretendam lecionar a componente contarão com apoio formativo, de modo a conceberem e porem em prática o programa curricular que acharem mais conveniente"

      Li isto no OBSERVADOR e julguei que iam arrastar os pobres professores de português para mais uma catrefada de aulas de formação para darem resposta aos novos alunos de clássicas.
      Obrigada pelo reparo. Estamos sempre a aprender.

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    3. Em compensação, há professores de Português que nunca tiveram Latim. Caso de Português com um Língua Estrangeira com Inglês ou Francês, por exemplo.

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  3. Com o OA definitivamente instalado as raízes do português vão ficando cada vez mais distantes. Suponho que o ensino do latim e grego tente encurtar essa distância.

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    1. Sem dúvida Mirone, mas a crianças de 5 e 6 anos e até aos 9 anos, não me parece adequado o estudo dessas línguas quando nem ler e escrever o português em condições ainda sabem.
      Concordo com a introdução, mas acho-a inconveniente por demasiado cedo.

      (Nem quero imaginar os TPC dessas disciplinas... era de dar em maluca.)

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    2. "Definitivamente instalado" ainda o não disseram dois Doutores, só demagogos. Tão demagogos quanto o demonstra esta brilhante ideia que contraria a imposição de um acordo em absoluto obtuso e genocídico da nossa Língua.

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  4. Não vou discutir políticas, até porque me sinto ainda um pouco nova demais para isso, mas eu sempre sempre quis ter tido Latim. Na minha escola secundária, havia essa opção, mas apenas para quem estava no perfil de Humanidades. Eu teria trocado de bom grado a (inútil) Área de Projecto (que agora acho que já não existe) ou TIC (que era outra tão inútil) por Latim. Mas não podia, porque estava em Ciências...
    Adorei ter tido o Francês onde ele foi começado a dar, no 7º ano.
    Quanto à questão de começar no 5º ou 6º ano com Clássicas, também já não sei se não seria um pouquinho cedo demais...

    Concordo perfeitamente que há imensa tralha que nos é ensinada na escola básica. A começar, por exemplo, pela disciplina de Estudo Acompanhado (que não sei se ainda existe) pois os professores não ensinavam a estudar (ou eram raros os que o faziam na minha escola). Aproveitavam, isso sim, para dar mais 1 aula da matéria deles (normalmente era a prof de Matemática). Esta é só um exemplo.

    Mas pronto quem somos nós, não é?

    um beijinho*
    Dreams and Lemonade

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  5. Cara Uva Passa,

    Deixo aqui um esclarecimento para que se possa compreender melhor o que está aqui em causa. Os alunos do 1.º ciclo do ensino básico não vão propriamente "aprender latim e grego" como quem aprende uma segunda língua (como o inglês, por exemplo, que também foi há algum tempo introduzido como opção no 1.º ciclo).

    Se consultar a página da Direcção Geral da Educação perceberá melhor aquilo que se pretende com a Introdução à Cultura e Línguas Clássicas. A ideia é introduzir aos alunos algumas noções sobre a cultura greco-romana e a sua presença na nossa vida, em particular na língua que falamos. Trata-se de um projecto que abarca não apenas o 1.º ciclo, como também o 2.º e o 3.º (e neste os alunos já não têm 5 ou 6 anos); mesmo no 3.º ciclo, o que se pode depreender das informações dadas pela DGE é que a aprendizagem das línguas clássicas não irá além de examinar a presença destas na etimologia dos nossos vocábulos, mencionar algumas expressões latinas de uso corrente e fazer uma introdução (muito) ligeira à estrutura sintáctica do latim e do grego. O estudo mais sério das línguas clássicas seria feito, como até agora foi, no ensino secundário, onde esta opção estiver disponível.

    Mais algumas observações sobre o seu texto:

    "(...) já de si a abarrotar de merdas sem interesse nenhum, nomeadamente as merdas que estão integradas nos programas escolares obrigatórios?"

    Pergunto-me a que "merdas" se refere.

    "Estou já a imaginar aqueles meninos com problemas de peso, ou pouco seduzidos pelo desporto em estreita relação com a inércia doméstica em frente ao computador, a fazerem birra para ir para latim ou grego, em vez de mexeram o rabo em corridas à volta do pavilhão da cantina."

    Serão estas opções incompatíveis? Não deverá o interesse destes meninos pelo latim ou grego ser estimulado, já que tal é possível, ao mesmo tempo que se dá atenção à actividade física, também importante?

    Cumprimentos,

    Filipe G.




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  6. Eu adoraria ter aprendido latim.

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