1 de abril de 2016

(Editado) Português de Lisboa: ao que isto chegou…

Este post foi editado por motivo de denuncia de plágio à fonte anteriormente citada (NCultura) que supostamente plagiou o texto do Vitor Santos Lindegaard.
Peço desculpa ao visado, mas foi no NCultura que encontrei o texto, julgando estar a citá-los a eles e não a outros.

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Está tudo aqui no blog do Vítor Santos Lindegaard mas eu não resisti e copiei tudo.
E está mesmo fixe porque achava que como lisboeta que sou, não tinha sotaque, e vai-se a ver uso praticamente e da mesma forma todas as palavras que aqui ilustram o texto.
Achei super.
Ora vejam.


Muitas pessoas de Lisboa pensam que não têm sotaque. Toda a gente do Porto sabe que fala à Porto, mas muitas pessoas de Lisboa pensam que não têm um sotaque específico, que falam “um português neutro”… Ora o sotaque de Lisboa é um sotaque como outro qualquer. Como o de Beja ou de Portimão ou da Malveira da Serra. Sotaques neutros, só se forem as maneiras de falar artificiais, criadas precisamente para não serem de sítio nenhum nem de nenhuma classe, como a received pronunciation dos locutores da BBC; ou então o sotaque dos filhos de emigrantes, que não têm sotaque estrangeiro mas também não têm sotaque de nenhuma região. Tirando isso, o mais próximo de neutro é muito misturado. Mas o dialectologista perfeito, a existir, deveria ainda assim ser capaz de fazer avarias como as do Henry Higgins de Bernard Shaw, mal ouvisse alguém enunciar uma frase simples: “Ah, ah, já estou a ver, meu amigo: você nasceu na Moita, de uma mãe alentejana e pai estremenho, mudou-se no fim da infância para Pero Pinheiro, mas fez os estudos em Sintra, e, quando acabou o liceu, foi morar para Vila Real de Santo António*…”

Há muitas pessoas (sobretudo de fora de Lisboa, naturalmente) que pensam que, sobretudo com a força uniformizadora da televisão, o português de Lisboa está a ser imposto ao resto do país e a dar cabo dos falares regionais. É verdade até certo ponto. É verdade que a variante do português que se está a espalhar é o falar das classes “cultas” da capital e não há nisso nada de extraordinário: normalmente o falar “culto” da cidade ou da zona mais importante é o que se impõe. É assim a vida…

Lisboa era uma ilha linguística, no meio dos falares meridionais, que, curiosamente, começam não a sul do Tejo, como seria talvez de prever, mas um bocadinho a norte, não sei porquê (ou começavam, seja, isto agora está tudo muito esbatido…). A única característica do sotaque lisboeta que tenho a certeza que se está a propagar bem é o chamado r gutural. Mas é de notar que não é um fenómeno oriundo só de Lisboa, mas também do Porto e das ilhas. Não sei até que ponto é que outra característica do sotaque lisboeta que é pronunciarem-se da mesma maneira os sons correspondentes às grafias -ãe e -em estará também a espalhar-se. E também não posso dizer se o pronunciar-se -io como -iu (rio como riu, por exemplo), que era o traço mais caricato do falar da capital para ouvidos não lisboetas (o que eu fui gozado por causa disso!...) também não se estará a difundir… De resto, as demais características daquilo a que eu chamo, sem grande rigor técnico, mas com o coração inflado de bairrismo (ai, credo, ‘tadinho…) “o verdadeiro sotaque da Lísbia” não têm tido, de certeza, a mesma fortuna. E estão, acho eu, tão ameaçadas como as dos outros falares regionais...
Uma característica daquilo a que eu chamo o “verdadeiro sotaque da Lísbia” é a abertura de certos oo: não se diz tourada, mas sim tòrada; nem se diz ourives, mas sim òrives; não se diz chouriço, mas sim chòriço; não se diz ouvir, mas sim òvir; etc. E não são só os -ou- que se pronunciam ó – também au- e até al-, às vezes: “Vais ó Ògueirão? Òguenta aí, qu’eu vou contigo!”
Há também muitos ii que não se pronunciam. Se alguém me disser que é “de Lisboa”, eu acho esquisito, porque em Lisboa diz-se L’sboa, não se diz Lisboa… E nem é esquisito que eu acho, é ‘squ’sito.
Aliás, às vezes nem é ‘squ’sito que se diz, é chq’sito, depende. Ora aí têm mais uma característica do sotaque de Lisboa: pronunciar os ss em fim de sílaba como ss explosivos de início de sílaba. Por outras palavras, pronunciar da mesma maneira chefia e esfia.
Outra coisa típica é o desaparecimento de muitos rr. Por exemplo, os que vêm em final de palavra costumam desaparecer: “Tavas a falá’ c’a Dona Luísa?” “Não, ‘tava a falá’ c’uma mulhé’ que tu não conheces…” Mas não só, também noutros contextos: “Não comp’s isso aqui! Quat’centos paus? Atão s’eu ‘inda ontem vi isso mais barato nout’ lado. Os gajos aqui são semp’ careiros, pá!”
Mas, por outro lado, também pode, às vezes, ouvir-se o r seguido de uma vogal que não aparece na escrita e que pode variar um bocado: “Estás a perceber?” pode ser “‘Tás a ‘cê’ere?” ou, mais rufia ainda, “‘Tàs a cê’erim?”. Neste aspecto, o sotaque de Lisboa é mesmo um sotaque do Sul, não haja dúvida.
Como nos outros sotaques do Sul, também se transforma, em Lisboa, o ditongo -ei- numa vogal só. Só que, em vez de se o reduzir a ê, como nos sotaques saloio, alentejano ou algarvio, transforma-se-o antes em â: peixe diz-se pâxe, madeira diz madâra e assim sucessivamente…
Há também palavras isoladas que têm uma pronúncia especial. Não existe o advérbio muito mas só uma variação bizarra desse advérbio, muita (muitas vezes pronunciado m’ta): muita grande, muita pequeno, muita giro, etc. E o mesmo se passa com o quantificador de nome: muita peso, muita dinheiro, sempre muita... Também não existe também, mas sempre e só tamém (quase como em asturiano, não é?). E não se diz mesmo, mas antes memo. O adjectivo grande, quando vem anteposto a um nome, pronuncia-se sempre ganda: ganda pinta, ganda problema, etc.

Bom, e deve haver muitas mais que agora não me vêm à cabeça. Mas ‘tá-s’a perdê’ ist’tudo… ‘Gora, a malta fala como escreve, é uma tr’steza. Quat’centchinquenta agora pronuncia-se quatrocentos e cinquenta, vâjam lá vocês ó qu’ist’chegou… E depois, as palavras q’agora s’usam, um gaj’inté fica azul… Uma drofa agora chama-se porta e umas galdinas agora são calças… Até já há quem chame esófago ao canal da sopa

11 comentários:

  1. Sou de Lisboa e o meu marido da Beira Alta. Segundo ele, digo tio e rio da maneira típica dos lisboetas que eu não sei explicar qual é mas parece que com o "u" mais pronunciado. E em relação à piscina também é como dizes e joelho e coelho não dizemos o som "e" fica algo entre o "e" e o "a" . Enfim, todas as zonas têm o seu sotaque

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    1. Todinhas, Fartei-me de rir com isto e a pensar: olha! eu falo assim e não tinha dado conta.

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  2. Uva, provavelmente será melhor atribuir os créditos pelo artigo a quem de direito, digo eu: http://jonasnuts.com/os-chico-espertos-do-plagio-515811

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    1. "Está tudo aqui, no NCultura, mas eu não resisti e copiei tudo.
      E está mesmo fixe porque achava que como lisboeta que sou, não tinha sotaque, e vai-se a ver uso praticamente e da mesma forma todas as palavras que aqui ilustram o texto.
      Achei super.
      Ora vejam."

      Pois é, está tudo ali, no início!!

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    2. Mrs. G muito obrigada pelo reparo, e já corrigi na medida do possível.
      O NCultura apareceu ali de repente com uma 'fonte parcial' que não estava lá inicialmente (já tinha este post agendado há algum tempo) e eu zás, copiei do deles achando que o texto era deles.
      Espero ter reposto a verdade.

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    3. Be, estava mesmo, e eu assinalei que copiava tudo. Mas afinal o NCultura retirou de outro sítio.
      Cenas sinistras.

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    4. Confesso que não linkei, apenas li o teu post e como tinhas referido que era uma cópia, o resto passou ao lado.

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  3. De nada, Uva. era exatamente isso que esperava que fizesse. Não me desiludiu. Quanto ao «ruído», será melhor ignorá-lo. Afinal, os católicos ainda há pouco festejaram o perdão, certo? :)

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  4. Tretas pseudo-intelectuais cheias de presunções.

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  5. Fui embora mas depois fiquei a pensar que não fundamentei a minha leitura.
    Acho que é pseudo-intelectualismo logo pela premissa: «Muitas pessoas de Lisboa pensam que não têm sotaque». E pela presunção de se partir desse pressuposto e de que existe uma zona «sem sotaque».

    Todos falamos conforme a norma da zona onde somos criados e não há nada de extraordinário nisso. Eu até vou mais longe (quem sabe daqui a umas décadas estes «estudiosos» vão «plagiar» isto) e digo que existem micro-regionalismos. Uma pessoa de Lisboa, do Porto ou da regiao das couves-a-cima pode obter outra forma peculiar de pronunciar as palavras conforme a educação dos progenitores/amigos e professores.

    Acho importante é divulgar o conceito que me foi passado algures durante o crescimento, que é somos todos portugueses e cada qual fala à sua maneira. A minha, sendo de Lisboa, por vezes dizem não parecer ser. Vai-se lá saber porquê. A justificação que dão é que «não pareço» por ser bem educada(?), não dizer palavrões/gírias ou não agir como citadina. E isto é o quê, se não pre-conceito?

    Boa semana! :)

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