21 de outubro de 2016

Cada vez mais baralhada das ideias, com as ideias baralhadas dos outros

Há certas coisas que me põe nervosa, sobretudo se for antes do almoço.
Uma delas é esgrimir argumentos com alguém que, sendo um profissional ligado à contabilidade, se arroga na defesa do indefensável, sobretudo no que diz respeito a impostos.
Não sou nenhuma iluminada das ciências matemáticas, mas não balizo (e não pondero) um pedido de fatura, na hipótese do vendedor estar ou não estar no início de sua atividade, praticar ou não praticar preços muito baixos.
Se está no início da atividade e se pratica preços baixos, é da sua inteira responsabilidade. Ora eu, que nada tenho a ver com isso, com as decisões dos outros sobre a forma de gerirem a sua atividade, não posso permitir que penda sobre mim o ónus do sucesso ou insucesso do marmiteiro por pedir ou não fatura sobre a minha marmita, seja qual for o preço praticado, seja, em última análise, qual for o motivo.
Para mim a coisa é simples: há regras a cumprir pelas empresas. Eu também cumpro regras, eu também pago impostos (que não me apetece nada pagar), eu pertenço a este sistema, este sistema funciona assim. Não sou a maluquinha das faturas, um palito uma fatura, mas faturas de almoços, meus amigos, temos pena. Peço sempre, indiferentemente do preço.

A discussão: Que tive 'a distinta lata' de pedir uma fatura por um almoço de 3,50€.

Para vos enquadrar:
Temos um novo fornecedor de marmitas, que além de permitir a encomenda do almoço no próprio dia (coisa que dá imenso jeito), vem entregar à porta, traz a comida naquelas embalagens de plástico dos take-away, que vem mais ou menos bem servida, e cobra por isto 3,50€.
Já várias vezes nos indagámos como é que o marmiteiro consegue fazer a marmita tão barata, se pensarmos que inclui entrega, embalagem e que até nem vem mal servida.
Na minha curiosidade doentia, o que fiz foi sondar o novo fornecedor e pedi-lhe, à queima roupa, uma vulgar fatura.
Não tinha. Que podia passar um recibo verde depois de vários pedidos, espaçados dois ou três meses entre cada um, mas que seria uma grande maçada, sabe lá, fatura a fatura, imensa papelada, não dá jeito nenhum.
Ahh, bom! Estou esclarecida. Não passa fatura - não paga os impostos.
Contei isto às restantes clientes, e, qual não foi o meu espanto! fui logo atacada pela turba em fúria.
Que o senhor estava a tentar sobreviver, que fechara um negócio falido e estava a tentar levantar a cabeça, que pedir fatura por um almoço de 3,50€, era além de muito feio, maldoso.

Estarei a ouvir bem?
Deverei então sucumbir à caridade, ser boazinha e bonita para com aqueles (todos) que dão inicio a uma nova atividade, e aplacar uma atividade económica que cobra exatamente aquilo que quer cobrar por uma refeição ao domicílio, sem pedir a fatura que me é devida, por direito, sob pena de destruir a vida de um pobre comerciante que decidiu fazer a sua atividade sem pagar os respetivos impostos?

E esta gente não entende que, para mim, alguém que pondera abrir uma atividade sem pagar os impostos é um empresário do chico-espertismo, que acha que está acima de todos os outros que cumprem a lei?
Entendam: ninguém está acima da lei, além dos que controlam a lei.

9 comentários:

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    1. Essa agora! Iam-me matando por ser a maior mázona aqui da Avenida. 3.50€ é uma pechincha, que ideia é essa de pedir fatura?

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  2. Vou responder na qualidade de homem que também faz compras e que, tal como os outros, paga os seus impostos. Não na qualidade de profissional de Contabilidade que também sou.
    Aqui há dois ou três anos, já nem me recordo bem, o Governo concedeu um bónus em sede de IVA a todas as pessoas que passassem a pedir facturas de oficinas, cabeleireiros e restauração. Porquê? Porque era senso comum que nessas três actividades havia marosca. Então o Governo optou pela medida profiláctica. Sabemos que há marosca, mas vamos dar de borla o que aconteceu até agora. Tá feito, tá feito e não vamos falar mais nisso. Mas daqui para diante, se querem batatinhas trabalhem e paguem os vossos impostos.
    Na cantina aqui da empresa, há pessoas que até para o cafézinho da manhã (35 cêntimos) pedem a facturinha e se não derem é simples... Livro de reclamações. É um direito que assiste o consumidor e um dever para o comerciante.
    No caso desse negócio que mencionas, não pode ser superior aos outros. Até concedo que em vez de uma factura diária, passe uma factura semanal com o valor do gasto da semana. Até mesmo mensal. Três euros e meio vezes vinte refeições, facturinha de setenta euros. Poupa-se no papel e faz-se a coisa pela via do legal. Recusa? Livro de reclamações. Não tem? Já são dois crimes. Acho que está na hora de falarmos com as entidades legais.
    Ah e tal estás a ser maldosa e coiso? Bardacenas. Para o ano, quando chegar a altura de fazer o IRS, levas uma talhada porque "não gastaste" esse dinheiro e não tens o benefício em sede de IVA porque não pediste a facturinha. Duplo prejuízo. Como isto não anda bem para ninguém (mesmo para os comerciantes), cada um tem que se amanhar como pode, senão voltamos à selva!

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    1. Silent Man, preciso de um profissional de contabilidade como tu! Bora! Tás contratado.

      Além do que está cobertíssimo de razão!

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    2. Já tenho trabalho a tenpo inteiro, Uvinha. E que me dá água pela barba. Mais a família e os amigos a pedirem o IRS, não conseguiria fazer um trabalho em condições...

      Quanto ao estar cobertíssimo de razão... Só se me tratares por tu. Combinado?

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    3. Trato-te por tu desde os idos de 1950.
      A última frase era para dar aquele ar de snob, e tratar-te por vocência!
      Hahahaha

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  3. Pois, por causa de ter pedido um recibo ao sapateiro, tive direito a um elogio para uma profissão que posso ponderar na próxima vida. Mas bati o pé e exigi a fatura. O mais engraçado é que a clientela daquele sapateiro é pessoal da Polícia Judiciária e da PSP. Faz parte do ADN do Tuga gabar-se de enganar o Estado o mais possível, esquecendo, que ele é Estado desde o dia em que nasce. Eu desconto sobre todas as alcavalas que recebo e sobre algumas que nunca vi. Exijo o mesmo dos outros. Maria Lopes

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    1. Não querendo ser má língua, mas o pessoas da Polícia Judiciária e da PSP, anda um nadinha fora da lei.
      Exatamente! Fatura e não bufa!

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  4. Schiuu! Escreva baixinho!
    Porquê tanto alarido?
    É que anda para aí uma corja
    que anda defendendo que de pequenino
    é que se torce o pepino
    e que essas coisas de empreendedorismo
    se deve ensinar desde menino
    Verdade!
    Querem que na escola se ensine
    que se deve facturar um sorriso
    com o IVA associado

    Factura e não bufa
    se o IVA for errado, chumba

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