14 de outubro de 2016

Das virgens ofendidas


Este é o chamado post-bomba!
É aquele post que pode muito bem acabar com a carreira de uma blogger se calha a ser lido por olhos errados, especialmente aqueles olhos que usam as palas, e só vêm ataques por todo o lado, isto é, criminosos e violadores everywhere, mesmo os que costumam parar em cima dos andaimes.
Para mim é aquele post em que há uma linha que separa o bom senso do nonsense.
É capaz de ferir muitas susceptibilidades, mas aqui vai ele.

Julguei que as mulheres de hoje, as muito modernas, as todas práfentex, as que querem impor-se na vida como homens, fortes e sem medos, estavam muito melhor preparadas do que as gerações mais antigas para i) identificar os verdadeiros perigos e agir em conformidade, ii) separar o trigo do joio no que diz respeito aos cães que ladram mas não mordem, iii) ter algum bom senso no que diz respeito a certo tipo de bocas da reação, sobretudo quando o emissor é apenas um transístor velho, que repete frases feitas ou provérbios, que já ouvia dizer ao seu avô, que além de não terem cabimento nenhum em situação nenhuma, não têm cabimento nenhum nesta situação em particular.
Enganei-me redondamente.
Parece que a situação atingiu níveis de toxicidade tais, que já há quem queira aplicar à triste figura do Senhor Jorge Máximo, - o taxista que esta segunda-feira causou revolta ao dizer que “as leis são como as meninas virgens: são para ser violadas” -, o artigo 297º de instigação pública a um crime.
Um homenzinho que não usa o cérebro, também para pensar nas grandes questões da vida, vai para mais de 70 anos, vai ser acusado por uma seita de mulheres virgens (em piropos) do crime de incitação à violação sexual de meninas virgens.

Bom, sinceramente não sei por onde lhe pegue, mas acho que os meus dois neurónios ainda me permitem ouvir e seguir em frente, sem alardear aquilo que na verdade não tem alarde algum.
Foi evidentemente uma frase ofensiva, boçal, condenável e descabida, mas daí até considerar que encerra um comportamento criminoso contra as mulheres, tenho muita pena, pessoas, mas não me revejo.
Não me revejo porque não me parece que o taxista tenha usado a frase na sua forma literal, que a tenha sequer usado bem, ou que tenha com ela incitado à prática de um crime, mas que tenha, isso sim, sugerido a estúpida metáfora para a aplicar a outra situação, essa sim, de monta: incitar à violação das leis, a quem chamou de virgens.

É lamentável que este tipo de discurso possa ainda ter lugar na nossa sociedade, e é por demais evidente que o senhor que o proferiu deve dar inicio, o quanto antes, ao uso do seu cérebro, parado há 70 anos, para rever a conduta e os princípios pelos quais deverá reger-se, mas daí a até lhe imputarem a pena de crime até 3 anos de prisão como se o homem fosse o bode expiatório conhecido e visível, o alvo a abater, de todas as mulheres virgens violadas, parece-me um cumulo absurdo que em nada abona quem luta de verdade, contra os crimes de verdade, que todos os dias se cometem contra mulheres.

No fundo parece-me toda esta esquizofrenia em torno de uma frase boçal, um bocado... boçal.

Por outro lado, a ignorância (e a exaltação) do taxista é por demais evidente se atentarmos no contexto em que a declaração foi feita, porque se a UBER está a violar as regras, e é isso que impele os taxistas para a luta, então o que o taxista queria dizer era que as regras são como as meninas virgens, NÃO devem ser violadas.

5 comentários:

  1. Concordo, a boçalidade das palavras proferidas pelo taxista ninguém a tira, agora achar que o homem representa um perigo concreto para as virgens e que com aquelas palavras esteja a incitar à prática de crimes contra elas, ó meus amigos, menos, muito menos. Foi uma grosseria pura e dura, sem cabimento em contexto algum, mas grosseria e crime não se confundem.




    (E aqui, por causa de um taxista, se abre a hipótese de, noutro contexto, se discutir a questão da grosseria vs crime a propósito do acórdão da Relação de Coimbra que considerou que a expressão "comia-te toda" é uma simples grosseria, falta de educação, e não configura crime).

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    1. Nem mais Mirone. Parece estranho mas é a realidade, há uma certa vitimização, um certo exagero exaltado, muito em voga nas redes sociais, que agora se vê em grupos de mulheres que se dizem feministas, mas que na verdade só estão a ridicularizar a condição de mulher. Não sei, mas isto é demais.

      Julguei que essa do 'comia-te toda' estava no piropo 170º "importunação sexual" e que sim, era crime punível com pena até 3 anos.

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    2. Foi antes essa alteração.
      http://www.dn.pt/sociedade/interior/comia-te-toda-nao-e-crime-e-falta-de-educacao-5417004.html

      Entre os desembargadores estava uma mulher, o que também incomodou muita gente.

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  2. Mas que o sujeito possa apanhar um "susto" e siga de exemplo que outros não repitam frases iguais era bom, sou homem e não gostei, talvez por não me rever, talvez por aquilo ser primitivo, talvez por ter uma filha não sei, daí a ser preso 3 anos é um bocado, deixou-se levar pelo entusiasmo que lhe é conhecido e com o micro da CMTV uns pegam nele e mandam para lagos, este manteve o nível da estação e falou um "bom português" para que entendessem.

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  3. de vez em quando sabe bem a pessoa não se sentir sozinha no mundo...

    bj, Carla

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