16 de novembro de 2017

LAMBE-LAMBE

Uma das minhas máximas preferidas nisto do trabalho e das relações laborais é: don´t kill yourself for recognition.
Vem muito a propósito do assunto da greve dos professores, que é capaz de ser o tema mais quente em debate por estes dias, e por todos os dias, e sempre, porque há um ódiozinho de estimação contra os professores, por um lado porque fomos todos alunos de professores (muito bons, bons, maus, horríveis e indiferentes, que nos deixaram memórias e cicatrizes) e por outro, porque uma greve de professores causa mais choque do que enfermeiros que se negam a ajudar as parturientes a dar à luz.
É que vejamos: a criança nasce na mesma. Nasceram triliões de portugueses sem ajuda de ninguém, logo é mais complicado gerir a falta dos professores numa família que se encontra diariamente enterrada nos afazeres profissionais, que dá o cuzinho e dois tostões para não faltar um dia ao emprego por mote de ser imediatamente depreciada perante outros colegas, do que a falta de uma mão amiga na hora do parto. 
E estava eu a comentar aqui para os meus botões, também eles enterrados nas casas duma trincada camisa, que há quem defenda que os professores, esses lambões das férias, não deviam fazer grave porque coitadinhas das criancinhas!
Não. Não é coitadinhas das criancinhas, é coitadinhos dos paizinhos das criancinhas, ou antes, coitadinhos dos patrõezinhos dos pais das criancinhas.
Fora a questão muito particular que é a dos patrõezinhos absolutamente tétricos, que não têm complacência de nos vergastar severamente com o desconto salarial - também ele tenebroso - só porque uma classe que nos é completamente alheia a nível profissional resolve fazer greve - o que está efetivamente em causa é que nenhuma classe profissional ainda entendeu a luta dos professores, porque pura e simplesmente não sabe como é a vida dos professores. 
E não sabe como é a vida dos professores como também não alcançou que um professor decrépito, sem interesse e sem motivação, produz muito maus alunos, e logo, muito maus cidadãos. Um professor deve estar altamente motivado para ensinar os nossos filhos a pensar. Ensinar a ler e a perceber o que se lê é a base de toda a evolução. O saber pensar metodicamente, o ensinar a motivação do saber é o que em última instância nos salva a todos.
Porque os professores (os bons professores) também nos ensinam os DIREITOS, LIBERDADES E GARANTIAS. 
Não foi em casa que aprendi o que era a Constituição, o que vinha lá escrito, que significado tinha. 
Os meus pais estavam mais preocupados em trazer o sustento e o amor, o ordenado e uma palavra amiga, do que os artigos que compõem os direitos fundamentais. Foi na escola que fiquei a saber o que era a greve, o Sindicato e os maus tratos nas fábricas (onde de resto a minha mãe trabalhou 21 anos sem um queixume) e nos demais postos de trabalho onde hoje ainda somos carne bovina na mãos de verdadeiros chefs talhantes.
Fico muito contente quando vejo a comunidade contribuir do nada, ou antes, das suas parcas economias, com 13 milhões de euros num número de telefone 760 360 260 para ajudar 500 pessoas. Mas fico imensamente mais contente quando alguém contribui com um dia do seu ordenado para uma causa que é afinal de todos.

O direito à greve não deve nunca ser contestado, sob pena da regressão às más condições de trabalho que tanto nos custaram a conquistar.
Muito menos para andar a lamber botas de patrões que não nos merecem nada, que não nos reconhecem nada, muitas das vezes nem o direito ao emprego.
    
  

8 comentários:

  1. Ontem uma professora, que não fez greve, dizia: "Se fizer greve são 70 euros de ordenado que perco. Estragar por estragar, antes quero ir jantar fora ou comprar uma camisola ou uns sapatos. E não sou só eu a pensar assim".
    Isto para dizer que no "deve e a haver" da balança dos direitos laborais e impacto económico, e tendo em conta que 70€/dia ficam uns furos acima do que ganha uma franja grande dos portugueses, há uma parte substancial da classe dos professores está mais preocupada com o que pode fazer com os 70 euros, do que com direitos laborais.

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    1. Marta, não sou professora nem ganho 70,00€ por dia. Mas prefiro dar à colação o meu dia de trabalho por uma escola melhor, com professores motivados, do que por um par de sapatos ou uma jantar no Ramiro.
      E posso dizer, com toda a propriedade, que me fiz na escola, como maus e bons professores, mas sobretudo com bons.
      Nunca poderia prescindir do direito à greve.
      Sou a favor da greve e sou a favor dos professores.

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  2. Eu, que sou avozinho,
    agradeço à stôra do meu netinho
    ter aderido
    Assim, tive um tempo extra
    a vê-lo brincar com a avozinha
    que é por isso q´ela se pela
    e a minha brincadeira é mais parva

    Sou a favor da greve, a favor dos professores
    e gosto dos meus netos, à brava!

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    1. Que bom que as professoras fazem estes 'favores' aos avós.
      Faz parte da vida as coisas da vida!

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  3. EU sou completamente a favor da greve e da exigência de todos os direitos laborais e melhores condições de trabalho em todas as profissões e, acima de tudo, na classe de professores que tanto aturam (de crianças e pais infelizmente)!
    Concordo plenamente que estes deveriam estar super motivados para fazer o seu trabalho da melhor forma possível, que só assim serão bons profissionais que conseguirão fazer dos nossos miúdos cidadãos como deve ser (não excluindo a responsabilidade da família como é óbvio).
    Hoje em dia quando acontece o meu pequeno não ter aulas, como ontem, tenho que me desenvencilhar... não tenho avós para ficar com ele, não o tenho num ATL que o dinheiro ao fim do mês não chega para tudo (e mesmo que tivesse este ano o ATL da escola dele só assegura o seu horário, ou seja entre as 9h e as 17h não há ninguém que assegure a permanência dos meninos na escola)... conclusão, ontem veio trabalhar comigo de manhã, à tarde fui trabalhar para casa (não gostando a entidade patronal desta situação é o que temos, temos pena!)
    A mim o que me irrita nesta história das greves é que as mesmas deveriam servir para exigir as tais condições, quem reclama deveria ir manifestar-se fosse no local de trabalho fosse numa manifestação de rua... e o que vejo é que a grande maioria fica em casa a descansar (ou aproveita para ir às compras de Natal que estamos na altura de tal!).
    Direito à greve? Sim sem dúvida!!
    Direito a "lixarem-me" dias de ordenado para irem passear? Menos sff...

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    1. Ana, a greve é não comparecer ao local de trabalho. O trabalhador não é obrigado a fazer nesse dia algo em prol dessa luta uma vez que já prescindiu do seu salário diário em prol dessa luta. A manifestação pode e deve ser feita, mas não me choca que um grevista aproveite o seu dia de greve para fazer as compras de Natal ou ficar calmamente em casa a ler um livro.
      Não tem nada a ver mas eu, que não tenho a ML no ensino privado e ontem a miúda não teve uma única aula, ficou à mesma na escola, com os demais colegas, porque a escola está preparada para salvaguardar os alunos no tempo que é da sua responsabilidade salvaguardar os alunos.
      Devemos (também) lutar por uma escola melhor, e uma escola melhor é esta onde eu não tive de faltar para tomar conta da miúda.
      Quando há greve de auxiliares, ficam lá os professores a tomar conta.

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  4. Obrigada!
    (fiz 8 horas de autocarro para 2 horas de concentração)

    Beijo, Uvinha :)

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