1 de fevereiro de 2018

DA MUDANÇA

Até que ponto poderá o curso da história mudar a natureza da condição humana?

Ouvi esta pergunta vezes sem conta a teóricos e futuristas, a filósofos e escritores, a cientistas e historiadores e, em todos eles, radicou a certeza, quase absoluta, de que não, que não é all about changes, que esta coisa de sermos humanos, a condição humana ou o que nos torna humanos, é afinal passarmos pela história, repetida vezes sem fim [Nietzsche], e no entanto, permanecermos iguais.
As mudanças que se operam no 'curso da história', que não é senão a mudança em si, poderão ou não mudar, alterar ou tornar diferente a condição humana, isto é, aquilo que nos faz humanos?
As pessoas operam mudanças mas as pessoas não mudam.
Esta é a convicção da grande maioria.
Esta era a minha convicção.

Encontrei, algures no meu caminho, pessoas de grande coragem. Pessoas de coragem porque seguindo um curso de história pessoal de grandes e duras batalhas, ficaram fiéis à natureza humana.
Nunca mudaram.
Não posso dizer que foi com prazer que acompanhei esta gente, tornada amarga. A natureza humana é forjada também na convicção de que as pessoas não mudam e, quando alguém entende ser leal à sua natureza, sem que intente operar mudanças no caminho, então essa pessoa não está a ser humana, porque em todo e qualquer caso, em toda e qualquer espécie, em toda e qualquer época, foi a mudança, a nossa mudança enquanto humanos, que nos fez chegar onde efectivamente chegámos.

Acontece que é muito difícil acompanhar estáticos [também nas convicções]. Os estáticos, que entendem que as mesmas técnicas levam sempre aos mesmos resultados, convencidos que o sucesso que obtiveram de uma certa maneira será replicado ad eternum, podem fazer perigar, e vou mais longe, podem mesmo conseguir parar toda uma instituição, acaso ocupem uma posição de superior hierarquia. Fiéis a uma natureza reprodutiva de símio, vão caminhando sempre na mesma linha, usando sempre os mesmos mecanismos, chegando sempre aos mesmo lugares, aos lugares ocupados pelos 'não-humanos', os imutáveis, quando todos sabemos que o que devemos ser é pós-humanos, humanos extraordinários, humanos superlativos, humanos diferentes, mudados.

Não posso dizer que é com prazer que acompanho esta gente, tornada amarga, avessa à mudança.
Os grandes homens, os grandes senhores, os incontestados, os constantes, tantas vezes incapazes de caminhar nos seus pés de barro, por caminhos trôpegos de mudanças.

Eu percebo que a maioria dos pensadores corrobore da ideia de que a humanidade nasceu com as características que hoje detém, e que essas características foram sempre iguais. Necessidades humanas (conforto, amor, paz, alegria...) não mudam, dizem eles, e que não é pela mudança que somos mais ou menos humanos. Eu digo que as necessidades mudam a cada instante, decretam-se, ainda que as necessidades principais possam manter-se inalterados. Mas lá porque as bases se mantêm não quer dizer que tudo o resto não mude.
As pessoas devem [não só] mudar naturalmente, como devem fazer um esforço de mudança, sob pena de se verem sozinhas na sua estaticidade.

O futuro só será suportável se desenvolvermos cada vez mais as características humanas [Sobrinho Simões], e ao contrário do que é a opinião geral, acho que as mudanças [nas pessoas, nas relações entre pessoas, nos países e nas relações entre países] são absolutamente visíveis e demonstram que há um aumento da expetativa de melhoramento das necessidades básicas (conforto, amor, paz, alegria), e que por isso nos vamos tornando cada vez mais humanos e cada vez mais humanitários.

Eu quero mudança.
Eu sou cada vez mais humana.
Eu gosto muito de estátuas mas é nos museus.

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Obrigatório ver: http://www.rtp.pt/play/p4286/e328635/2077-10-segundos-para-o-futuro

4 comentários:

  1. Luis de Camões


    Ta muda tenpu, ta muda vontadi,
    Ta muda ser, ta muda konfiansa;
    Tudu mundu é fetu di mudansa,
    Ta toma senpri nobus kolidadi.

    Sen nunka pára nu ta odja nobidadi,
    Diferenti na tudu di speransa;
    Máguas di mal ta fika na lenbransa,
    Y di ben, si izisti algun, ta fika sodadi.

    Tenpu ta kubri txon di berdi manta,
    Ki di nebi friu dja steve kubertu,
    Y, na mi, ta bira txoru u-ki n kantaba

    Ku dosura. Y, trandu es muda sen konta,
    Otu mudansa ta kontise ku más spantu,
    Ki dja ka ta mudadu sima kustumaba.

    (Tradução para crioulo cabo-verdiano de José Luís Tavares)

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  2. O Patife muda qualquer coisa todos os dias. Ah, é de mulher. ;)

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