21 de setembro de 2014

Abrindo gavetas

Há dias assim.
Há dias em que a nossa cabeça, esse grande armário cheio de tralha, resolve rebentar com as trancas.
Tudo se desarruma subitamente, como se uma grande ventania, dessas que entram pela janela e fazem dançar o cortinado, viesse furiosa no dorso de um cavalo, abrir, de chave em punho, o que havíamos trancado com tanto zelo.
E é este vento que me desarruma, é este vento que me ensina que para fechar uma gaveta, a janela não pode, nunca, ficar aberta.
Houve dias assim.
Houve um dia em que decidi fechar gavetas, de joelhos, dobrando lembranças, separando as tristezas.
Sete voltas à chave, sete promessas feitas, sete voltas à cabeça, mas o vento é traiçoeiro.
Volta e meia uma conversa, meia volta uma colega, voltas tantas um problema.
Se eu sempre quis mudar o mundo, porque deu o mundo em mudar-me a mim, e dar-me uma volta na vida?
A roupa velha já não volta a servir?
Hoje, este vento, esta saudade, deixou-me nua.
Como uma gaveta vazia.

Somos para o que nascemos.
E eu nunca devia ter abandonado a minha profissão.
E agora?
Como se fecha esta merda?

9 comentários:

  1. Uva, boa noite, se conselho fosse bom, não se dava, vendia-se, pelo menos é o que dizem. agora, interrogações: será tarde de mais para lhe voltar? a profissão abandonada está assim tão refém da idade, conjuntura económica, familiar, ou outros factores inibidores? conforme o vento veio, também o vento vai, estragos feitos, a haver, talvez possam ser remediados com alguma resolução para que ajude a dar a volta. lamento não saber de cor nenhuma citação inteligente, ou outra coisa qualquer,para deixar uma ilustração a isto, até podia ser que ajudasse. bj

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Pois, e agora com esse comentário estou aqui a encolher os ombros.
      Foi esse vento que chegou, o vento da dúvida, das saudades.
      Na altura fechei mesmo a gaveta, juro que a tinha fechado.
      Estive sempre na boa.
      Até hoje.
      Mas isto acontece a tanta gente. Tirar cursos, construir uma profissão e depois fazer uma coisa totalmente diferente.
      É uma merda é o que é.

      Eliminar
    2. Uva, bom dia. passei só para dizer que o vento das dúvidas e das saudades se for uma brisa, ainda podes fechar a janela com calma, agora, se for uma ventania, tens de perceber se a janela tem espessura suficiente para a conter. metáforas/analogias à parte, o que se passa, acho eu, é que nós acabamos sempre a fazer balanços, e depois as conclusões doem-nos, porque afinal, houve decisões que pareciam tão acertadas...e mais tarde acorrentam-nos a um certo arrependimento. espera uns dias, respira e volta a fazer um exercício de introspeção. se conseguires ser bem objetiva, o que me parece que por aí não falha, experimenta ver os prós e contras da tua decisão; é que às vezes ficamos toldadas, e é aí que a saudade, a dúvida nos assola e nos trama. já agora, se não estiver a esticar-me, será que o facto de teres feito anos esta semana, não terá ajudado ao balanço? boa semana. bj

      Eliminar
  2. Estou solidária contigo Uva! (Só não o consigo expressar assim tão bem...)
    Eu, tu e mais 90% da população Portuguesa estamos assim.
    Se houver solução e possibilidade de mudar tens todo o meu apoio.
    Mas ... nunca é tão facil como se pensa ou se imagina. Principalmente nesta altura, e as vezes em qualquer altura...
    beijoka

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Pois é miúda. Esta coisa às vezes lá rebenta...e eu estou tão fartinha disto.... disto aqui...

      Eliminar
  3. não penses que consegues arrumar essas coisas em gavetas ou armários fechados. essas coisas são folhas soltas em cima de uma secretária. basta que se abra uma janela e lá aparecem folhas que pareciam perdidas há séculos. o segredo é ter poucas folhas em cima da mesa e nunca deixar amarelecer o papel. falar é fácil.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Mas eu quando arrumei, julgava ter arrumado.
      Tinha pensado: pronto, isto acaba aqui, fica arrumado!
      Afinal, está mas é tudo desarrumado.

      Eliminar
  4. Nem penses! Nunca somos para o que nascemos! Podemos eventualmente ser, mas é sempre por mero acaso.
    Somos para o que quisermos ser, para onde a nossa real gana quiser que sejamos.
    Tenho para mim que somos sempre donos do nosso destino.
    E nas opções que tomamos, se por vezes não são as melhores, nada de pânico porque nada se perde em cair, se ao levantarmo-nos trouxermos alguma coisa na mão.
    E embora por vezes custe a acreditar, para quem souber procurar há sempre qualquer coisa a apanhar.
    Desejos de uma excelente semana.
    Corvo.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Estou tonta de tanta coisa agora na cabeça.
      Eu vivia numa rua com muito prédios que faziam pracetas. Havia dias que a ventania concentrava um monte de lixo num canto e aquilo andava ali à roda tardes inteiras por causa do vento.
      O lixo todo, os papeis, as folhas, tudo num remoinho.
      Tás a ver não estás?
      É a minha cabeça....

      Eliminar