No sábado resolvi levar a pequena (e o grande) ao novo Museu dos Coches.
Sim. Estavam filas intermináveis mas a certa altura lá nos organizaram e ficámos todos à sombra. Se estivemos 45 minutos à espera para entrar, foi muito.
Não valeu a pena.
O edifício está inacabado. Aliás, tudo está inacabado naquele projeto, inclusive os miolos dos que pensaram transformar aquilo no Museu dos Coches.
Não existe verba para terminar a ponte pedonal que liga o novo museu à zona ribeirinha e o mais engraçado é que a inauguração se fez sem se preocuparem com a identificação do espólio.
Fui pela primeira na minha vida visitar um museu, e já calcorreie milhares e milhares quilómetros de museus e exposições, caramba, sem ter ficado a saber o nome da peça, de que ano é, de quem era, quem a utilizava e para quê. Incrível.
É simplesmente decadente inaugurarem assim um espaço. É como ir ao Louvre e não saber onde está a Mona Lisa porque, olha, que pena, não está identificada.
O espaço em si, pois, mais do mesmo, um autêntico armazém de legumes muito parecido com o M.A.R.L. de Loures. É um espaço grande, amplo, cheio de luz natural, mas é só isso, um grande pavilhão branco dividido em duas partes por montras iluminadas, e inacabadas, que expõem o trajes dos cocheiros e afins, estes sim, identificados com papelinhos escritos com coisinhas do tipo: 'Estes sapatinhos eram do senhor que levava os cavalinhos.'. Não era tanto, mas o investimento na identificação destas peças ficava a este nível de interesse.
A luz que aquilo tem é impressionante, claro, Lisboa é luz, mas as janelas têm de estar todas fechadas porque coches com 700 anos (digo eu que não sei quantos anos têm) calhando não se dão muito bem com a luz.
Não percebo. A luz maravilhosa que entra por ali adentro vinda do espelho do rio, e que podia ser aproveitada para as artes que necessitam de luz para se afirmarem e imporem, põe antes a descoberto num punhado de monos com rodas, que são o ex-libris em matéria de museus em Portugal - e ninguém nega a sua beleza- mas que requerem reparações urgentes para serem apresentadas ao público daquela maneira tão exposta.
As características do novo museu obrigam a uma reparação total do espólio, e diz quem sabe, que isso representa um investimento ultrajante para o qual não existem verbas, além de totalmente desnecessário tendo em conta que o antigo edifício era afinal o mais indicado para aquele tipo de exposição.
A minha alma está (cada vez mais) parva. Com os artistas (e tão bons) que temos, a morrer de fome de exposições e de partilha, e ali um edifício maravilhoso, super central, super turístico, super super, e foram logo enchê-lo de coisas velhas que ainda por cima já estavam bem instaladas na vida.
É assim o meu Portugal, e não é só nos museus, infelizmente, mas em tudo.
A antiguidade é um posto insubstituível e por isso é que temos a taxa de desemprego jovem no estado em que a temos, a delinquência a trepar para cima de nós com facas e ferros por falta de ocupação dos miúdos, e uns iluminados, quero dizer, uns queimados da cabeça, resolveram utilizar um espaço que respira potencialidades, para instalar os coches que as princesas e as madames (que já na altura ninguém as suportava) usavam para fazer afrontas de riqueza ao povo.
Descobriu-se a cura para o cancro. Só temos uma injeção. Vamos dá-la ao Manoel de Oliveira.
Deixo umas fotos para abrir o apetite, mas cuidado, como não sabemos o nome das peças, vejam lá se não comem o gato pela lebre.
E o dinheiro que esta gente gastava só por motivo de aparências?
É incrível como tudo permanece igual. Continuamos os mesmo atrasados de sempre.
A Uva já tinha botado faladura sobre o tema
aqui, e não foi bonito.