22 de maio de 2015

Da multidão

Há poucas coisas que me assustem tanto.
As multidões de gente, as grandes manifestações na Avenida, no Marquês, na Assembleia da República, nas redes sociais dos famosos, a black friday, a abertura da nova loja da Adidas no Colombo, a Costa da Caparica no primeiro fim se semana da Páscoa, o ir lá para a frente nos concertos, as ultra maratonas na Ponte 25 de Abril, a Tomatina portugesa, a Color Run lisboeta, as autênticas touradas de rua que à mínima coisa se transformam em eventos sangrentos que me assustam (muito) mais do que imaginar-me sozinha, toda nua, dentro de um poço sem fundo.
Gosto muito de pessoas, sinto-me tremendamente bem entre pessoas, adoro dançar com desconhecidos no meio da pista, andar nos mergulhos sincronizados com meia praia, e restaurantes cheios de gente educada, mas este amontoado gigante de gente, que por motivos válidos ou não, de boa ou má índole, fúteis ou altamente solidários, divertidos ou só estúpidos, transtornam-me. 
Não, transtornar não é a palavra certa, talvez a palavra desconfortam-me seja a mais acertada,  porque provocam em mim um desconforto psíquico e algumas dúvidas existenciais.
Do que entendo deste novo hit das multidões, nada do que seja feito por uma pessoa ou uma equipa de 4 pessoas, 20 pessoas, tem impacto na sociedade, isto é, parece que de repente tudo o que se faz neste país tem de ser aos magotes de gente, aos milhares de pessoas nas ruas, aos milhões na maratona, aos triliões na estreia mais aguardada do ano, e por aí fora.
Um concerto que não seja no Meo Arena é uma valente porqueira, um livro que não vá na 25º edição é um merda do pior, um programa que não tenha 30 de share é arrumado na gaveta, uma peça de artesanato que não seja da altura da Torre Eiffel, não tem qualquer impacto.
E isto é de uma tristeza imensa, porque na minha opinião perde-se muito a individualidade, a criatividade individual, a possibilidade de saborear o momento e de nos ouvirmos a nós próprios, internamente, para sabermos se gostamos ou não, coisa que se torna impossível com tanta fonte de contágio humano.
Li algures uma rapariga queixar-se que não podia aguentar mais as calças skinny, que andava numa infelicidade imensa. Passa-lhe pela cabeça que há milhares de modelos que pode usar?
Impossível. Toooooda a gente usa skinny, milhões usam os vestidos da espanhola, milhares usam barba ortodoxa, milhares andam a correr, milhões usarão bikinis de folhos, triliões têm a bimby.
O que é que se passa minha gente?
Isso é tudo medo do escuro? Não gosteis de estar sozinhos?
Não será isso o medo de verem a luz?

Deixo-vos com a única multidão que vale a pena, e mesmo esta, feita por homens únicos e sozinhos, são, ainda assim, tremendamente capazes.


Walton Ford, "Falling Bough", 2002, Paul Kasmin Gallery, New York

Les "Oreades" by Robyn McCallum
 
 Les "Oreades" by Robyn McCallum

 Les "Oreades" by Robyn McCallum
  
William Bouguereau (1825-1905)Les Oréades1902

14 comentários:

  1. Eu também não gosto de multidões. Cada vez menos. Ando-me a tornar agorafóbica. Tenho medo de estar rodeada de muita gente, sentir-me apertada, sufocada. Gosto de poder respirar e de ter mais do que um metro quadrado para mim. O meu m2.
    Gosto de pessoas mas não gosto de estar sempre com as mesmas. E gosto de estar sozinha. Um fim de semana sem sair, só eu e as minhas coisas. De vez em quando tem que ser.
    Arrelia-me esta pressão do convívio, do social, que temos de ir em grupo fazer tudo. Eu gosto de ir ao cinema e ao teatro sozinha. Mas há quem me ache esquisita.
    E que ache estranho que uma pessoa que conhece tanta gente, que seja tão extrovertida, que goste tanto de gargalhada, decida, de vez em quando estar sozinha.
    Dulce/Porto

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    1. O pior são as multidões psicológicos. A carneirada. Credo. Que falta de personalidade.
      Eu acho que sou como tu.
      Passo a vida a falar sozinha e tudo.

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    2. A carneirada assusta-me, porque para mim isso está a um passinho assim de ser uma seita. Eu ás vezes penso que falo chinês mas sou uma masoquista e vou lá e falo e falo e falo, ninguèm me entende mas eu falo na mesma.

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  2. Também fugi sempre das multidões. Imagino sempre uma situação de pânico em que as pessoas se atropelam, pisam e matam umas à outras. Causa-me claustrofobia e eu até sou das que anda em elevadores onde cabem no máximo duas pessoas. As idas ao supermercado, geralmente são às 22h num dia da semana, no máximo à hora de almoço no fim de semana. E em termos de convívio, odeio por exemplo aqueles jantares com 20 pessoas. Prefiro ir combinando alternadamente para tirar proveito da presença de quatro ou cinco. Costumo dizer que no dia do meu casamento, apesar de ter sido um dia bom, foi quando menos aproveitei a presença dos outros.

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    1. Ó mãe!!! Tu és um nadinha anti-social! ;)))))
      Eu estou como tu.
      Será da idade?

      Mas isto é uma moda. Quenada passa, digo eu...

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  3. Também eu vou ao cinema sozinha, não tenho bimby, gosto de pessoas (algumas). A mim arrelia-me tudo o que seja "só porque sim", mas gosto de calças skinny, acho-as confortáveis (ah,ah,ah).
    Acho que, no fundo, essa gente tenta passar despercebida no meio da multidão despercebida.

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    1. No outro dia ouvia duas pitas a falar uma com a outra: ´vais à festa?' 'depende, quantas pessoas é que vão?'
      Só sabem andar aos bandos.
      Deve ser para ficarem mais fortes.

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  4. Às vezes, sermos muitos vale como forma de pressão. Não que goste particularmente de multidões mas reconheço-lhes poder.
    No que se refere a eventos gigantescos, aí já não será bem a mesma coisa. Quantidade de participantes não significa, necessariamente, qualidade da realização.
    Gostei das diferentes versões das "Óreades"!

    Beijos, Uva. :)

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    1. Ahhh as Óreades. Sabia que ias gostar.
      Viste bem a primeira? Que coisa maravilhosa. Não consigo ter uma foto em condições dos pormenores, mas está ali uma obra de arte. E hoje falavas de pássaros.
      A última vi em Paris no D´Orsay e fiquei ali a engolir em seco que tempos.

      Sobre as multidões reconheço-lhes apenas e só o medo que provocam nos outros.
      Mas eu sou assim, um bocadinho 'anormal'.
      Abracinho!

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  5. Ó minha querida Uva, de anormal a menina não tem nada, bem pelo contrário, pelo menos desde que a visito.
    Um beijinho de outra anormal.

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  6. Que forma estupida de deturpar o que a outra escreveu sobre calças skinny. Vocês têm cá uma propensão para estragar os bons posts que até escrevem com coisas que não têm nada a ver...

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    1. Porque é que não se mete a abrir uma IPSS? Daquelas que protegem os pobres e oprimidos bloggers? Está muito na moda. Ocupava-lhe a cabeça com coisas realmente úteis à sociedade em vez de se preocupar um um estúpido blog que deturpa as coisas que V. Exa. lá acha que deturpa. A outra não sei quem será, mas eu não gostava de estar no lugar dela, ter assim pessoas a meterem-se na minha vida em blogs alheios.

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    2. Ok, eu vou ali abrir a IPSS para estar entretida e, nos entretantos, vamos as duas fingir que não sabemos quem é a outra a que a Uva se refere no post e vamos também as duas fingir que faz muito sentido a Uva dizer-me que com este comentário me meto em vida alheia, logo a Uva que vai ao ponto de fazer posts no seu blogue a criticar bloggers alheios, defendendo outros pelo caminho e, portanto, bora lá fingir que isso não é meter-se na vida dos outros.

      Se calhar, a Uva vem comigo abrir a tal IPSS protetora de pobres e oprimidos bloggers, boa?

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    3. Quem anda aqui a fingir que é anónima é a senhora.
      A 'outra' deve ser uma amiga sua não é? que muito se encanitou por eu escrever sobre ela, aliás, a única pessoa no mundo que escreve posts a dizer que não gosta de skinnys é efetivamente ela, a sua 'amiga', mais ninguém no mundo ousaria assim contra um modelo de calças, credo, que medo. Entretanto, enquanto anda entretida a salvar raparigas reféns de skinnys, vou aqui dizer-lhe um segredo: eu não leio 'só' posts, também leio comentários, e revistas, e jornais, e livros, e coisas assim, sabe?
      E a 'outra' que nem sei quem é, nem me interessa discutir isso agora consigo, não é única no mundo. Que isso fique aqui bem claro.
      O que faço aqui no blog é da minha exclusiva responsabilidade. Tenho também a responsabilidade de não ser mal educada para com ninguém, coisa que acho tenho conseguido, mas posso ter uma opinião sobre as outras pessoas ou não? Se posso ter sobre o Cavaco e sobre o jornalista JMT porque é que não posso ter sobre uma blogger? Sobre a liberdade de expressão também já sabe o que penso não sabe? Vou só até onde a minha consciência me permite ir.
      Acha que dizer que uma miúda perdeu a classe é faltar-lhe ao respeito? Diga lá. Não pensa exatamente o mesmo. Achou aquilo bem? Acha a atitude defensável?
      Entretanto vou-lhe respondendo aos comentários totalmente descabidos, porque apesar de me estar a aborrecer com esta conversinha sem interesse absolutamente nenhum, não quero faltar-lhe ao respeito.
      Além do que o tema do post nem sequer é esse.


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