15 de maio de 2015

Na Holanda é que é bom

Tenho uma amiga que viveu uns anos na Holanda.
Já nem sei porquê, mas talvez me tenha assaltado a curiosidade das 5 da tarde, como é costume, e perguntei-lhe como era lá nas Holandas e se sentia assim tanta diferença de Lisboa.
- Um bocado. Eles são muito à frente.
Pois, bem sei, dizia eu, até deixam as pessoas fumarem uns charros e as prostitutas pagam os seus impostos como outra pessoa qualquer. Que não, não era bem isso que fazia a diferença, disse-me ela, que onde se vê que um país é verdadeiramente evoluído é na forma como trata a questão da saúde.
Já eu ia lançada para lhe dizer que o nosso SNS é um case study, que devemos agradecer a Deus e aos anjinhos esta espetacular organização e que em comparação com outros países de terceiro mundo [como o nosso], o SNS era muito bom, temos bons médicos, salvamos imensa gente, estamos muito à frente na descoberta de tratamentos e fórmulas químicas no combate a diversas doenças, somos todos muito velhinhos e isso quer dizer que afinal nos tratam bem, e prestes a lançar o tema para a questão dos não-contribuintes terem iguais direitos na saúde, ela, na sua calma, disse-me:
- Não, não é nada disso. Na Holanda toda a gente tem seguro de saúde obrigatório, como se fosse o cartão de cidadão, percebes, é obrigatorio para todos mesmo para aqueles que são muito pobres, que no caso têm condições diferentes mas ainda assim têm o seguro de saúde.
- Eu não tenho seguro de saúde - disse eu cabisbaixa e envergonhada por ser tão fona que nem para mim sou boa - como não é obrigatório...
- Pois, e lá não é este regabofe com as consultas, três meses ou mais para um médico te ver, não, lá és logo vista por um médico no dia seguinte e se tiveres de ser medicada perguntam-te que farmácia fica mais perto de ti, e mandam a receita para lá.
- Isso é bom.
- Bom é chegares à farmácia, teres um frasco com o número exato de medicamentos que precisas de tomar para te curares, quer sejam dois comprimidos ou vinte, e o frasco estar identificado com o teu nome, data de nascimento, para que servem, e a data em que os compraste.
- Beeeem isso é o cumulo da perfeição.
- O cúmulo da perfeição é eu chegar à farmácia e a Dra. saber exatamente a minha doença e o que pode vender-me para me tratar, não é chegares ali e pedires um antibiótico para te tratar um virús e ela assobiar para o lado, e deixa mas é vender mais esta caixa.

Fiquei a pensar nisto e no papel que entretanto tenho na mão.
É um gatafunho incompreensível de um médico particular com um catrefadão de exames.
- Olhe leve isto a um colega meu do centro de saúde e peça-lhes estas análises.
Ok. Fui muito prontamente recebida pela Senhor Dr. Médico Particular, mas agora tenho de esperar 3 meses para que o meu de família me passe as análises.

Talvez veja isso do seguro de saúde este fim de semana.
Tenho andado um bocado doente. 
Dos nervos.

19 comentários:

  1. Querida Uva Passa,
    Veja mesmo. É muito à frente. (Se a conhecesse pessoalmente martelar-lhe-ia a cabeça até a convencer. Sendo as coisas como são, poderemos trocar argumentos, se vir nisso interesse.)
    Um bom fim de semana,
    Outro Ente.

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    1. Vejo interesse.
      Esqueci-me de dizer que na Holanda não há hospitais privados. Toda a gente vai aos mesmos hospitais.
      Nesse caso os seguros de saúde de cá são melhores. Podemos ser atendidos particularmente por médios que também prestam serviços nos hospitais públicos, o que os faz terem o dobro da experiência.

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    2. Querida Uva Passa,
      Precisa de fazer análises e outros exames, tipo tc, rx ou electrocardiograma? Apareça no hospital privado e tire a senha, para fazer tudo no mesmo dia e no mesmo lugar. Tem seguro? Não pague ou pague apenas uma parte. Precisa de ser internada? Tenha um quarto para si e a companhia que escolher. Tratamento de hotel? Só para quem não passou por elas.
      (Verifique se a sua ordem profissional tem acordo com condições vantajosas. Escolha apenas as coberturas que lhe interessam. Compare e opte. O seguro morreu de velho.)
      Espero que seja sempre uma despesa inútil e sem retorno.
      Um beijo,
      Outro Ente

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  2. Pois...eu troquei a adse por um seguro de saúde premium. E não estou nada arrependida. Fica-me mais barato.

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    1. És a primeira pessoa que conheço que desiste da ADSE. Aquilo está assim tão mau?
      Bom, julgo que com os cortes da direita, foi só cortar a direito.
      Esse Premium é barato ou é para cimas de 100 euros?

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  3. Eu e o marido tínhamos seguro de saúde há anos e sempre me habituei a essa celeridade. Só que ao estarmos prestes a duplicar o número de elementos na família, vemo-nos obrigados a cancelar. Só vou manter o meu até ao parto e depois kaput... Para nós e para o nosso filho, que entretanto também entrou na apólice, era um total de 170 euros. Com mais uma criança chegaríamos aos 210 euros (isto com tudo incluído excepto estomatologia). Incomportável. Vamos apenas manter para cirurgias, internamento e doenças graves, o que ficará em cerca de 60 euros por mês os quatro. Mas consultas, exames, análises, vai tudo à vida :( Com o valor exorbitante que pagaríamos, chegámos à conclusão que mais vale pagar o valor por inteiro em particular quando for mesmo preciso. Fora disso vou voltar às filas no centro de saúde.
    É engraçado porque conheço quem tenha vivido na Holanda e deu-me uma visão diferente e muito negativa do sistema de saúde de lá. E tenho sempre muito medo de países onde o seguro seja obrigatório ou a única solução para alguma dignidade.

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    1. Pois, 210 euros é imenso. No SNS os miúdos até aos 18 anos agora não pagam. Mas julgo que ter seguro é melhor do que não ter. Passo as passas do Algarve com os médicos do Centro de saúde.
      Não sei nada da Holanda, mas a amiga comparava com Portugal, pelo que pode ser daí que venha a maravilha 'de lá fora ser muito melhor'. Não deve andar longe. Ou talvez não gostassem de ser obrigados a pagar o tal seguro. É uma imposição.

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    2. E ainda há outra questão. Conforme se avança na idade o valor mensal vai aumentando. Por volta dos 60 anos, esses duzentos euros darão para pagar a mensalidade de apenas uma pessoa. Se os meus pais tivessem neste momento seguro, deveria estar perto dos 400 euros só para as dois. Ou seja, na idade que realmente deveremos precisar mais, a maior pare das pessoas não conseguirá pagar.

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    3. Concordo com a última parte. A saúde não deve depender do dinheiro que se tem no bolso. E o que o nosso sistema tem é que olha para a saúde de todos de forma igual. Nos países onde só se aceitam pacientes com seguro, os que não podem pagar nem uma sandes, se ficarem doentes, morrem. A vida é preciosa para todos, não só para alguns. A tal dignidade não deve ficar dependente de um seguro.

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  4. Uva, bom fim de semana, e quem sabe os três meses ainda encolhem, e tudo fica mais célere. não custa ter esperança.
    Certa vez, num blog que eu sigo falava.se da Holanda ( a dona do blog vivia lá há 3 anos, perfeitamente integrada, muito bem empregada e muito bem paga). Contava-se que uma pessoa tinha caído da bicicleta na rua. Chamaram uma ambulância e ao ser levada para o hospital teve de fazer uma TAC. Preço da chamada : 60 euros; "viagem" na ambulância: 800 euros, e a pessoa receava que o seguro que tinha não chegasse para pagar o exame. Outra versão para outro problema. Lá está, isso do seguro de saúde , só vais até onde ele te permite. No entanto, não posso deixar de louvar a questão da medicação aqui descrita. O nosso sistema está a rebentar pelas costuras, enquanto certos e determinados vilões são ouvidos em comissões , e continuam a viver à grande e à francesa...o problema é esse. demasiado fosso, demasiadas desigualdades, se assim não fosse, o país aguentava muito bem um sistema de saúde que protegesse os cidadãos que pagam impostos e se veem vilipendiados todos os dias. desculpa, estiquei-me.
    Mais uma vez desejo bom fim de semana.
    Mia

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    1. Gosto da ideia de ter um medicamento à minha medida. Se estou doente e tomo 2 comprimidos e fico boa, o Sistema obriga-me a comprar uma caixa com 40 comprimidos. O resto é lixo ou vou tomar se eventualmente ficar outra vez doente. Isto propicia a auto-medicação, porque se ficar doente e tiver os mesmos sintomas, vou achar que tomando aqueles fico boa, mas o pior é que pode ser outra coisa e estou a fazer a medicação errada. E depois ando sempre aos papeis para saber que raio de comprimidos são aqueles que ali tenho, vou ver a bula, e acho que sim, que enxaqueca é igual a dor de cabeça e cá vai disto. A vida lá é mais cara, mas pagam melhor. É tudo uma questão de equilibrio. E na Holanda podes ficar desempregado a vida toda que o Estado apoia sempre. Se fosse cá, pois, ninguém trabalhava.

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  5. Quero ir para a Holanda!!!!!!! Mas como é que um médico particular, não pode passar análises?' Eu já fui e passou-me!

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    1. Pois, mas pagas as análises particularmente. Para teres análises comparticipadas tens mesmo de ir ao médico de família. Para certos exames, estou a lembrar-me de uma mamografia, se não tiveres a credencial, pagas uns bons 80 euros.
      A Holanda só tem bicicletas. Julgo que mesmo assim prefiro o Metro, mesmo com greves. ;)))

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  6. Eu vivi na Suiça e honestamente acho que o sistema deles mete o nosso no bolso.

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  7. Pois eu fiz um seguro de saúde. Nós não caminhamos para velhos e já estamos naquela idade em que temos de fazer exames para tudo e para nada e os miúdos (2 adolescentes e um adulto) também precisavam de consultas de especialidade para pequenos problemas que foram surgindo e nunca foram tratados (acne, pequenos entorses, etc). Pago 130 Euros por mês mas sem estomatologia. Para os dentes escolhi outra seguradora que tem seguro só para dentes e pago 19,98 Euros por mês para 5 pessoas e tenho descontos muito bons. Cada caso é um caso mas cá em casa somos 5, a médica de familia do posto médico reformou-se e moro numa freguesia de Lisboa que não tem posto médico, portanto acumulamos com os moradores da freguesia do lado! Quem é que disse que só na província é que havia problemas destes???

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    1. Como Lisboeta me acuso: cada vez são mais doentes para um médico! Eu é raro ir a ele. Não que não precise - preciso, mas porque é assim tão difícil marcar consulta. E depois sempre me manda fazer exames... e há que mostrá-los. Só que já não dá para serem logo vistos, porque não há vagas... Diz que para exames pode aparecer sem marcar e é só avisar... Mas com os computadores a dominar o sistema de marcações, já não lhes é possível receitar qualquer coisa a não ser que o estúpido do computador indique que existe uma consulta marcada (e paga). Não entendo bem porque, como disse, é raro ir a um. Se for uma vez por ano é muito... Mas tento ir, já que faço medicação (ou melhor, devia).

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  8. Pelos filmes americanos vejo muito isso do "seguro de saúde". Lá não é obrigatório, parece-me, mas só assim para se ter acesso ao sistema de saúde, porque ele não é gratuito. Só que, como tudo que visa dinheiro, aqueles que não podem ter um bom seguro de saúde, ficam menos protegidos. Se não tiveres um, não és atendido em nenhum hospital. Se tiveres um que não abrange uma série de coisas, não és atendido. Ou então ficas com uma dívida descomunal, daquelas que nem uma vida inteira de trabalho poderia pagar.

    Eu não sei se ter seguro de saúde é assim tão bom quanto apregoam. Mas que cada vez mais as companhias nos tentam vendê-los, isso é verdade. Podes sempre experimentar. E se adiantar para alguma coisa, diz!

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  9. Eu não conheço a Hollanda, quanto menos o seu sistema de saúde :) Conheço o de França, não é mau, tem as suas vantagens, mas infelizmente Uva, aquele que melhor conheço é nosso.
    Lembras-te daquele casal em Dubai, que pediu ajuda para pagar as despesas medicas da sua menina prematura e que por muito ela luta-se pela sua vida, juntou-se as estrelas? Bem a única diferença entre esse casal e eu é a sorte de viver em Portugal.
    Podemos criticar o nosso sistema de saúde, eu criticava e muito, ainda hoje, reclamo de quando em vez, MAS se a minha menina está aqui hoje ao meu lado, é por causa do nosso SNS, porque como conseguiria arranjar dinheiro para pagar a sua estadia no hospital, enquanto prematura e com uma mal formação congénita cardíaca, durante 2 meses e meio, com direito a medicação todo o santo, exames invasivos ou não, analises dia sim dia tb, mais cirurgia?? As consultas, depois isso, os próximos exames, as próximas cirurgias ???? Portanto, podemos criticar, podemos ser impacientes, (eu tb fui e ainda sou mesmo assim), mas o no SNS, não de todo o pior do mundo, a ele devo a vida da minha cachopa!
    Os seguros de saúde, antes de ter os gémeos, tinha um e sim, é realmente muito bom, as vantagens são imensas e enquanto gravida, consultas da especialidade, pagava 15€, exames, mais ecos, mais tudo aquilo que uma gravida precisa, se tivesse que pagar, o valor era sempre quase irrisório.
    Só que vieram mais dois para se juntar a nós, e o dinheirinho, fazia falta para outras coisas, portanto tivemos de desistir.

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  10. Que ridículo: então o SNS tem que pagar as análises particulares?
    Sou médica, e quando me trazem análises "para eu passar", estudo o doente e passo as que são convenientes, não as que me "mandam". Os médicos do privado, como não tem quaisquer consequências, pedem tudo e mais alguma coisa, sem qualquer critério... E mandam os do centro de saúde passar?! Mas quê, sou alguma máquina de passar receitas ou sou médica? Com o mesmo curso do doutor do privado.

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