28 de junho de 2016

E o que dizer sobre aquilo que não nos mata?

Escrevi em tempos idos, num post que me ficou, que a inteligência de um ser humano se conseguia medir através da capacidade que este tem (ou não) de se colocar no lugar do outro. Não seria apenas trocar de sapatos, escrevi eu, seria antes trocar de pele e entender que as razões que os outros têm são razões que a nossa razão amiúde desconhece.
É por isso é que há tanta gente medíocre, humanamente falando, e é também por isso que cada vez mais tento compreender o que está para lá das razões dos outros, fazendo o difícil exercício de tentar compreender as atitudes humanas sem colocar a minha experiência pessoal nelas, isto é, apagar do meu vocabulário mental o caminho da mediocridade e que é este: se fosse comigo havia de fazer diferente.
É urgente aprender a pensar.
E por pensar demais, faço vários caminhos diferentes e chego a variadas conclusões.
A última conclusão a que cheguei foi que talvez a inteligência humana tenha várias formas de se medir. Cheguei a esta conclusão porque me fui matando aos poucos com as minhas burrices e nem por isso fiquei mais forte. Aliás, fui ficando cada vez mais fraca, excluída, insistindo num exercício de ingenuidade perante os outros, submetendo-me, submergindo.
A conclusão é tão banal que me envergonha.
Descobri que se mantivermos certos juízos em cativeiro, não, se mantivermos todos os juízos em cativeiro, somos muito mais inteligentes.
Tomar posições radicais é hoje um erro crasso de inteligência para aqueles que procuram a paz de espírito. Claro que há os que se estão cagando para paz e querem apenas viver em guerra, mas esses são brutos como as casas e não os quero considerar.
Então como é que eu vou resolver esta situação colossal?
A minha vida foi toda ela uma enxurrada diária de juízos, de achos, de consideros, de presumos. Achei sempre mal, considerei erradamente e presumi cada vez pior. Por causa disso cometi enganos irreparáveis, escrevi coisas inomináveis, fui uma cabra para mim própria.
E o bizarro é que ainda há pouco tempo, por conta de um homem sinistro, que foi extraordinariamente inteligente, eu aprendi a última lição da minha vida.
Trocou de pele com o outro, guardou para si (e de mim) o seu mau juízo, o seu presumismo e o seu achismo, e inteligentemente fez a sua escolha.

Para a maior parte das pessoas ele foi um grande cabrão covarde, que escolheu diferentemente do que queria porque teve medo do lobo mau.
Para mim foi das poucas pessoas que conseguiu um exercício pleno de humanidade.
E digo-vos que esteve na sua mão salvar-me a vida.
E não o fez.
Salvou a dele.

E fez bem, que eu agora já estou morta.

5 comentários:

  1. Uva, Uvinha,
    Este texto é um enormíssimo exercício de lucidez; sou levada a pensar que exageras e estou quase certa disso mas o que fizeste aqui só pode levantar-te do chão! Go on! (e não deixes de escrever!)

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  2. Uva... estou a passar exactamente pelo mesmo.
    Queria tanto um pouquinho de humanidade...

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  3. Vá lá
    rebobina
    faz reset
    este final
    não serve

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  4. Que chatice, a minha primeira bloguer preferida, marca sempre, e como tal volto sempre. Não pare de escrever se faz favor...quero novidades :)

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