31 de outubro de 2016

Da vizinhança

Como é natural, uma blogger também tem vizinhos.
Dá-se o caso da Uva ter vizinhos muito metidos para dentro (de casa), e de ela própria viver muito saída para fora, o que nem sempre é propício a encontros, digamos que, tangentes.
As minhas vizinhas do lado, duas senhoras irmãs que se mudaram uns dia depois de mim, não dão sinal de vida desde agosto último, altura em que as encontrei no pátio, vinha eu com um carregamento do IKEA que só visto, e uma delas estava há mais 2 horas presa no nosso belíssimo elevador, um espécime raríssimo do século VIII.
Enfim, digo eu com um longo e complacente suspiro, eu sou uma boa pessoa, lá no fundo tenho a minha caridade a marinar em vinha d'alhos para estas ocasiões, mas deu-se a vicissitude de naquele dia ficar mais lixada por me ver obrigada a carregar todo um quarto escada acima, do que me encher de piedade da vizinha prisioneira.
Eu bem sei que poderia ter ficado ali a compadecer-me com a monstruosa situação, que é uma senhora sem telemóvel, estar presa dentro de um assustador elevador pendurado por arames algures num poço sem fim, mas não. A marinada ainda não estava no ponto e vendo que já havia solução à vista para a pobre senhora, tratei de meter pernas ao caminho e subir as escadas as quatro vezes que a velha me impôs, para carregar os meus próprios monstros para casa.

O karma é um grande camelo vingativo.

No passado sábado, quando regressámos à noite a casa, o sorumbático prédio onde vivemos parecia o Kremlin às 6 da manhã. Mas que barulheira vem a ser esta?
Um estranho sentimento apoderou-se de nós, porque no apartamento das nossas vizinhas a televisão estava tão alta que se ouvia a dois quarteirões.
Ai, tu queres ver que estão para ali as duas mortas, caídas em cima do comando da televisão?
Batemos à porta, e nada. Batemos furiosamente à porta, e nada. Fomos à volta pela varanda, e nada. Nada de nada no meio da grande dúvida que é ter as vizinhas mais caladinhas do prédio a fazer uma rave em casa com a televisão em altos berros.
Bom, assim como assim, dormir não conseguimos, então a única solução foi: polícia com eles.
Foi uma operação rápida e eficaz. O Senhor agente da autoridade, muito incumbido do seu poder de arrombamento da propriedade privada, entrou na casa das duas irmãs, naturalmente pela janela que a minha varanda lhe deu acesso, e logo verificou que na casa apenas a televisão mostrava sinais de vida. As duas irmãs catatuas, foram laurear as pevides, vejam só, e ali nos abandonaram presos numa casa de malucos, que era a nossa, sob um efeito muito parecido com as oferendas que os povos indígenas fazem aos deuses, debaixo de uma forte chuva de tambores.

Escusado será dizer que o senhor agente desligou prontamente a televisão no comando, saltou novamente pela janela, rabiscou umas coisas no seu caderninho Moleskine, e foi-se embora, deixando tudo calmo....

Mas o karma é um grande camelo vingativo.

Não só as vizinhas não voltaram, como a televisão se voltou a ligar passadas 2 horas - calculamos nós por estar ligada a um qualquer temporizador para afugentar ladrões (há muita gente que deixa as televisões ligadas para parecer que está sempre gente em casa).

E agora a minha vida é isto.
Estou a viver desde sábado à noite ao lado duma infernal discoteca, onde ao som explosivo da voz da Cristina Ferreira, onde os biblots do móvel da sala, de duas irmãs catatuas, dançam furiosamente nas prateleiras.

6 comentários:

  1. Podia ser pior...

    ...imagina que era um DVD do Tony Carreira em "repeat"?

    :)

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    1. É tão mau. Estou quase maluca. O que vale é que não fiz ponte, senão estava morta de cansaço...

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  2. E ir lá a polícia, e desligar a tv da corrente?

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  3. Mas que cena!!E se as "manas" só voltam para o ano????

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  4. As manas acabam de chegar. Já me pediram desculpa. Afinal foram de férias na 4a à noite, o que torna tudo ainda mais estranho, porque deixaram a televisão desligada, sem temporizador algum ligado, e a bicha maluca ligou-se sozinha no sábado, duas vezes. Espero que não tenham bimby... não me apetecia nada ter o patamar cheio de beringela recheada com carne picada.

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  5. Vou poder dormir. Volto dentro de uma semana.

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