11 de novembro de 2016

DE LÁPIS AFIADO

A maior parte das vezes, especialmente desde que fiz os 40, nem me dou ao trabalho de discutir nada com ninguém.
Aprendi há pouco tempo que nas relações laborais nada é 'pessoal' e que as pessoas andam sempre stressadas, independentemente do dia da semana. Basta-lhes uma coisinha de nada para se lhes atear o pequeno fósforo que trazem em cima dos ombros. Por causa deste grande ensinamento, dei comigo a imaginar as pessoas assim mesmo, como fósforos, e no meio da minha angustia, que é muita, vi-me a esboçar um sorriso.
Então vamos a isto Uva, dá lá à manivela. O que vês agora?
Vejo os fósforos moles. Aqueles que raspamos, raspamos, raspamos mas que ficam com a cabeça esborrachada na lixa. É inútil. Não se incendeiam mas também não têm cabeça para nada. Vejo também os que andam todos acesos, cheios de fogo no rabo, mas fogo na cabeça que é bom, nada. É tudo fogo de vista, tu vês o fogo, mas é só faísca.
E depois vejo os que mais me irritam: aqueles que andam sempre em manada, que não conseguem arder sozinhos, que se metem a faiscar por todos os lados e incendeiam a caixa toda. 
Por exemplo: hoje de manhã, ainda mal abria os olhos, e já tinha um fósforo laboral a incendiar-me os ouvidos. Esteve para ali a arder ferozmente durante 5 segundos, que a malta anda sempre com o pavio curto, e apagou-se todo retorcido sem que eu tivesse percebido a ideia dele. 
E eu ali, com os olhos meio mortiços, completamente apagada, sem cabeça para riscar nada.
Assim não vamos lá.
Andam para trás e para diante, a acharem-se muito iluminados, mas estão todos queimados.

Tomei um decisão. 
Para sair deste inferno quente, de fósforos sempre prontos a incendiar-me a vida, decidi que seria melhor transformar-me, modificar-me, e sem dar muito nas vistas, tornar-me diferente na essência mas parecida na forma. 
Transformei-me num lápis. Um lápis pequenino, de cabeça vermelha, sempre afiado. 
Um fósforo com um novo penteado.
    
A partir de hoje, sempre que me aparecer à frente um fósforo desarvorado, pronto para me incendiar a cabeça, espeto-lhe com o bico na barriga.
E vai ser uma grande matança!










Otherworldly Pencil Sculptures by Jennifer Maestre
http://jennifermaestre.com/

9 comentários:

  1. absolutamente Deslumbrantes.
    um objecto de criação convertido ele próprio em arte.

    Abraço cara Uva.

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  2. Impressionante....
    Vou seguir "o conselho", mas eu vou deixar o fosforo até ao fim para que perceba que ali não há lenha para queimar....

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  3. posso também ser polvo lápis?
    posso te assaltar as imagens?

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  4. Olha! Cá está! Mesmo. Sumarenta, na forma e no conteúdo, no texto e naquelas coisas maravilhosas que vai desencantar para mostrar-nos...

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  5. Gosto! Preciso! Bem pequenino, bem afiado. Bjs Uva

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