28 de fevereiro de 2014

Carnaval

 
Hoje só vejo reminiscências do passado por essa blogosfera fora.
Em tudo o que é post, há fotografias dos autores dos blogues quando eram crianças piquenas, ora mascaradas de cowboys, ora de felizes joaninhas. Que ricas mães essas, que captavam tão deliciosos momentos. Conheci muitas que faziam até questão de uma sessão fotográfica própria para o evento.
Não tenho disso. Em minha casa não consta que alguma vez a minha mãe me tenha tirado uma fotografia de carnaval. E não me lembro, caso as houvesse, de terem sido abduzidas (como foram tantas) para o quintal, para serem esfanicadas recortadas e colocadas num buraco qualquer, depois de pintadas com caneta de feltro verde... nos dentes, sobretudo nos dentes. 
Também, que graça tinha tirar fotografias sempre iguais?
Em t-o-d-o-s os carnavais a minha máscara era o vestido de noiva da minha mãe... não me lembro de ser diferente.
Depois de o vestir, o que fazia era subir para cima de um banco de cozinha, para parecer mais alta.
Merecia, mesmo assim, que alguém tivesse captado o momento.  
Agora sei por isto, que o meu melhor dia de carnaval, mascarada de noiva, ainda estava para vir, e a minha mãe, com os seus elevados dons premonitórios, percebeu que era uma perda de tempo captar numa fotografia que anos mais tarde se havia de concretizar, mas em bom e na relaidade, ou seja, um grande carnaval comigo mascarada de noiva. 
Gostava pois de vos deixar um momento agradável de um dos meus carnavais de criança, mas temo que as fotografias disponíveis do meu casamento melhor disfarce, sejam para postar com maior coerência no blog  deste amigo, do que propriamente aqui na minha singela tasca.
 

A luz dos outros não me ofusca, ilumina-me antes o caminho.

Toda a vida odiei as hierarquias e a soberba das pessoas que se acham melhores, maiores e superiores aos outros. Basta-lhes ter três tostões no bolso e um punhado de capachos, para se acharem nos píncaros do mundo.
Não é verdade que eu seja o ser mais humilde da terra, já que a minha educação foi uma balde de auto estima, nem tão pouco o tipo de pessoa que dá a outra face quando é agredida. Não, eu tenho amor próprio, mas não trato as pessoas como se elas fossem uvas num lagar, que eu piso e repiso, quase sempre cantando, até que delas só reste o bagaço.
Posso até considerar e às vezes confirmar (cá para os meus botões) que sou melhor em algumas coisas, mas não faço disso bandeira, só pelo prazer de rebaixar. Tenho aliás, a perfeita consciência de que há pessoas melhores do que eu, e que serão sempre melhores que eu, mesmo que eu bata 20 vezes os meus próprios recordes. Eu não quero bater os recordes dos outros, nem quero faze-los perder. Eu espero apenas bater os meus próprios recordes.
O sucesso e a inteligência dos outros não me afeta, alegra-me e gosto de saber que, se eu não souber fazer, há alguém que sabe, e que me ensina.
Mas a soberba, a decrépita e miserável soberba, tão presente nessas autodenominadas castas superiores, nesses Cézares desta vida, nesses Deuses da Polinésia Francesa, que armados ao pingarelho, me vêm com falinhas mansas e displicentes, com o seu arzinho bonacheirão, enervam-me . Fico cega.
Nascem em berço de ouro e logo se acham os melhores, os iluminados.
O mundo é plano e eles estão lá no início, em cima de um pedestal, rindo e distribuindo atestados de estupidez a toda a gente.
São uns tristes, são uns tristes e vão acabar sozinhos ... com uma fralda agarrada ao rabo, e uma pila murcha.








"Era uma vez um rei com uma grande barriguinha, comia , comia, e mais fome tinha."


24 de fevereiro de 2014

Claques: Os grandes ditadores do desporto

Escuso-me sempre a falar de futebol, porque algumas pessoas dizem que sou vira casacas. E sou.
Gosto do Benfica que é o clube-pátria e o clube da minha família, gosto do Sporting onde fui atleta muito tempo, mas também gosto do Porto porque é uma grande equipa (e tinha o Deco), com seu polémico presidente, que ao gerir na perfeição aquela empresa, especialmente fora das 4 linhas, é sem dúvida um excelente empresário.
Sou pois, uma eclética do futebol e isso liberta-me do peso da vassalagem.  
À parte de tudo isto, e não entrando em discussões futebolísticas, há coisas que me fazem muita impressão no futebol, cá dentro como lá fora, mas sobretudo cá dentro, que é o que mais vejo.
Coloco a tónica desta minha repulsa, no fanatismo e no extremismo das claques de futebol e de alguns adeptos, sobretudo dos grandes clubes, que se transfiguram de lobisomens ao domingo à tarde para ir à bola, e alguns (miseráveis) ainda voltam para casa com as garras de fora.... Este comportamento não me incomoda apenas pela tendência transgressiva e agressiva contra os adeptos, claques e clubes adversários,  pois que posso condescender (até certo ponto)  e achar "natural", embora demente, a competição desportiva entre os adeptos das equipas contrárias, mas incomoda-me sobretudo quando a raiva é voltada para dentro, como se fosse uma doença autoimune (em que o próprio sistema imonológico ataca e destrói os tecidos saudáveis do corpo), como se um furúnculo nojento e podre nascesse para dentro do seu hospedeiro, ou seja, contra o seu próprio clube. É como se a claque se tornasse numa madrasta vandálica, insurreta e desalmada. O clube perde, e é a Revolta na Bounty.
Que motivos insondáveis tem uma claque para querer exterminar à paulada, o treinador do seu clube? E para incendiar um autocarro cheio de seres humanos, que por acaso jogam à bola no seu clube, mas que também são pais, tios, amigos, filhos?
Que turbe é esta que vai para um estádio de futebol como se fosse para a guerra na Síria? Apetrechados com armas, very lights, totalmente alcoolizados, completamente delirantes e capazes de fazer qualquer coisa, se possível muito estúpida, sem se deterem que naquele mesmo espaço há mulheres e crianças, e outras pessoas normais, que só querem ver um jogo de futebol sem confusões?
Nem sei o que sinto quando vejo a turbe caminhar em bando, toda suada,  esgazeada, aos berros, de tronco nu, carregando garrafas, alguns quase não se detendo de pé, à chuva, ao sol, ladeados de polícias armados até aos dentes... parecem-me prisioneiros de guerra em revolução, parece-me que ali, naquele sinistro conjunto, se descaracterizam, perdem a identidade e são "a claque" e tudo fazem pela claque, e que ainda pode haver outros, espero que muito poucos,  que são bem capazes de morrer pela claque e pelo clube.    
Esta mediocridade, este trogloditismo, este vazio intelectual que se apodera destes adeptos quando vão ao estádio, e falo sobretudo das claques, é de tal maneira animal e primário, que são colocados em jaulas. Em jaulas? E que orgulho poode  haver em estar em jaulas?
De onde vêm esta bizarra fúria, que a meu ver se agiganta, perigosíssima?
A última vez que fui à bola tinha uns 16 anos.
Os adeptos da equipa contrária esfrangalharam um amigo meu, de tal forma que o lábio de cima ficou colado ao queixo. E foi só para lhe pedirem um cigarro, que ele não tinha. Nunca mais fui a um jogo de futebol.
O que penso é que alguns adeptos, especialmente aqueles a quem os clubes dão mais importância e confiança, são ditadores e abusadores dessa confiança, e tudo fazem pelo poder e pela vitória do seu clube, nem que para isso seja necessário fazer rolar umas quantas cabeças dentro da seita, para dar o exemplo e sobretudo para demonstrar quem é que manda ali dentro. Parece que para as claques, os clubes existem por elas, para elas. Ganham por elas. É um tremendo engano. Os futebolistas nem se aproximam das jaulas, não sejam eles próprios mordidos.
Mas então, se gostam assim tanto de pancadaria, porque é que não se juntam todos, constroem uma arena de Gladiadores e fazem uns torneios? Acho que seriam muito mais felizes aí, dentro da arena, cada um com o seu fatinho clubístico, à machadada e à catanada ao respetivo adversário.
E podiam mesmo contratar um monte de cheerleaders de boné, para aplaudir e incitar:
- Dá-lhe na cabeça, mô!
- Mô, dá-lhe na cabeça. 

22 de fevereiro de 2014

E o sexo no casamento?

[A certa altura do casamento, as mulheres chegam a ter a menstruação 3 vezes por mês]

 

É a falta de sexo culpada pelo fim das relações, ou é antes a falta de boas relações culpada pelo fim do sexo e pelo fim das relações?
Estamos assim tão mal no sexo marital? É a vida sexual do casal, um deserto sem fim?
Se viajarmos até lá atrás, até à fase troglodita do casamento, aquela em que casar era ter a possibilidade de fazer sexo diariamente, sem a canseira da conquista do outro, em que se praticava um sexo preguiçoso, sem encanto e sem sedução, na posição de missionário e de luz apagada, conseguimos tirar algumas conclusões sobre o que poderá estar a acontecer aos casais desta geração. Falo obviamente dos que ainda têm tesão, ou que pelo menos a podem comprar na farmácia.
Conheci, (e ainda conheço) muitos casais cuja atividade sexual era ditada pelo macho-alfa da relação e que era uma atividade equiparada à preparação do jantar ou ao tirar borbotos das camisolas de lã.  O sexo era uma tarefa doméstica, preferencialmente diária, e muitas vezes de ordem absoluta, em que a mulher era subjugada e orientada desde cedo, pela sociedade e pela família, a acatar sem perguntas os desejos do seu querido marido.
Os tempos mudaram muito, e hoje em dia as coisas são encaradas de outra forma e com outra maturidade. Com a emancipação e a independência financeira das mulheres, estas passaram a dispor do seu corpo a seu bel-prazer, e isso foi a maior das revoluções, talvez a tal revolução sexual que as portuguesas nunca tiveram. E falo aqui de uma coisa que antes simplesmente não existia na vida dos casais, e que se traduzia na impossibilidade da mulher dizer não ao sexo marital.
Hoje a mulher diz não sem se explicar, e o homem também pode dizer não, sem ser conotado de impotente ou maricas, e isso, a bem dizer, veio transformar os casamentos para todo o sempre.
A par disto ou por sua consequência, tende a acabar um dos últimos tabus da nossa sociedade.
O numero de vezes que os casais praticam sexo depois de casados, depende mais da partilha das atividades domésticas do que do amor entre eles. 
O casamento é uma troca diária. Troca-se o passeio do cão, pelo despejar do lixo; o fazer o jantar pelo banho das crianças; o leite do menino pela troca da fralda, e tudo isto é trocado por sexo. É só isto. E nada mais do isto. Se esta troca correr bem, então temos o problema dos casais resolvido.
Só não resolve o problema da falta de amor, mas ajuda bastante em todos os outros casos.
Gostava de fazer perceber que a infelicidade de alguns casais não está tanto na quantidade de vezes que fazem o sexo por semana, mas sim, na miserável relação que têm no desenvolvimento e na partilha, sobretudo na partilha, das tarefas domésticas e de lazer.

Uma relação só baseada em sexo, pode ser muito boa para certo tipo de pessoas, mas só para aquelas que não estão ainda preparadas para perceber que desenvolver um relacionamento duradoiro, desses que as mulheres e os homens gostam, é preciso dar tudo por tudo na relação doméstica e na partilha. Ser um Adónis no sexo, ter um peito musculado como o Hércules, dois palminhos de cara e uma voz sedutora, por si só, não chega para porcaria nenhuma. Se lhe juntas 600 euros por mês na conta, e duas pernas traçadas em cima da mesa da sala à espera do jantar, tens aí o futuro divorciado.
Tenho estado atenta aos casais de longa duração (entre os 7 e os  15 anos de casados) e a verdade é que denoto maior fadiga nos casais que se separam para se divertir, que se separam constantemente para estar com os amigos, que insistem em chegar tarde todos os dias, os carreiristas, os que dividem a carteira ao fim do mês, e os que atiram para cima do outro a maior fatia das tarefas da casa. Para estes casais a relação vai acabar por azedar. E algumas já acabaram por se desfazer.
O caso dos casais, ou de um elemento do casal, que faz(em) a sua relação depender ou basear-se no desempenho sexual ou no número de vezes que pratica(m) sexo, é uma relacionamento que está também condenado à partida. Há  teorias bastantes contrárias a esta conclusão que encaram a diminuição da frequência sexual como o princípio do fim das relações, mas estas teorias estão em grande desuso, já que os novos casais se deparam com uma imensa falta de tempo e estão também eles em grande mutação. Quem fica para trás, agarrado a conceitos antiquados de família, terá grande dificuldade em ter uma.
Para começar, há que ter a consciência e aceitar que o sexo deixa de ser nos casais de longa duração e até nos mais recentes, tão frequente quanto o era no início da relação. E não estou a falar da 3ª idade, estou a falar nos casais novos, com ou sem filhos pequenos ou adolescentes, que trabalham e lutam em conjunto para viver uma vida normal. Que mal tem em fazer sexo 1 vez por semana? E se for 1 vez por mês?
Esta nova condição das famílias e a aceitação desta alteração da vida sexual dos casais, é coisa de grande importância e deve ser muito pensada.
Porquê? Porque esta diminuição é mesmo incontornável, e não é apenas numa única altura da relação, mas em muitas alturas, por vários motivos de ordem pratica, psicológica e até fisiológica, que não interessam agora enumerar, pois que são imensos.
E o que eu vejo é que os casais que entendem isto, são muito mais felizes.
Já aqueles que pensam que casar é só ter possibilidade de fazer sexo diariamente, sem a canseira da conquista do outro, só pensar em si e não tratar das coisas lá de casa, como cozinhar, estender a roupa, ajudar com os miúdos etecetera, então escusa de casar, que lá em casa, a mãe pode faze-los muito mais felizes, e sem perguntas.
Eu não me canso de dizer, que a vida sexual do casal tem dias. Tem fases.
É preciso pensarem bem os motivos que vos levam a diminuir o número de vezes que têm sexo, e serem maduros o suficiente para perceberem se a vossa relação é equilibrada e se estão a contribuir da mesma forma para manter a família unida e feliz.
Às vezes basta abrandar um bocado o ritmo, deixar os miúdos nos avós, faltar ao trabalho numa 4ª feira para irem juntos fazer qualquer coisa.
É que não somos criados uns dos outros, somos companheiros de luta, e na luta lutamos de igual para igual e com as mesmas armas. Isso é justiça. O resto é treta.

É a falta de sexo culpada pelo fim das relações, ou é antes a falta de boas relações culpada pelo fim do sexo e pelo fim das relações?
 
Parece obvia, esta resposta.
Respeito.



21 de fevereiro de 2014

Tele-Percebes

Eu vivia perfeitamente numa ilha deserta, desde que houvesse bicheza do mar ali por perto.
Toda a minha gente sabe a perdição que tenho por marisco. Em tudo o que é jantar ou festa, e sendo eu a  organizar, é mais do que certo que há uma travessa de camarão e uma sapateira escarrapachada no meio da mesa, sempre em grande destaque. Isto se for inverno e não estiver para grandes trabalheiras, porque se for de verão, é mariscada dia sim, dia não, sendo o dia não, dia de caracóis.
Todos os finais de ano, enquanto está meio mundo agarrado às uvas-passas a pedir dinheiro e emprego, eu estou agarrada a uma pata de sapateira a pedir a todos os santinhos que não me apareça o problema do acido úrico ou alguma alergia ao bulhão pato. Às vezes peço também que não me caiam os dentes, e que se por acaso se der essa fatalidade, preserve ainda por muito tempo a minha capacidade de sucção, para conseguir chupar as cabecinhas.
Mesmo que eu quisesse fugir à tentação, o universo haveria de encontrar uma maneira qualquer de me aparecer com o assunto do marisco à frente, mais não seja porque tive a sorte o azar de crescer em frente a uma Lagoa carregadinha de bicheza brava e outros bivalves e ainda de ter um pai que é viciadíssimo na apanha da ameijoa.
Por isso, não tenho descanso. Se estou a trabalhar no computador, às voltas com um articulado, é certo que a cada 10 minutos me chegam 3 ou 4 emails com cupons, grupons e olxons com promoções de lagostas de 5kg que até me saem do monitor aí uns 20 cm para o lado da janela. 
No rés do chão do meu escritório, tenho 2 restaurantes, um de cada lado, e em frente tenho uma mega loja de chineses. Se penso em sair para tomar uma biquinha, zás, aparece logo um chinoca a perguntar se eu sei onde se come aloz de malisco.
Claro está, que estas situações diárias fazem muito mal à minha adição e a partir das 11 da manhã, já só me cheira a canivetes salteados, mexilhões à espanhola, e burriés.
Foi por este assustador fandango diário, qual toxicodependente em estado terminal,  que decidi que iria fazer, a partir de 2ª feira, uma desintoxicação de marisco, mas não sem antes ter ensovacado uma sapateira de 3 kilos, no dia dos namorados.
Mas há coisas na minha vida, que caramba, não lembram ao careca.
Logo na primeira 2ª feira da marisco-dieta, uma alminha que já não via desde o verão, convida-me para ir comer... sushi. Ó valha-me a Nossa Senhora dos Mariscos Aflitos, mas será que a bicheza é karma? É perseguição?
Declinei educadamente. Tinha levado para a marmita uma lata de feijão frade com atum e ovos cozidos, e não iria ceder por um produto de 2ª categoria.
Estava decidida a acabar com esta vida, e às 14.30h tinha já desativado os todos grupos promocionais  do meu e-mail. Às 15.30h, a minha avó, que (só) por acaso se chama Vieira, ao telefone:
- Olá! Por acaso não queres um saquinho de ameijoas que o teu pai apanhou na Lagoa este fim de semana? São cá umas granjolas!!
- Não quero avó, façam vocês.
- Não queres? Ai não queres? Deves estar doente.
Mais uma batalha vencida. Esta última de grande dificuldade, já que adoro ameijoas. Estava obviamente no bom caminho, e pelas 17h, ainda estava tudo calmo.
Às 18h, ligo-me ao facebook. Um post super animado chamou-me a atenção.
Dizia então assim: Percebes. Se alguém quiser, eu arranjo cozidos e levo a casa.
Nunca, mas nunca tinha visto ninguém, perceberam, n-i-n-g-u-é-m, anunciar percebes cozidos no facebook. Tele-percebes no facebook?
Quando dei por mim já lá tinha o meu comentário. "Quero!"
Desolada e desiludida por ter falhado redondamente nos meus intentos, recebi pelas 19.30h à porta do meu escritório, um alguidar de percebes cozidos ainda a fumegar e a cheirar a mar. Toda eu era formigueiro e ansiedade, as mãos tremeliques de tal forma que tive de ir a correr esconder aquilo no frigorífico para não me agarrar à bicheza e ficar a tresandar a pexum no meio de todo um grupo empresarial.
Mas as coisas da minha vida são assim mesmo, imprevisíveis, e quando o meu querido marido me foi buscar ao trabalho e me viu com cara de enjoada, disse-me:
- Tu hoje está com cara de quem está fartinha deste trabalho. Eu também tive cá uma dia, credo!Sabes o que devíamos fazer?
- Ir jantar fora? É que eu tenho aqui...
- Não! Era mesmo largar isto tudo, esta loucura do trabalho, agarrar na miúda e ir para Sesimbra...
- Sesimbra? Hum. Fazer o quê?
- Então, abrir uma Marisqueira.
- ............

 



20 de fevereiro de 2014

Ninguém morre de congestão



Outro mito daqueles que me encanita, é quando as mãezinhas proibem as crianças de ir ao banho por causa da congestão. E o que eu penei com esta moda? À torreira do sol durante 3 horas depois de almoçar uma refeição ultra pesada, como por exemplo, o rabo de uma sardinha e uma folha de alface? 
É que a minha mãezinha, nem os pés me deixava molhar, e se por acaso eu arrotava nos minutos seguintes, era caso de grande preocupação, já que uma congestão poderia fulminar-me a qualquer instante.
- Só na beirinha, ouviste?
- Mas mamã, deixa-me só encher o baldinho.
- Pede ao teu pai!
 
Vamos lá a ver uma coisinha: a congestão, nada mais é do que uma alteração aguda da digestão, ou seja, uma interrupção da digestão. Esta interrupção pode dar-se de várias formas, pode mesmo acontecer se resolvermos andar de bicicleta depois de comer, ou se fizermos um esforço físico demasiado violento, como por exemplo nadar.
Então o que é que acontece verdadeiramente?
O choque térmico provocado pela entrada repentina na água, ou o esforço, pode parar a digestão. Durante a digestão o nosso sangue está direcionado para o aparelho digestivo, para melhorar a absorção dos alimentos digeridos, mas continua circulando em grande quantidade nas outras partes do corpo. Se a digestão para, o sangue que está circulando na cabeça desce para o estômago para ajudar a digestão que ficou comprometida, e todos já sabemos o que acontece a seguir, a pessoa que não oxigena o cérebro perde momentaneamente os sentidos, fica tonta e pode até desmaiar.
Claro que isto só por si não faz grande mossa ao ser humano, que logo utrapassa este episódio momentâneo, mas se acontecer dentro de água, especialmente em zona fora de pé, não há forma de se segurar, cai à água desmaiado ou sem forças no corpo e morre afogado silenciosamente.
Podemos almoçar uma feijoada e ir logo molhar o corpo ou até mesmo dar um mergulho, mas devagar, e com calma a entrar na água, sem loucuras parvas e sem grandes canseiras, e o mais importante, sem sair de pé. Deixar que o corpo se habitue à temperatura da água é o grande segredo para a digestão não parar. A partir daí, não há mal nenhum.

 
Eu, que praticamente cresci dentro de água, e depois de fugir à garras da minha mãe, nunca mais "fiz a digestão". E conheço imensa gente como eu.
Bons banhos. 

Escreve

É precisamente nessas alturas, em que não tens os livros dos outros para te atulharem as ideias com coisas que não te dizem respeito, que tu havias de pegar na caneta e falar sobre ti.
A malta agradece, até porque esses livros da livraria podemos nós ler, mas a tua cabeça é insondável.

O novo Centro de Saúde entrega tudo aos bichos, e seja o que alguém quiser...




Vivo numa vila pequenita, entalada entre dois subúrbios de má cara. Somos cerca de 12 000 alminhas a ficar para o velhote, mas onde as (poucas) crianças ainda teimam em nascer e onde a escola secundária que antes tinha 3 800 alunos, tem a sorte de manter 700 criaturas com esperança no canudo, e quiçá, em viagens pela Europa, num InterRail só de ida.
Pese embora a parca população escolar, o recinto é dos mais bem equipados de Lisboa, tendo sido eleito escola-modelo tecnológico, onde o Sócrates gastou uns bons 5 milhões de euros. Ora 5 milhões para 700 alunos, é só fazer as contas. Tudo estudantes de primeira, estes da minha pequena vila.
Mas a vila, apesar da PDI, ainda não perdeu o fulgor de outros tempos, e os seus munícipes são ainda duros combatentes, especialmente se a saúde ou a educação da criançada é metida ao barulho.
Pouco interessa que a maioria seja uma geração-avô, cuja atividade principal é o passeio matinal da canzoada, e mais à tardinha, o caminho da escola para ir buscar os netos-únicos;  o que importa mesmo é que a população da minha vila gosta de ver tudo arranjadinho e já vi muita gente de balde de tinta e pincel na mão, fazendo melhoramentos na escola primária, alegremente… A população faz o que pode para deixar a sua vila limpa e bonita, e toda a minha gente é de grande participação e consciência cívica.
Acontece que como em tudo na vida, o pacote em boas condições pode esconder o leite estragado. E é precisamente aqui que o gato vai às filhoses.
 Da mesma forma que as pessoas da minha vila fazem grande gosto na construção, renovação e melhoramento dos edifícios privados e  públicos que utilizam, já não podem fazer o mesmo pela qualidade e profissionalismo das pessoas que os gerem e que neles trabalham, e quando lá vão dar com os costados, é como se repentinamente se agigantasse logo ali no balcão de atendimento um Muro de Berlim do tamanho da Muralha da China. E é injusto dar tanto e não receber nada.  
É o caso do novo Centro de Saúde.
Caramba! Que aquilo é uma obra de arte! É o último grito da arquitetura pós-moderna, é um marco da vila, depois de mais de 30 anos a (des) esperar por médicos numa sala cinzenta e fria, olhando horas seguidas para uma caixa de madeira monstra, onde antigamente vivia feliz um televisor a quatro cores. Isto ou uma revista Maria dos anos 60, que tínhamos de partilhar com os delegados de informação médica, que amiúde nos roubavam horas de vida, ocupando os nossos médicos, com a nova versão de um qualquer antimicótico.
Agora não. Agora é só modernidade. Dois pisos, salas aquecidas por AC´s, equipamento para fazer análises ao sangue, espreitar para a uretra ou ver o olho do cú.
Tem também complexas macas esterilizadas em cada um dos gabinetes, preparadas para ajudar a dar à luz (talvez uma gata por ali se encontre perdida) ou para o médico descansar dos seus doentes, quando tem de atender mais de 2 por cada hora.
Pois sim, pois sim. É um admirável mundo podre novo!
Assim que lá cheguei fiquei logo de boca aberta. Tinha, uma nova médica de família, 10 anos depois.
A nossa conversa foi breve.
- Bom dia Sôtora.
- Que queres? Diz-me logo, o que queres?
- Preciso de fazer uns exames, tenho …
- Diz lá, depressa que tenho pessoas. Muitas pessoas.
- Blá, blá, blá, digo eu a correr, como se 10 anos coubessem numa consulta de 5 minutos.
- Sim. Vais fazer o exame para saber que bicho é! É preciso saber que bicho é.
Levanta-se e sai – a impressora que encravou com os meus exames lá dentro, ali ficou engasgada. Aproveitei a ausência para carregar no botão que piscava, e consegui salvar as folhas que me iriam dizer afinal, que bicho me tinha mordido. 
Com mais uma crise voltei às urgências dois dias depois e a pedido da médica, a quem fiz o favor de ligar antecipadamente. Quando lá cheguei não me reconheceu nem se lembrava que me tinha lá chamado 2 horas antes; fez uma cara vaga, e não me atendeu, encaminhando-me com um gesto de mão, como se sacudisse uma mosca, para o gabinete ao lado onde uma outra médica me articulou 3 palavras, sem tirar os olhos do monitor para me dizer que, se não sabia o eu tinha, nada podia fazer...
Estas médicas, que trabalham no melhor centro de saúde de Lisboa, falam-me de bichos, mas na verdade fui eu que fui largada aos bichos.  
A minha pequenina vila tem 4 farmácias, um conservatório de música que é dos melhores do país, uma escola secundária que é quase uma nave espacial, um hospital novo a 5 minutos, duas grandes superfícies comerciais, jardins maravilhosos, parques infantis, duas IPSS magníficas, 2 igrejas, uma delas acabadinha de construir, uma escola de ballet, 50 ginásios com hidroginástica, duas escolas primárias com cantina e ATL e mais uma panóplia de coisas que não lembra ao careca. É uma linda vila onde o alcatrão não engana, onde não há um único pino ou proteção de estrada que não esteja pintado de verde e amarelo, e onde não se ouve uma mosca desde que a minha geração imigrou sabe-se lá para onde.
Mas, no centro de saúde de última geração, há uns médicos que são afinal biólogos que se dedicam a bichos, como por exemplo baratas e insetos, ao invés de se sentarem calmamente com o seu utente para perceber com ATENÇÃO e dedicação aquilo que as pessoas querem dizer.
Eu fiz o melhor que pude, mas ainda não sei que bicho me mordeu.
O Estado fez o melhor que soube, que foi fazer casinhas de luxo para bonecas armadas em médicas.
Então e onde estão os RH desta vida? Quem é que definitivamente mete esta gentinha toda na ordem? Não há por aí nenhum licenciado (no meio dos milhões que já se formaram neste país) capaz de perceber e decidir quem é que deve ocupar estes lugares? Psicólogos para fazer psicotécnicos? Psiquiatras para os avaliar?
Ai, se o inferno são os outros, então o inferno está todo naquele centro de saúde!
É que já nem falo no que está atrás daquela receção, que isso então...

19 de fevereiro de 2014

Os escritores, ah, os escritores

Rita Ferro numa entrevista a AMR:

"Dá-se com alguém aqui na aldeia?
Dou-me imenso. Mas estaria a mentir se dissesse que me sento com o mesmo à vontade consigo ou com um operário cá de casa. Tenho algumas resistências estéticas. Talvez seja um bocadinho classista. Não me orgulho nada, mas é verdade. Depois há gente simples. E o que é que a gente deseja senão a simplicidade, o despojo, as almas límpidas? Mas para as amarmos, teríamos também de amar o que muitas vezes vem a seguir: o palitar dos dentes, o arroto, o cheiro a suor."

"Minha liberdade é escrever. A palavra é o meu domínio sobre o mundo."
Então escreva, minha cara, escreva e cale-se.

Eduardo Nery - Um artista superior, um 'Pessoa' da arte









Tive a grande honra de conhecer pessoalmente o Mestre Eduardo Nery.
Tive ainda o privilégio de conhecer o seu atelier, ainda que postumamente, onde o Mestre trabalhou freneticamente e compulsivamente, numa quase obsessão e numa torrente de criatividade e unicidade que  até hoje poucos alcançaram.
Eduardo Nery foi mais do que um artista brilhante e inteligente, foi também um artista multifacetado e genial, já que percorreu uma grande diversidade de técnicas, da pintura ao azulejo, passando pela tapeçaria, vitral e fotografia. Foi também um colecionador imparável, tendo um espólio muito significativo de Arte Africana, que conta com mais de 800 peças únicas e de grande valor histórico.
Se para alguns é fácil distinguir um Paula Rego de um Pomar ou de um Helena Vieira, pois que cada artista imprime fortemente o seu "traço" e a sua vincada identidade artística, é no entanto muito mais difícil reconhecer uma obra de Eduardo Nery, já que se aprimorou em vários aspetos da arte e da cor. Digamos que Nery foi um Pessoa com os seus heterónimos, que consumou quase que na perfeição cada um dos seus diferentes personagens artísticos. 

A face mais visível da sua obra é a arte pública, ou arte urbana. Neste contexto, Eduardo Nery deixou em várias cidades portuguesas e nos fora internacionais, uma marca indelével, que a sua recente morte ainda não fez jus, mas que o tempo fará o favor de remediar, espero que com grande pompa e circunstância.
Tem no entanto fervorosos admiradores, entre os quais destaco a sua mulher Mª da Graça Nery, incansável na visibilidade pública do artista e na elevação da sua grande obra.
A obra de Eduardo Nery, da qual saliento a técnica Optical Art, é desconhecida do  cidadão comum, que passa e olha a sua arte impressa nas fachadas e nos passeios das ruas da sua cidade, mas não a reconhece.
Assim, e a propósito de uma certa viagem de bicicleta pela Avenida Infante Santo, resolvi deixar aqui as imagens mais comuns do artista, tão nossas conhecidas, mas que muitas vezes não sabemos de quem são. São afinal de Eduardo Nery, esse grande mestre da arte portuguesa.
Deixo neste pequeno espaço um contributo e o meu reconhecimento público que qualquer artista merece, mas me merece sobretudo este, não só porque me encanta a sua obra, mas porque vejo que a sociedade portuguesa ainda não (re)conhece o seu trabalho e a sua genialidade, não por falta de interesse, mas por falta de conhecimento e muito por falta de apoios à Cultura em Portugal.
E é no final, a cultura portuguesa que fica a dever a este grande mestre algumas das marcas mais significativas das últimas décadas.




































E isto ontem fez-me chorar.



O vídeo é em Espanhol, mas percebe-se perfeitamente.
Cuerdas é um curta de animação inspirado nos filhos do seu criador, Pedro Solís, que tem uma filha apaixonada pelo irmão com paralisia cerebral.
Vencedor do Goya, em 2014.

18 de fevereiro de 2014

Carta Aberta a João Miguel Tavares: Da despenalização do aborto.

Hoje, quando passei os olhos pela atualidade, na minha habitual revista de imprensa, dei de caras com este artigo do João Miguel Tavares, que me deixou a modos que, indisposta.
Diz o ilustre Senhor, que apesar de ser contra o aborto - e até entende (mal) que a mulher tem direito a dispor do seu corpo - este só  deveria ser praticado desde que não o fosse em hospitais públicos, com o dinheiro de todos, incluindo daqueles que entendem que o aborto é a morte de um ser humano.
Na visão deste ilustre Senhor, as mulheres que decidem abortar, independentemente dos motivos para tal, mesmo que apoiadas na lei vigente, aprovada por referendo popular, gastam com esta pratica o dinheiro de todos, incluindo o dinheiro daqueles que são contra o aborto, ou seja, o dinheiro dele. 
Mas então, vamos lá ver: por essa ordem de ideias, as pessoas que não sofrem de cancro também não deveriam ser chamadas, através dos seus imposto, a pagar tratamentos para pessoas que sofrem dessa doença. Terão estas pessoas alguma culpa de as vítimas de cancro do pulmão fazerem disparates como por exemplo, fumar? Eu por exemplo, sou totalmente contra o cancro. Odeio o cancro. Por mim desaparecia imediatamente da face da terra. É ultrajante. É contra-natura, mata pessoas, e mata muitas.  
Sendo contra, não quero gastar dinheiro dos meus impostos com essas pessoas que precisam de gastar dinheiro com o cancro.
Será que o Senhor J.M. Tavares percebe o alcance das minhas palavras?
Posso ir um pouco mais além, se quiserem. 
O Senhor J.M. Tavares não engravida, já que a natureza foi magna nesse ponto, logo, e bem vistas as coisas (sob a sua perspetiva)  a que propósito há de pagar os partos que se fazem nos hospitais públicos, se deles não tem qualquer responsabilidade? E os partos dos cidadãos estrangeiros? 
Ainda mais absurdo se torna, quando assume que só se faria justiça social se ao invés de ser o Estado a pagar as despesas decorrentes da IVG, fosse antes chamada a Sociedade Civil pró-aborto a pagar (em clínicas privadas) esta IVG. Está então dizer que todos os que votam a favor de certa política social ou de certo partido político devem pagar as despesas daí decorrentes.
Dou um exemplo simples: a co-adoção por casais homossexuais. Deveriam também ser eles (os que votaram SIM) a pagar todas as despesas resultantes do processo de adoção, e ainda as que decorrem da educação da própria criança adotada? Então e os que são contra? Demitiam-se assim "democraticamente" da sua responsabilidade? Mas e o voto não é secreto? Como é que o Senhor J.M. Tavares pensa fazer isso, de se saber quem votou contra ou a favor? Talvez seja (mais) um iluminado.
O texto que verteu, que soma e segue num chorrilho esdrúxulas "opiniões pessoais", conclui que o Estado, depois de despenalizar o aborto, deveria ter-se afastado desta matéria. Na opinião deste Senhor o Estado despenalizava o abordo e depois, como Pilatos, lavava daí as suas mãos.
Obviamente que não conhece a realidade, pois que vive dentro de uma redoma opaca e cínica, e talvez não saiba que desde que o Estado (esse malandro) tomou as rédeas da situação, que os custos com a IVG desceram drásticamente para os contribuintes. Não falando evidentemente das vantagens para as mulheres, pois que nada sabe sobre o tema, e nem sequer é mulher para se preocupar com isso.
Pergunto-me se já falou com algum médico sobre o tema, desses que gerem os hospitais? Pergunto-me ainda se saberá que os custos sociais e pessoais de uma mulher que faz um aborto sem condições médicas regulares e assistidas, muitas vezes perdendo a sua capacidade reprodutora ou a vida, são muito mais elevados para os contribuintes do que a que IVG pontual no hospital? 
Então e os milhares de crianças indesejadas que são abandonadas e até mortas, ou se tornam adultas em orfanatos decadentes e degradantes? E as que nascem sob o síndroma de privação, filhas de heroinómanos e outros toxicodependentes e/ou portadores de HV1/Sida? 
O Senhor J.M. Tavares, na minha opinião, ao invés de se virar contra a IVG paga pelos contribuintes, deveria antes lutar (com a mesma convicção) pela isenção de taxas moderadoras para o parto.
Caríssimo João Miguel Tavares, eu acho que o ilustre Senhor perdeu uma espetacular oportunidade para estar calado, mas antes diga-me caro Senhor, como é que sabe com tanta certeza que a mulher que interrompe a gravidez no hospital tem os mesmos privilégios da que deu à luz no hospital? Sabe o que são privilégios, ou acha que privilégios são apenas o que se relacionam com o capital?
Senhor João Miguel Tavares, pai de 4 filhos (começados e não acabados) tenha paciência e informe-se corretamente: o aborto só é gratuito em Portugal para as mulheres menores de 18 anos. Todas as outras pagam as taxas moderadoras em vigor.

17 de fevereiro de 2014

World War II: The Holocaust in 900 pictures


 
 
Para que o mundo não esqueça jamais, e para que os Homens não permitam que aconteça de novo, é preciso lembrar, e lembrar, e lembrar, a esta nossa memória global que teima e que esqueçe, tantas vezes, que a morte de milhões de INOCENTES, agora como então, deverá servir para alguma coisa.

Para ver AQUI.


Atenção: Todas as imagens desta entrada são mostradas na íntegra e não foram sujeitas a alteração gráfica. As fotografias são muito fortes e têm uma componente psicológica muito carrregada e suscetível de impressionar as pessoas mais sensíveis (e até mesmo as menos sensíveis).

 
 
 
 

 


15 de fevereiro de 2014

Maçã? de Adão.

Sabem aquelas coisas que nos apanham de surpresa, e que nos fazem abanicar a cabeça, como se duvidássemos do que temos lá dentro e se o que ouvimos é realmente verdadeiro?
Pois bem, vou deixar-vos aqui um desses momentos:
A maçã de Adão, aquela que ele comeu no Paraíso, não era uma maçã, era um dióspiro!
A sério. Não vale a pena virem com coisas, que a lógica é simples.
Dióspiro = Diospyros = Fogo de Deus
Foi o dióspiro que adão mordeu, oferecido por Eva para que se reproduzissem.
Além disso era quase impossível haver maças naquela zona do globo, já que as maças são originárias da Ásia.


Foram enganados? Temos pena...



14 de fevereiro de 2014

Pão nosso de cada dia..

O pão, especialmente o pão alentejano, aquele que se aguenta 15 dias sem sair beliscado no sabor,  é desde miúda o "petisco" que mais gosto de comer, e sempre com grande prazer.
É daquelas coisas que me enche a blusa, o ser e a alma e que, se feito dentro de portas, fresquinho, para se derreter tão somente numa manteiga de azeitão, ou numas azeitonas pisadas, é dos melhores pretextos para juntar os amigos à mesa, tertuliar e degustar, se possível na companhia de um bom queijo, de uma boa chouriça, e de um vinho, desses que se fazem cá na casa. 
 
 
 
Não sou a única a quem o pão deixou há muito, uma marca indelével e vincada na memória, sobretudo para aqueles que viveram os tempos do Alentejo das nossas avós, que de lenço na cabeça e mãos experientes, amassavam a massa e manejavam a pá e o fogo do forno, como se tal tarefa fosse magna, e de todas a mais importante, daqueles tempos agrestes e rudes, mas ainda assim, envoltos em grande magia.
Tenho maravilhosas memórias de criança à volta do forno de lenha, e vejo, como se fosse hoje, a minha bisavó fazer bolinhas pequeninas de pão, que eu molhava no azeite com alho e sal, ou barrava com banha de porco salpicada de açucar.
E porque é do pão que reza a história, decidi deixa-vos um endereço onde podem deliciar-se com o grandioso manjar. A "Zine de Pão", surgiu nas minhas longas deambulações virtuais e não só, numa altura em que sonhava ter uma mercearia gourmet.  Encontrei por acaso um blog novinho em folha (agora com 4 anos) de um padeiro amador, emigrante em França,  fascinado por pão e especialmente pelo pão feito de um modo artesanal, em casa.
É um blog muito interessante, que através de filmes, fotos e links interesantes sobre o tema, nos transmite de forma simples as técnicas que já foram por ele  testadas, uma e outra vez, e nos ensina pequenos truques de como fazer pão no forno da nossa casa, tão delicioso como se de um forno a lenha se tratasse.
Não se acanhem e explorem bem o blog, especialmente nas postagens mais antigas onde podem ver como se faz o delicioso pão alentejano com aquele saborzinho a azedo, e onde há lugar, evidentemente, para as pizzas, os croissants, as baguetes e tudo e tudo.  
Deliciem-se Aqui!!
 


UMA PASTILHA EFERVESCENTE A CAIR NUM COPO DE ÁGUA (Do ponto de vista da Pastilha - Inspiração "Os Maias")

A noite chegara fria, de semblante carregado, como se fosse Lisboa, em dia de despedida de soldados.
Depressa demais, diria eu, como diriam decerto todas as mães que choraram os seus filhos em vésperas de partida para a guerra.
Estava certa disto e de muito mais. Sabia por exemplo, que quando o malvado cuco de parede, saísse de rompante das portinholas de talha dourada piando histérico o sinal, a Senhora Dona Maria Augusta da Conceição Galhardo, filha ilegítima do falecido Senhor Celestino Galhardo, ao ouvir o sinal estridente do pássaro, que zunia na parede do retábulo, me iria engolir sem dó nem piedade.

Não seria pois, de nenhuma surpresa para mim, a cena que se iria passar, dali a menos de nada.

Nas noites anteriores, havia já reparado na forma como a Senhora Dona Maria Augusta pegava no copo dos remédios e junto à janela, ensovacava as pastilhas.
Era um copo vermelho de pé alto que lhe servia os intentos, mas não era um copo qualquer. Na base vestia-se de uma fina renda de bilros para não riscar as finas mobílias da família, e o brilho ensanguentado que projetava no tampo da mesinha, fazia-me sempre lembrar o assassinato do pobre Senhor Galhardo, ali morto, com um tiro certeiro na têmpora esquerda. 
Era nesta macabra dança noturna, quando ela encostava delicadamente o copo vermelho ao gargalo do arão de cristal, ali vertendo a água morna, é que me convencia que a delicada senhora era pois, totalmente indiferente aos calafrios que provocava em mim, uma magra e seca pastilha efervescente, e que pouco tardava para me fazer desaparecer, goela abaixo, de um trago.
Perdida que estava nos meus pensamentos, nem dei conta do resfolegar dos ponteiros do relógio, que corriam como cavalos, em direção à hora marcada.
De súbito, sai-me o estridente cuco  da parede! Cu-Cuh! Cu-Cuh! A Senhora levanta levemente a cabeça, e semicerrando os olhos como que para ter a certeza do que via, mete a mão direita ao bolso e traz-me lá de dentro apertada entre os dedos, como se ali guardasse o seu melhor pergaminho.
Vi-me assim nesta situação, e na minha cabeça, surgindo a sinapse da esperança, vi bailar uma imagem deliciosa: ela tropeçava no vestido comprido, e abrindo a mão para se segurar, deixava-me voar janela fora. Oras! O etéreo pensamento que depressa apareceu, mais depressa se esfumou!
As janelas de guilhotina que traziam de fora os ruídos da cidade, estavam há dias fechadas, não tanto por causa do frio que se fazia sentir, mas essencialmente para proteger a Senhora Dona Maria Augusta dos ouvidos afoitos da Rua da Palma, onde era fácil espreitar ao R/c e perceber as novenas que a Senhora dedicava aos 8 santinhos da sua devoção. E se lhe vissem então o extraordinário número de velas que se encontravam acesas desde as 5 da manhã, haviam de pensar que a mulher iria a qualquer altura, imolar-se pelo fogo.
A fuga, essa, ficava ali, cristalizada no pensamento.
Nisto, a Senhora sentindo um estalido surdo, estancou. Na parede, o estúpido cuco ficara entalado entre as duas portinholas, fazendo agora um ruído estrangulado. Nem para a frente, nem para trás! A Senhora, condescendente, encolheu os ombros e deixou ficar o pássaro de asas abertas, refletindo a sombra disforme na parede do fundo.
Melhor assim. Acabava-se-lhe a exultante e profícua tarefa. Dali não sairia nem mais um pio.
E é nesta envolvente atmosfera, pouco arejada e de fumeiro, que a Senhora Dona Maria Augusta, com uma calma paciente, lembrando uma gota que cai languida na língua de um gatinho, pega no copo dos remédios e chega-o para si como que confirmando se lhe deitara a água, e esticando o braço fino em direção à luz da janela, vira para baixo a palma da mão onde me tinha colocado, fazendo-me cair dentro da água, onde em poucos segundos me desfiz em pó, salpicando efervescente o nariz da suave senhora.  
Tentei sôfrega gritar, mas não percebi que tal ato era tão inútil como fechar uma janela partida. Dona Maria Augusta já não me ouvia.
Já dentro daquilo que julgava ser o pescoço da Senhora, tentei ainda um último grito, mas esta, habituada que estava às efervescências da vida, logo pega noutro copo cheio de água, e decidida, acaba com tudo.
Diabo! Maldita constipação.

13 de fevereiro de 2014

É já amanhã que os namorados se assumem.

 
 
Aqui está a prova de que a Uva ainda é romântica, embora prefira, de longe, um jantar de marisco acompanhado de uma flute de Planalto, numa qualquer marisqueira de Lisboa.

No Principe Real em Lisboa, a tarde fica por conta de um mercado muito catita(12h - 22h) de peças de design, moda, arte e joalharia e ainda ... flores.
A partir das 16h haverá Dj´s a dar musica aos namorados no chamado Baile do Amor, e a partir das 19h, mais coisa menos coisa, começam os blind dates para aqueles que quiserem mesmo um namorado/a para o dia.

É só love.

11 de fevereiro de 2014

Finito!

Em 25 anos aconteceu tanta coisa na nossa vida.
Tinha 14 anos quando mudámos de casa. Deixámos para trás uma casinha de 2 assoalhadas com quintal, onde fui uma criança muito feliz, mas onde uma cama na sala, que ficava escondida no móvel da televisão, era já apertada para o tamanho das minhas pernas, e para a intensidade dos nossos sonhos.
A decisão de se comprar uma casa só nossa, foi um passo pequeno para a humanidade, mas foi um mortal encorpado à retaguarda passo gigante para nós!
A nova casa de três solarengas assoalhadas, respirava juventude e contrastava em muito com a cave pequenina e cinzenta que deixámos para trás. Perdeu-se a nespereira, o pessegueiro e os alperces, e o baloiço que tantas alegrias me deu, lá ficou pendurado a baloiçar, com o vento.
Naquele tempo, comprar uma casa era uma coisa muito especial, e foram precisas muitas noites na mesa da cozinha a fazer contas, a projetar, a temer e a sonhar, para que tudo se concretizasse. A minha mãe, verdadeira mentora de todo o plano, transpirava vontade e querer, e foi por ela que mergulhámos nesta loucura. E que bela loucura.
Naquele tempo, uma hipoteca no banco era como lamber uma carcaça com tulicreme. Arranjava-se uma entrada, e o resto logo se via. Havia tempo para deixar tudo em ordem, e lá para o meio, se a vida nos trouxesse, e traria, boas novas, talvez se conseguisse amortizar qualquer coisa.
Foi uma constante amortização, esta que passámos os três, em 25 anos.
A faculdade, a viagem ao brasil no fim do curso, as férias, os penteados novos, os bailes, muitos ténis all-star, e muita coisa que foi adiando justamente e naturalmente, uma amortização que nos parecia ao início, tão fazível.
Durante todo este tempo, a casa que chegou a custar, à época, mais de metade do vencimento do meu pai, que tudo suportou e tudo fez para que nunca faltasse uma renda e para que nunca nos faltasse nada, continua a ser, tantos anos depois,  o meu porto de abrigo.
Em 25 anos aconteceu tanta coisa na nossa vida.
Mas a vida reserva a todos nós, grandes acontecimentos, dificuldades e traições, que vamos colecionando e remoendo, e a nossa casa, que tanto esforço exigiu de todos nós, esteve em grande perigo.
Foi necessário usar de muita sabedoria para conseguir que se mantivesse na família, depois da fúria bancária quase se apoderar de uns pobres e inocentes fiadores, chamados "meus pais".
Felizmente e justamente - que a vida prega partidas mas também trás muitas felicidades - depois de muitas lágrimas e de muitos nervos, os meus pais foram hoje ao banco para finalmente pagar o que restava de uma imensa hipoteca, saldando definitivamente a sua dívida-magna, para se  apoderarem definitivamente da sua alegre casinha.
É uma data memorável esta.
É um objetivo gigante na vida de um casal. Pagar a sua casa com o suor do seu trabalho, gozá-la de pleno direito, e ter a partir de hoje a certeza absoluta que ninguém, por mais miserável que seja, por mais mesquinho que seja, nos pode roubar JAMAIS, o sonho de uma vida!
Parabéns pais!
São um exemplo de perseverança e resiliência.
Que sirvam de exemplo aos muitos, imensos, que andam a brincar às casinhas, com o dinheiro dos outros.
Weeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!